Um ano de luto por uma família israelense assassinada em 7 de outubro

Familiares e amigos participam de um serviço memorial para a família Kutz, morta no ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023, no cemitério de Gan Yavne, em 5 de setembro de 2024Menahem Kahana

Menahem KAHANA

Para Adi Levy-Slame, o tempo parou em 7 de outubro. Nesse dia, milicianos do Hamas mataram a tiros cinco de seus familiares em Kfar Aza, um kibutz no sul de Israel, perto da fronteira com a Faixa de Gaza.

“Os encontramos abraçados, os cinco, mas não sabemos o que aconteceu”, conta com a voz trêmula essa mulher de 37 anos.

Os assassinados foram sua irmã Livnat Kutz, de 49 anos, e toda sua família: seu marido Aviv de 53 anos, sua filha de 18 anos, Rotem, e seus filhos Yonatan e Yftah, de 16 e 14.

Adi e sua família visitaram este mês o kibutz destruído, parando antes no cemitério de Gan Yavne, a 30 quilômetros de Kfar Aza, para um memorial que marca o fim do período de luto judaico.

“Tristeza, culpa, frustração, dor… Todas essas emoções vivem em mim, dia e noite, desde 7 de outubro”, afirma Asher Levy, irmão de Adi, em frente aos túmulos de seus parentes.

– “Símbolo de paz” –

O ataque do Hamas culminou na morte de 1.205 pessoas, a maioria civis, segundo um balanço da AFP baseado em dados oficiais de Israel que inclui os reféns mortos em cativeiro.

Essa ação sem precedentes na história do Estado de Israel desencadeou uma campanha militar de represália contra a Faixa de Gaza, que matou 41.431 palestinos, segundo o balanço do Ministério da Saúde desse território governado pelo Hamas e que as Nações Unidas consideram confiável.

Em Kfar Aza, um kibutz de 800 habitantes localizado a dois quilômetros da Faixa de Gaza, 64 moradores foram mortos e 18 sequestrados pelos milicianos do Hamas.

A família Kutz não teve tempo de avisar aos seus parentes sobre o que estava acontecendo.

As portas traseiras quebradas de sua casa oferecem uma ideia de como os combatentes palestinos acessaram ao que, segundo Adi, antes era uma “ilha de felicidade”.

Ao mostrar a casa à AFP, a mulher se lembra de piqueniques no pátio, com seus sobrinhos rindo e jogando basquete.

Sua sobrinha, explica, serviu como soldado.

Adia também se lembra de sua irmã, que era “tudo” para ela, e de seu cunhado, que todo ano organizava um festival de pipas no kibutz.

Justo na véspera do ataque, Aviv Kutz estava finalizando os preparativos para a 15ª edição do festival, programada para o dia seguinte.

Segundo Adi, seu cunhado entendia essas pipas como “um símbolo de paz” e um gesto conciliador para os milicianos para o outro lado da fronteira que regularmente lançam foguetes em direção a Israel.

– “Não há mais vida” –

Em uma longa conversa, interrompida por silêncios e lágrimas, Adi evoca a criatividade de sua irmã, apontando para as asas de anjo que confeccionava com brinquedos usados e que decoram a sala de jantar.

“Essas asas são um símbolo de que tudo é possível, de que cada um pode voar por conta própria e chegar muito longe”, diz.

Livnat Kutz ia celebrar seu aniversário de 50 anos em 25 de outubro. Disse aos seus parentes e amigos que não queria presentes e pediu a eles que fizessem um ato de caridade para comemorar esse dia.

Em frente à casa dos Kutz, no denso silêncio no qual o kibutz submergiu após 7 de outubro, Adi se lembra de que visitou o local apenas uma semana depois do ataque.

“A casa estava intacta. As panelas nos fogões e o pão de sabbat na mesa mostram que havia vida. Agora não há mais vida”, disse sem poder conter as lágrimas. “Meu coração está partido”.

Benny Kutz, o pai de Aviv, também vivia nesse kibutz, mas conseguiu sobreviver e se mudou temporariamente com sua mulher para Tel Aviv.

No momento, não pensa em voltar ao local onde morou durante quase seis décadas.

“O tempo não ajuda e não esqueci nada. Penso nisso o tempo todo”, diz esse aposentado de 80 anos. “Nunca serei o mesmo (…) Perdi minha família e minha casa, perdas imensas”.

– O fim de um clã –

O pai de Benny se instalou nessa região há quase um século, na época do mandato britânico, após fugir dos pogromos em sua Polônia natal.

Cercado pelas fotos de seu único filho e de sua família, Benny também lamenta que o sobrenome de seu pai não vai deixar descendentes.

“O clã Kutz chegou ao seu fim”.

Nesse bairro de Kfar Aza, onde viviam principalmente casais jovens, todas as casas ficaram destruídas pelo fogo.

Em frente a cada uma delas há cartazes colados com os nomes dos mortos e sequestrados em 7 de outubro.

Uma das casas, a de Sivan Elkabetz, de 23 anos, e sua esposa, Naor Hasidim, está aberta para visitação.

Suas paredes estão perfuradas por balas e no chão há um colchão e várias roupas.

Caminhando pelas ruas vazias do kibutz, Adi ainda não se conformou com o fato de que quem viveu ali “não vai voltar”.

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