Europa restringe comércio de diamantes russos que financiariam guerra na Ucrânia

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Todos os anos a Rússia arrecada entre US$ 4 bilhões a US$ 5 bilhões com o comércio de seus diamantes brutos, cifras que estariam contribuindo para o financiamento do conflito. Um funcionário mostra um raro diamante bruto de 242 quilates, que será oferecido no 100º leilão internacional da produtora de diamantes Alrosa, controlada pelo Estado russo, durante uma apresentação em Moscou, Rússia, em 25 de fevereiro de 2021.
REUTERS – TATYANA MAKEYEVA
As sanções contra os diamantes russos comercializados na Europa, principalmente na cidade da Antuérpia, na Bélgica, estavam na mira da União Europeia há meses. O setor, que é uma fonte valiosa para Moscou, pode estar financiando a guerra na Ucrânia. O anúncio sobre a restrição do comércio das pedras preciosas exportadas pela Rússia chegou direto de Hiroshima, no Japão, onde os líderes do G7 estavam reunidos.
Todos os anos a Rússia arrecada entre US$ 4 bilhões a US$ 5 bilhões com o comércio de seus diamantes brutos, cifras que estariam contribuindo para o financiamento da guerra na Ucrânia. Considerado um dos setores mais lucrativos para Moscou, os diamantes são o terceiro produto de exportação do país, depois do petróleo e do gás, e até então estavam sendo poupados das sanções do bloco europeu. O motivo era a resistência do governo da Bélgica que tentava proteger o principal centro de vendas de diamantes do mundo na Antuérpia, a segunda cidade do país.
Quase um terço dos diamantes comercializados na Antuérpia vêm da Rússia. Em 2020, mais de € 1 bilhão em diamantes russos passaram pelo porto flamengo. A relutância do governo belga em proibir as importações de diamantes russos indignou a Ucrânia e seus apoiadores na União Europeia. O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky inclusive lançou um apelo: “a paz é mais importante do que os diamantes russos vendidos na Antuérpia”.
“Os diamantes russos não são eternos”
As sete maiores economias mundiais decidiram aumentar a pressão contra Moscou e “privar a Rússia da tecnologia, equipamentos industriais e serviços que apoiam a máquina de guerra”, conforme o comunicado divulgado em Hiroshima, no Japão. O Reino Unido anunciou sanções contra o setor de mineração da Rússia com proibições às exportações de alumínio, diamantes, cobre e níquel.
Logo depois, o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, informou que a União Europeia vai impôr a restrição do comércio de diamantes russos para “desligar a Rússia de seus financiadores”, e afirmou em tom de ironia que “os diamantes russos não são eternos”.
Bruxelas estava resistindo à proibição das pedras preciosas por receio de que as sanções apenas desviariam o comércio da Antuérpia, sem realmente prejudicar o financiamento da guerra de Vladimir Putin. Atualmente, a Antuérpia negocia 85% dos diamantes brutos e 50% dos diamantes lapidados do mundo, o equivalente a US$ 50 bilhões anuais. Antes da guerra na Ucrânia, os diamantes russos representavam cerca de 25% dos diamantes que entravam na Antuérpia.
Reação e impacto
Moscou minimizou o impacto das sanções da União Europeia e do Reino Unido contra o comércio dos diamantes russos, afirmando que o mercado oferece outras alternativas. A Rússia tem as maiores reservas de diamantes naturais do planeta e as sanções do bloco europeu visam a Alrosa, grupo de empresas de mineração dos governos federal e regional russos.
O plano de Bruxelas é adotar um sistema internacional para rastrear a origem das pedras preciosas reduzindo assim as encomendas a fornecedores russos. De acordo com o Antwerp World Diamond Center, as sanções podem ter um impacto significativo no negócio de diamantes.
“É um golpe que deve prejudicar a Rússia, mas há uma chance de causarmos mais danos a nós mesmos. Os russos podem facilmente negociar seus diamantes com países não pertencentes à União Europeia”, como Dubai e Índia, por exemplo, segundo fontes oficiais.
Para a entidade, as sanções podem provocar 10 mil desempregos na Antuérpia.
Antuérpia, capital mundial dos diamantes
A Antuérpia comercializa as pedras desde o século 15 e é considerada a capital mundial dos diamantes graças à fama que a região conquistou com o comércio da pedra preciosa. Os comerciantes da cidade foram aos poucos adquirindo prestígio e reputação pela qualidade dos diamantes que selecionavam, e pela excelência na lapidação e polimento. Até mesmo o rei Francisco I da França, grande patrono das artes, preferia encomendar trabalhos aos mestres lapidadores da Antuérpia do que nas oficinas de talho de Paris.
Ao longo do século 16, a Antuérpia era a cidade mais rica da Europa e por seu porto circulavam 40% das mercadorias do mundo. Estrategicamente localizada, às margens do rio Escalda com acesso privilegiado para o mar do Norte, a cidade se tornou um importante eixo de trânsito comercial entre a Europa e as Índias. Na época, as Índias eram as principais fornecedoras de diamantes brutos. No mesmo período, os judeus que fugiam das expulsões e perseguições em Portugal e na Espanha encontraram refúgio na Antuérpia.
Na Europa cristã, eram poucas as profissões permitidas aos judeus. A lapidação de diamantes era uma delas. Assim a Antuérpia se transformou rapidamente em um importante centro diamantário. O comércio de diamantes na Antuérpia foi afetado pela Depressão dos anos 1930 e desapareceu durante a 2ª Guerra Mundial mas foi retomado logo após o fim da guerra.
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