‘Não aguentava andar, deitei no caminho e dormi’, diz cafeicultor que ficou 36 horas combatendo incêndio no interior de SP


Produtores rurais de Caconde (SP) contabilizam os prejuízos ambientais, econômicos e também psicológicos do fogo que destruiu 650 hectares e acabou com propriedades inteiras. Cafeicultores de Caconde sofrem impacto psicológico com as perdas das queimadas
Os agricultores de Caconde (SP) tentam se reerguer após o incêndio que devastou várias propriedades rurais. Mas, além dos prejuízos ambientais e econômicos, o fogo, que durou cinco dias, deixou marcas nas memórias das pessoas que presenciaram a força da sua destruição.
“Era muito desesperador. Para falar a verdade até esses dias você não dorme direito pensando em tudo o que aconteceu”, disse o cafeicultor Luiz Henrique Galdino Ramos.
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Segundo o diretor de Meio Ambiente de Caconde, Edvaldo Paulo de Faria, uma área de 654 hectares foi queimada pelo incêndio.
Produtores rurais combatem fogo em Caconde
Reprodução EPTV
Muitos moradores da região, com suas terras atingidas ou não, trabalharam até o esgotamento físico para lutar contra as chamas e tentar evitar que elas se alastrassem. O cafeicultor Jozuel Rosseto Júnior ficou por 36 horas seguidas no meio do mato combatendo as chamas com um soprador.
“Eu não aguentava andar, tanto que teve uma hora eu deitei no caminho e dormi porque eu não conseguia mais. Fique meio que alucinando com o barulho dos sopradores trabalhando porque fica com aquilo na cabeça”, contou.
Mais de 300 mil pés de café foram totalmente destruídos, além de uma grande área de mata nativa.
Jozuel Rosseto Júnior ficou por 36 horas seguidas no meio do mato em Caconde combatendo chamas
Reprodução/EPTV
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Traumas
Incêndio destruiu 654 hectares de vegetação em Caconde
Reprodução EPTV
O barulho dos estalos causados pelas chamas alterou o ambiente de paz que o povo da roça está acostumado a conviver, que era quebrando apenas pelo canto dos pássaros, o murmurar das águas dos rios e riachos ou pelo barulho das máquinas agrícolas.
Os produtores relatam que foram tomados pelo desespero ao ver o incêndio ganhando força e as chamas avançando sobre as plantações e chegando bem perto das casas.
“Desde criança a gente trabalha nisso daqui, então é um negócio que a gente tem muito amor, é o trabalho da gente, e a hora que veio o fogo queimando tudo, já achei que ia queimar todas as nossas lavouras, achei que a gente não ia conseguir salvar um pé de café “, afirmou Ramos.
Fogo atingiu pelo menos 300 mil pés de café em Caconde
Durante o trabalho os voluntários presenciaram muitos animais fugindo do fogo sem ter como ajudar.
A agonia também era vivida pelas pessoas que ficaram nas casas, sem saber o que estava acontecendo com aqueles que estavam combatendo o incêndio.
“Foi muito triste, da maneira que eles chegaram, tudo sujo de carvão, eles estavam irrenconhecíveis, de tão cansando, tem um que nem andava. Fica o trauma, a gente deita na cama fecha o olho e parece que está vendo aquele fogo. Eu sozinha em casa e eles naquele fogo”, afirmou a dona de casa Vilma Alves.
De acordo com a psicóloga Alexandra Strozzi, as pessoas que viveram tantos momentos terríveis podem ter problemas psicológicos.
“Pode ter um estresse pós-traumático desse evento, quando entra numa exaustão e fica lembrando. Existe um trabalho de desensibilização para que ela volte a ter qualidade de vida, não ter pesadelos com episódios de fogo”, afirmou.
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