Confira porque frutas e verduras ficaram tão caras em Goiânia

A Prefeitura de Goiânia, por meio do Programa de Defesa do Consumidor (Procon Goiânia), divulgou em janeiro uma pesquisa que revela uma variação de até 250,63% nos preços de 20 produtos, incluindo frutas e verduras, em nove supermercados na capital.

O Jornal Opção foi investigar os preços nas feiras livres da cidade e conversar com clientes e feirantes para entender como está o custo nesses locais e se houve uma diminuição nos valores.

Foi observado que a banana é a principal vilã da inflação, com preços nas feiras variando entre R$ 12 e R$ 15 o quilo. Além disso, o mamão, a manga, o abacate, a uva e a goiaba também estão contribuindo para o aumento dos preços. O tomate e a vagem também têm influenciado nessa elevação. A reportagem visitou as feiras dos Setores Oeste e Jardim Liberdade, localizadas na região Noroeste da capital.

Feira do setor Oeste

Neto Saraiva é feirante há mais de 30 anos, com especialidade em verduras. O comerciante garante que, em todo esse tempo, nunca viu preços tão altos. Neto Saraiva aponta como um dos principais fatores a falta de mão de obra. “Ouço produtores reclamarem que não estão conseguindo achar pessoas para trabalhar nos serviços braçais. É oferecido até R$ 20 por caixa de vagem colhida, por exemplo, e dependendo da habilidade do trabalhador, dá para colher até dez caixas, ou seja, isso dá em torno de R$ 200 por dia, mas não acha mão de obra”, conta.

Outro fator para o aumento dos valores, de acordo com Neto Saraiva, é a falta do produto. “É a lei da oferta e da procura. Se tem pouca mercadoria, o preço sobe; se tem muita mercadoria, o preço baixa, é assim que funciona. O produtor está exportando quase tudo”, explica.

João Silvestre Alves, advogado e morador do setor Oeste, avalia que está tudo muito caro desde o fim do ano passado. “As coisas praticamente dobraram de preço, na feira e no supermercado. Eu fico pensando como está a situação das pessoas com menos condições financeiras, porque eu, graças a Deus, tenho uma boa renda, mesmo assim não está fácil”, diz.

João Silvestre diz que tudo está muito caro l Foto: Cilas Gontijo/ Jornal Opção

O advogado explica que não deixou de comprar nada, porém, teve que diminuir a quantidade de cada produto. Ele reclama do preço da banana, que é um dos itens que mais tem sofrido inflação. “Olha só, compro aquilo que realmente eu preciso e é essencial para minha saúde, mas a banana a R$ 15 o quilo está ficando inviável”, argumenta. João Silvestre ressalta que a atual situação econômica do país colabora para a alta dos preços dos alimentos.

Para Floriano Kazuo Takagi, que trabalha com folhagens desde criança, o grande vilão das hortaliças é o preço dos insumos, como o adubo. Ele relata que a chuva lava o adubo colocado nas plantas, sendo necessário realizar o processo várias vezes por dia. “Além disso, nessa época, a planta não se desenvolve, ficando raquítica e, infelizmente, refletindo no preço final da folha”, informa. No entanto, Floriano garante que os clientes reclamam, mas compram.

Marta Lúcia Iqueda e o marido Roberto Iqueda estavam comprando alface na banca de Floriano e reclamavam do preço. “Moço, por que está tão caro assim?”, perguntava ela ao vendedor. Lembrando que o maço da folha estava sendo vendido a R$ 15. Para Roberto Iqueda, a política econômica do país está causando elevação no preço dos alimentos mais essenciais para qualquer pessoa.

O preço do tomate tem puxado a inflição para cima l Foto: Cilas Gontijo/Jornal Opção

Ana Lúcia vende bananas há mais de 20 anos e reconhece que o preço está muito alto. “Realmente, o valor está acima da média, eu nunca vi desse jeito. Mas não podemos fazer nada, porque também estamos comprando mais caro.” A feirante relata que às vezes, para não perder a mercadoria, precisa vender ao preço de custo.

Romoaldo Magalhães comercializa frutas há aproximadamente 25 anos e confessa que a movimentação na feira tem caído nos últimos dias. “Mesmo aqui, que o povo tem mais condições financeiras, as vendas diminuíram. Pessoas que compravam duas mangas agora só compram uma e assim por diante. E com isso, o meu lucro também despencou”, reclama. Romoaldo culpa o governo federal e sua política econômica. “O povo está com medo de investir e está faltando produto”.

Romoaldo ressalta que os preços vêm subindo desde 2023. Há décadas trabalhando nesse ramo, frisa que já viveu muita época difícil, mas que nunca tinha visto nada como agora. “Faço feira em bairros considerados nobres e em bairros considerados periferia, porém, não está tendo diferença nos preços. Eu nunca vi, por exemplo, o pessoal rico reclamar do preço igual estão agora – isso é um alerta”, relata.

Maria Luíza, 72 anos, é professora aposentada. Ela ressalta que está difícil comer as frutas que ela necessita para ter uma qualidade de vida melhor. “Moço, está tudo muito caro, fico com pena das pessoas mais pobres, como estão fazendo. Olha o preço do arroz, que é um item básico para qualquer pessoa. Onde já se viu um mamão custar R$ 12?” Questiona.

Feira do Jardim Liberdade – Região Noroeste

O vendedor de frutas Leonardo Monteiro disse que, às vezes, para não perder produto, precisa fazer promoções com preços abaixo do custo ou até mesmo fazer doações. “Nossos produtos são perecíveis e perdem se não vendermos rápido, e isso significa prejuízo. Sem contar que as pessoas não estão mais levando tanta coisa como faziam. Estão comprando bem menos desde o ano passado”, afirma.

A administradora aposentada Maria Aparecida, de 70 anos, diz que é preciso muita fé para o salário multiplicar. “Além das frutas e verduras, tem o restante da cesta básica que está com o preço nas alturas. Não sei como nós, pobres, estamos vivendo, só pode ser um milagre mesmo”, garante.

Cliente preciosa de jogo de cintura na hora de comprar l Foto: Cilas Gontijo/Jornal Opção

O aposentado Ervandro da Silva, 65 anos, desistiu das bananas quando perguntou o valor. Questionado sobre o motivo da desistência, ele imediatamente respondeu: “Não tem condições, já faz mais de cinco meses que está assim. A banana é um alimento essencial, principalmente para nós idosos, mas não consigo comprar desse preço”, lamenta.

Daniel Alves é feirante há 12 anos e sempre trabalhou com a venda de abacaxi. Ele conta que nunca passou por uma época tão complicada. “Eu pagava em uma peça grande cerca de R$ 3, agora é no mínimo R$ 8. Já teve vez que eu praticamente doei minha mercadoria porque, senão, o prejuízo seria maior. Estou pensando seriamente em mudar de ramo se as coisas não mudarem para melhor urgentemente”, assegura.

Daniela Fernandes, 30 anos e mãe de três filhos, é enfática em dizer que os preços estão muito altos. “Antigamente os preços subiam, mas logo voltavam ao normal, agora dessa vez parece que não vão cair. Queria comprar um tomate, mas está impossível nesse valor de R$ 10 o quilo”, desabafa.

Ceasa

Josué Lopes Siqueira, Gerente da Divisão Técnica da Ceasa, explica que os preços estão realmente elevados desde setembro do ano passado. Ele destaca que a entressafra contribuiu para a alta no preço da banana. “A banana-maçã puxou o preço para cima e, com isso, as outras variedades de banana, como a prata, tiveram um aumento expressivo”, afirma. No entanto, Josué Lopes ressalta que, a partir deste mês, o consumidor já perceberá uma diminuição desses valores.

Quanto à folhagem, Josué Lopes reitera que o período chuvoso é o responsável pelo aumento nos preços das hortaliças. Ele destaca que, em relação às verduras, as demandas de outras regiões do país fizeram com que os preços sofressem reajustes para cima. “O tomate, a cenoura, o pepino, a vagem, cebola e beterraba. Alguns preços estão fora da realidade, como é o caso da vagem que está custando R$ 300 a caixa. No entanto, essa é a lei da oferta e da procura. É assim que funciona o mercado”, diz.

Josué Lopes salienta que nada está barato e isso parece ser uma tendência para o futuro. No entanto, ele lista alguns produtos que estão mais acessíveis para o consumidor, como o repolho e a abóbora cabotiá, mas, segundo ele, são poucos esses produtos.

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