Fã que deu beijo em Katy Perry no Rock in Rio diz que quer se afastar de imagem ligada à artista: ‘Encerrar esse ciclo’


Júlio Cesar de Salvo, morador de Sorocaba (SP), subiu ao palco do festival em 2011 e, desde então, afirma ter vivido uma ‘fama momentânea’, mas que chegou o momento de deixar de ser conhecido como ‘Júlio Fã da Katy Perry’. Júlio subiu ao palco do Rock in Rio de 2011 e beijou o rosto de Katy Perry
Flavio Moraes/g1 e Arquivo pessoal

“Qual é o seu nome?” “Júlio.” “Julian?” “Júlio.” “Juli-oh. De onde você é aqui no Brasil, querido?” “Sorocaba.” “Sorocaba!”
O diálogo acima poderia ter acontecido entre qualquer encontro entre duas pessoas que vivem em cidades diferentes. A conversa, no entanto, ocorreu há mais de 10 anos entre uma estrela mundial e um morador de Sorocaba (SP), que na época era professor de informática, no palco de um dos maiores festivais de música do mundo.
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Júlio Cesar de Salvo tinha 24 anos quando viajou ao Rio de Janeiro, em 2011, para assistir ao show da Katy Perry no Rock in Rio, que recebe novamente a estrela do pop nesta sexta-feira (20).
No encontro, Katy ficou de mãos dadas com Júlio e, ao pedir para ele olhar para a plateia, deu um beijo no canto de sua boca. Ele fingiu desmaiar e depois retribuiu a gentileza a pedido dela. “O rosto dela é macio, tem um gosto de cereja”, afirmou ao g1, à época, logo após ser “expulso” pela artista do palco. A menção à fruta é referência à letra de “I kissed a girl”, uma das músicas da artista, e que frequentemente é atribuída ao sexo feminino.
Nos últimos 13 anos, a vida de Júlio mudou da água para o vinho. Experimentou a “fama momentânea”, transitou entre diferentes profissões – incluindo uma breve passagem pela política – e se descobriu nos estudos de filosofia e ciências mentais.
“Assim que desci do palco, resumi minha experiência a um período muito divertido na Cidade do Rock. Quando retornei para Sorocaba, tive uma amostra rápida do que é a fama por ter me tornado o que é chamado de ‘celebridade instantânea’ […] no início, foi tudo muito divertido, mas não demorou muito para eu descobrir o lado amargo de sustentar isso”, relembra.
Júlio e Katy no red carpet do lançamento de ‘Part of Me’, documentário da artista
Arquivo pessoal
O sorocabano afirma que pagou um preço caro pela fama momentânea, algo que nunca buscou e, portanto, nunca esteve preparado para lidar. Segundo ele, o lado ruim englobava diversos fatores, como a falta de privacidade, o excesso de perguntas em locais públicos e outras situações que o fizeram perceber que havia se tornado uma personagem.
“Hoje, digo com tranquilidade que detesto a fama, pois ela deveria ser um instrumento para transmitir o bem, valores e coisas positivas, e não ser apenas superficialidade, futilidade e dinheiro, como é predominante na sociedade atual”, critica.
Arrependimentos
Logo em 2012, um ano após o encontro com Katy, Júlio tentou iniciar uma vida política e concorreu a vereador no município. O que para ele foi um “ápice emocional”, não durou muito tempo.
“Durante o pleito, ao recobrar minha razão, percebi o erro que tinha cometido e procurei me afastar disso em silêncio. Fui uma decepção para alguns, mas saí desse mundo asqueroso a tempo. Não consigo imaginar o que teria acontecido se eu tivesse abandonado minha consciência naquele momento; provavelmente, eu seria uma pessoa muito infeliz”, conta.
Quando subiu ao palco do Rock in Rio para encontrar a artista a qual era grande fã, Júlio era professor de informática, mas havia descoberto a paixão pela fotografia. Nos 10 anos que se seguiram, trabalhou em diversos eventos, fotografou celebridades como Wanessa Camargo, Tiago e Patrícia Abravanel, Anitta e Alok.
“Encerrei minha fase na fotografia e comecei a estudar filosofia e ciências mentais, pois havia descoberto uma nova paixão: a busca pelo sentido dos comportamentos humanos, que eu observava da mesma forma que buscava uma boa foto. Eu queria encontrar uma boa resposta para tudo.
De ‘Katycat’ a ‘fã à distância’
Após o evento de 2011, Júlio teve outros encontros com a artista. Em 2012, Katy lançou o documentário “Part of Me” e Júlio foi convidado para a prèmiere no Rio de Janeiro. Levou sua câmera, colocou a foto do beijo entre os dois na tela de seu celular e a mostrou. A reação da cantora norte-americana foi registrada pelo sorocabano.
Um dia depois, durante um passeio pelo Cristo Redentor, Júlio notou uma grande movimentação de pessoas e segurança por todos os lados. Não demorou muito para ele notar que estava novamente perto da cantora. “Um segurança olhou pra mim e disse: ‘caramba, você de novo? (risos)’. Tirei uma foto dela nesse momento tranquilo no Cristo e depois voltei para Sorocaba”, conta.
Júlio fotografou Katy durante visita ao Cristo Redentor em 2012
Júlio Cesar/Arquivo pessoal
Em 2015, Júlio foi novamente ao Rock in Rio para assistir ao show de Katy. Dessa vez, curtiu a apresentação de longe e, desde então, não foi mais em nenhum evento da artista. Anos se passaram e a “paixão fervorosa” do ‘katycat’, nome dado aos fãs da cantora, não é mais a mesma. “Foram muitos anos. Eu tinha 24 e agora tenho 37. Nossa cabeça amadurece e os interesses mudam”, explica.
Questionado se faria algo diferente do jovem de 24 anos, o sorocabano diz que depende. “O Júlio do passado faria a mesma coisa, mas o Júlio de hoje faria diferente. Teria mais autocontrole e saberia lidar tranquilamente com as situações que se seguiram. Se eu a encontrasse novamente, conversaria tranquilamente com ela, seria até engraçado. Eu falaria como se fosse uma pessoa qualquer. Meu trabalho como fotógrafo, na presença de celebridades, me disciplinou na forma como os vejo e me comporto diante delas.
Júlio com os ingressos para a edição de 2015 do Rock in Rio
Arquivo pessoal
Júlio não estará presente na apresentação deste ano por opção dele. O rapaz explica que está em uma fase mais dedicada aos sonhos e em busca de maior tranquilidade e foco no próximo ciclo da vida dele. “Estarei acompanhando o show do sofá de casa e torcendo para que alguém suba e possa viver o que eu vivi naquele ano. Não quero mais ficar olhando para o passado, mas sim para o futuro que tracei com minhas escolhas”, afirma.
Diagnóstico de TDAH, estudos e autoconhecimento
Após parar de fotografar, Júlio passou a estudar e se dedicar ao autoconhecimento. Em 2020, foi diagnosticado com transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH). Foi após a descoberta que ele afirma ter entendido como foi parar no palco do festival. “Pessoas com TDAH reagem impulsivamente ao raciocínio dos outros de forma antecipada. Quando a Katy disse ‘O primeiro cara que tirar a camisa…’, eu já tinha tirado com uma velocidade incrível e estava pulando antes mesmo de ela terminar a frase”, relembra.
Júlio após beijar Katy no palco do Rock in Rio de 2011
Gustavo Miller/g1/Arquivo
Após o diagnóstico, diz que passou a “usar a hiperatividade a meu favor” e teve hiperfoco em tudo relacionado ao TDAH. Ajudou no negócio dos pais, estudou sobre outros transtornos e passou a trabalhar como motorista de aplicativo para conhecer pessoas em situações diferentes. Adquiriu autocontrole e agora tem planos para iniciar na área da psicanálise com foco em comportamento narcisista e psicopatia.
“Minha vida hoje tem sido mais tranquila no geral. Sou discreto no dia a dia, mas sempre há alguém que me reconhece, e quem me conhece gosta de contar para os outros só para me provocar. Eles sabem que já estou cansado das perguntas sobre ela”, relata.
Para Júlio, o momento de encerrar sua imagem ligada à artista chegou. “Fiz uma postagem em meu Instagram pra encerrar esse ciclo relatando os motivos. Recentemente vieram alguns convites para participações às vésperas do show e me senti bastante incomodado, fiquei até aliviado. É o momento de encerrar o passado e ir pro futuro”, finaliza.
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