Por que Kamala mantém Biden de fora de sua campanha?


Presidente americano teve o papel reduzido e é o grande ausente em comícios e eventos ao lado da candidata democrata Kamala Harris e Joe Biden na Convenção Nacional Democrata, em 19 de agosto de 2024, em Chicago.
Jacquelyn Martin / AP Photo
A defesa apaixonada que Kamala Harris fez da unidade do país e de seus valores democráticos no encerramento de campanha, na terça-feira (29) em Washington, lembrou o tom combatente dos discursos proferidos por Joe Biden há quatro anos, quando ele disputou o comando dos EUA com Donald Trump. Mas Biden está longe, praticamente escondido.
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Desde que desistiu da reeleição e indicou sua vice para substituí-lo, o presidente, no entanto, tem sido o grande ausente em comícios e eventos de campanha liderados pela candidata democrata. Os estrategistas de Kamala preferem que ele fique de fora da campanha democrata, que até julho era centrada nele.
Em vez do presidente, Kamala tem recorrido a outras figuras de alto nível do Partido Democrata, como Bill Clinton, Barack e Michelle Obama, para energizar os eleitores. Na tentativa de firmar-se como uma agente da mudança, como ela vem se apresentando, a candidata democrata tem que marcar distância do impopular Biden, que tem índice de aprovação em torno de 40%, e diferenciar-se de seu governo.
“É hora de uma nova geração de liderança na América. Foi uma honra servir como vice-presidente de Joe Biden. Mas trarei minhas próprias experiências e ideias para o Salão Oval”, explicou Kamala no Parque Ellipse, nas imediações da Casa Branca.
Sua campanha teme os improvisos de Biden. Conhecido por ser uma máquina ambulante de gafes, o presidente fez jus à fama. Numa videoconferência com líderes hispânicos, atacou os seguidores de Trump, ao defender Porto Rico, classificado como ilha de lixo flutuante por um comediante apoiador do ex-presidente no comício do Madison Square Garden, em Nova York.
“O único lixo que vejo flutuando por aí são seus apoiadores. A demonização dos latinos é inconcebível e antiamericana”, disparou Biden. Era o que faltava para que a repercussão negativa do episódio, que estava concentrada no campo republicano, passasse automaticamente para a seara democrata.
A Casa Branca retificou as declarações do presidente, ao esclarecer que ele se referia ao humorista Tony Hinchcliffe e não aos simpatizantes do ex-presidente. Kamala teve que discordar do chefe em público, e o ex-presidente retomou o jogo.
Manter um presidente fora da disputa não é inédito. Na corrida eleitoral de 2000 contra George W. Bush, o vice-presidente Al Gore achou por bem afastar-se de Bill Clinton, que, embora com popularidade alta, foi arrastado no escândalo sexual com Monica Lewinsky. Bush ganhou, mas, oito anos depois, o republicano John McCain excluiu o então presidente, desgastado pela guerra do Iraque e pela recessão econômica, de sua campanha.
Biden manifestou interesse em percorrer o país com Kamala, mas seu papel foi reduzido a encontros com doadores e sindicalistas da base democrata.
A ausência gera incômodo e questionamentos para a candidata. Afinal, era ele o candidato vencedor das primárias e a principal figura do partido antes do desempenho desastroso em junho no debate com Trump. Depois disso, passou a ser considerado dano colateral para a campanha democrata.
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