Dia do Rádio: locutor Compadre Filisbino relembra seus 65 anos de história


O g1 conversou com o radialista de Itapetininga (SP), Luiz Honório de Oliveira “Filisbino”, que contou um pouco de sua carreira que se mistura com a história do rádio. Luiz Honório de Oliveira (Compadre Filisbino), em seu programa que está há 65 anos no ar
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Com mais de 65 anos de carreira, o radialista de Itapetininga (SP) Compadre Filisbino, nome artístico de Luiz Honório de Oliveira, relembra sua história, que se mistura com a do rádio, nesta quarta-feira (25), quando se celebra a data deste veículo de comunicação.
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O Compadre Filisbino, de 84 anos, conta que, desde pequeno, o sonho de falar na “caixinha” foi crescendo junto com ele. Ele lembra que, desde criança, gostava de falar com o público, algo que se espalhava como as ondas do rádio.
“Nasci com esse sonho em minhas veias. Isso não se adquire por meio de faculdade, nem por indicação. É um dom de Deus ter essa oportunidade”, disse.
O então menino de Itapetininga buscava, de algum modo, chegar até o dono da potente PRD-9, a emissora da cidade que tocava músicas, radionovelas, notícias e até a missa. Mas a maior dificuldade de Luiz Honório não era falar no microfone, mas sim chegar até o dono da emissora.
Ele conta que não almejava ser o comandante principal de um programa, mas sim um repórter de campo e poder acompanhar as equipes de futebol da cidade, como o Casi e o Derac. Mas, para isso, ele precisaria falar com o dono, o que foi seu maior desafio, já que o chefe da rádio desacreditava no potencial do menino.
“Quando fui falar com o dono, ele me olhou dos pés à cabeça e disse: ‘Menino, você vai ter que comer muito feijão para isso. Primeiro, você é feio; segundo, você tem uma voz horrível; seu português está fora do ‘caibro’. Como é que você vai querer ser radialista desse jeito? Vai ter que sapatear muito”, revela.
Compadre Filisbino e os discos e arquivos
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Essas palavras, no entanto, não desanimaram o jovem Luiz Honório. Pelo contrário, elas lhe deram mais combustível para perseguir o sonho de um dia falar nas ondas do rádio.
É só repetir
Luiz Honório comenta que começou a prestar atenção no que o diretor da rádio, o senhor Alcides Rossi, fazia. Luiz correu o diretor da PRD-9 oferecendo-se mais uma vez para estar o mais próximo possível do rádio.
“O senhor Alcides já era mais velho, o físico não ajudava, e ele tinha que carregar tudo aquilo [equipamentos] e ainda subir nas árvores. Fiz o serviço para ele e fui conquistando sua confiança. Hoje, 65 anos depois, temos uma facilidade muito maior para fazer rádio”, comenta.
Compadre Filisbino apresenta o programa “No rancho do Filisbino” há 65 anos
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Chegou a hora
Com o passar do tempo, Luiz Honório foi pegando o jeito. A equipe de esportes só precisava chegar e irradiar o jogo, pois tudo já estava montado e pronto para transmitir uma partida de futebol pelas ondas da PRD-9.
Filisbino era paciente e sabia esperar o momento certo. E esse dia chegou: a equipe de esportes da rádio, não concordando com algumas situações da emissora, decidiu em conjunto não realizar a partida entre Derac e Bragantino. Isso deixou o dono da rádio, Alcides Rossi, muito bravo. Foi aí que Compadre Filisbino aproveitou a oportunidade de mostrar seu talento.
“Cheguei no seu Alcides e disse: ‘Está tudo perdido, né?’ Ele me respondeu: ‘Está’. ‘Então, já que está tudo perdido, eu faço esse jogo’. Ele não acreditou no que eu disse, mas, como eu já era bem conhecido pela cidade, as pessoas que ouviram eu pedindo para ele entraram em coro também. Lembro que ele suspirou e me autorizou”, diz.
A vontade de Filisbino de falar nos microfones da rádio era tanta que ele botou muita emoção no jogo. “Eu só esqueci que o jogo tem 90 minutos, e nos primeiros cinco eu já estava sem voz”, comentou rindo. Mas conseguiu entregar o prometido. A rádio não perdeu o patrocínio e ganhou ainda mais a confiança de Alcides.
Depois desse episódio, os meses foram passando e Luiz Honório percebeu que poderia ir além e comandar um programa para um público que pouco se olhava — o da roça. E foi assim que começou a sonhar o “Rancho do Filisbino”.
Nasce o Rancho do Filisbino
O “povo caipira nunca foi bobo”, como gostavam de dizer naquela época, lembra Filisbino. O veículo mais fácil de chegar às casas dos caboclos era o rádio. Depois de um dia inteiro de trabalho, a tardezinha era a hora de ouvir música caipira, uma oração e as notícias do dia.
Filisbino foi um dos pioneiros nesse segmento. Com o seu programa “Rancho do Filisbino”, o locutor realizava seu sonho de levar a música, ensinar e informar. Com as previsões da lua, os meses ideais para a plantação e a colheita, além de informar nascimentos e notas de falecimentos, fazendo do rádio um verdadeiro posto de informação.
“O rádio, para mim, é tudo. Hoje, com 84 anos de vida e 65 anos de rádio, tudo o que eu pretendi, eu consegui. Com esse programa, pude valorizar o povo da roça e aproximá-lo da cidade”, diz emocionado.
Susto no ar
Filisbino tem muitas histórias de alegria e superação, mas uma que marcou todos os seus ouvintes foi quando sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC). Mesmo tendo um derrame, ele conduziu seu programa por um bloco e meio, sem saber o que estava acontecendo.
Foi socorrido por um amigo, que era seu principal patrocinador, e levado ao hospital. Lá, a notícia chocou a todos. O Compadre Filisbino teve um AVC durante a noite, e isso não o impediu de comandar seu programa e dirigir seu carro.
Meses após o susto, Filisbino voltou a ativa, desta vez com um pouco mais de dificuldade para se movimentar, mas com a voz nítida e forte para comandar o programa.
Dois anos depois, outro susto. Desta vez em casa, Filisbino caiu enquanto tentava acertar uma barata, quebrando o braço em três lugares. “Tudo o que o AVC não fez em mim, a queda pela barata fez”, brincou.
Filho, pai e neto, uma família de radialistas
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Herança de pai para filhos
Filisbino ensinou desde cedo aos seus filhos a paixão pelo rádio. Hoje, essa herança já conta com a participação de seu neto. Aquele menino que um dia recebeu um “não” de maneira grosseira, hoje diz “sim” para tantos outros jovens que o procuram para falar sobre rádio, sem guardar para si o dom de comunicar.
“Meus filhos todos seguiram esse sonho. Começou com minha filha Lílian, depois meu filho Luiz Junior, e hoje quem está comigo é meu neto, Luiz Honório de Oliveira Neto. A única pessoa que não foi para o rádio foi minha esposa, Lusia. Tudo o que eu tenho devo ao rádio”, conta.
Luiz Honório de Oliveira Junior continua junto com Filisbino, realizando aquele sonho de menino. Os tempos são outros. Já não há mais o senhor Alcides Rossi, o chefe durão, mas Junior comenta que o pai continua ensinando, de uma maneira mais branda, porém sempre cobrando sua evolução.
“O meu pai é a minha maior inspiração, meu professor. Tudo o que eu vivi e vivo no rádio tem um pouquinho dele. Assim como ele, o rádio é o meu tudo. É o que coloca o alimento na mesa, abastece o carro e nos veste. Sem o rádio, não sei o que seria de nós”, comentou Junior.
Modelos antigos de rádio que fazem parte do acervo da emissora onde Filisbino trabalha
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* Colaborou sob supervisão de Eduardo Ribeiro Jr.
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