MP faz operação para prender dirigentes de empresas de ônibus de SP suspeitos de ligação com crime organizado

Ação ocorre na manhã desta terça (9) na capital e no interior. Ao todo, são quatro mandados de prisão preventiva e 52 de busca e apreensão. Investigação aponta ligação com a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC). O Ministério Público de São Paulo deflagrou na manhã desta terça-feira a Operação Fim da Linha para cumprir 4 mandados de prisão preventiva e 52 de busca e apreensão contra dirigentes de duas empresas de ônibus da capital suspeitos de ligação com a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC). As ações ocorrem na capital, Grande São Paulo e em cidades do interior paulista.
A Justiça de São Paulo determinou ainda que a SPTrans, estatal de transporte coletivo da capital, assuma imediatamente a operação das linhas administradas pelas empresas Transwolff, que atua na Zona Sul, e da Upbus, que administra linhas na Zona Leste. Juntas, as duas companhias transportam cerca de 15 milhões de passageiros por mês.
As decisões judiciais estabelecem também o bloqueio de bens dos investigados, no valor máximo de quase R$ 600 milhões. Os dirigentes das empresas devem se afastar dos cargos e cinco deles, ligados á Upbus, terão de cumprir medidas medidas — entre elas a proibição de frequentar a empresa de se ausentar da cidade sem comunicação prévia à Justiça.
Participam da operação de hoje as polícias Civil e Militar, a Receita Federal e o Conselho Administrativo de Defesa Econômica, o Cade, órgão vinculado ao Ministério da Justiça e Segurança Pública que fiscaliza e combate abusos de poder econômico.
Durante quase cinco anos de investigação, os promotores do grupo de combate ao crime organizado (Gaeco) reuniram indícios de que as empresas eram usadas pela facção criminosa para lavar dinheiro do tráfico de drogas e de outros crimes.
A suspeitas de que o crime organizado estava infiltrado no transporte público de São Paulo vêm desde os anos 1990, quando parte do sistema era operado por perueiros clandestinos, que faziam o trajeto entre os bairros mais afastados e os terminais de ônibus.
Em 2003, a Prefeitura da capital transferiu a operação das linhas para a iniciativa privada. Parte do sistema ficou com as grandes empresas de ônibus e os itinerários mais curtos passaram a ser feitos por cooperativas. A maior delas era a Cooperpam, com sede na Zona Sul.
Ao longo dos anos, segundo o MP, os dirigentes dessa cooperativa montaram uma empresa e passaram a pressionar e até ameaçar os cooperados a transferir o controle da cooperativa para essa outra companhia, chamada de TW ou Transwolff. Além disso, segundo os promotores, os diretores se apropriavam de parte da remuneração dos cooperados.
Dez anos depois, em 2013, quando o primeiro contrato de permissão da Prefeitura chegou ao fim para todas as empresas, a Transwolff conseguiu assinar um contrato emergencial, que foi prorrogado durante anos, devido a um impasse no processo de concessão.
Só em 2019, depois que o TCM liberou a licitação, a Prefeitura da capital assinou 32 contratos para a concessão das linhas de ônibus da cidade, por um prazo de 15 anos.
No caso da Upbus, o Ministério Público afirma que os diretores integram a cúpula da facção criminosa. Um dos donos da empresa era Anselmo Bicheli Santa Fausta, conhecido como “Cara Preta”. Anselmo foi assassinado e degolado em dezembro de 2021. A cabeça dele foi deixada em uma praça do Tatuapé, também na Zona Leste.
Os promotores também descobriram que outros chefes da facção criminosa fazem parte da direção da Upbus. Dois deles aparecem entre os sócios: Alexandre Salles Brito, chamado de Buiú, e Claudio Marcos de Almeida, o Jango. Eles já foram alvo de investigação por crimes graves como homicídios, tráfico de drogas, sequestros e roubo a bancos.
Parentes dos investigados também entraram para a sociedade. Segundo a investigação, eles têm profissões ou exercem atividades econômicas incompatíveis com o capital investido na Upbus.
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