Soda cáustica x sabão em pó: entenda por que a substância corrosiva não é a vilã da máquina e das roupas


Resíduos de produtos usados na lavagem das roupas que ficam por muito tempo acumulados podem danificar a máquina de lavar. Vídeo na internet diz que o sabão em pó contém soda cáustica e que o produto não dissolvido em água pode danificar roupas e a máquina. Mas a soda cáustica usada na fabricação do produto é neutralizada e o que danifica a máquina, além da não diluição do sabão, é a ausência de lavagens do equipamento na frequência correta para eliminar resíduos dos produtos.
Reprodução redes sociais
Máquinas de lavar corroídas e roupas detonadas não são culpa do excesso de soda cáustica presente no sabão em pó, segundo especialistas ouvidos pelo g1. O uso correto dos produtos de limpeza e o conhecimento de um conceito científico básico pode ajudar tanto na lavagem quanto na economia: para quem prefere o uso do sabão em pó, o princípio da diluição é fundamental.
🧪Cientificamente, a diluição é o processo de reduzir a concentração de uma substância em uma solução. Isso é feito adicionando mais solvente (geralmente água) à solução original.
📱Vídeos na internet mostram imagens de peças das máquinas destruídas por causa do uso inadequado do sabão em pó. Alguns informam erradamente que o produto contém soda cáustica, enquanto, na verdade, maior erro de uso é não diluir o produto corretamente e a falta de limpeza do equipamento.🚫
A soda cáustica pode ser encontrada em produtos para limpeza pesada, como desengordurante para limpar forno e piso, ou em alguns sabões comuns em barra e em alvejantes a base de cloro, usados para roupas, por exemplo.
Na verdade, o sabão em pó é um detergente em pó e a soda cáustica (hidróxido de sódio) pode até ser usada com outros componentes na fabricação de alguns deles, mas ela é obrigatoriamente neutralizada no processo.
Assim, é praticamente impossível encontrar resíduos de soda cáustica na lavagem de roupas, segundo a engenheira têxtil Elaine Mercial, coordenadora adjunta do curso de Engenharia Têxtil da Universidade Estadual De Maringá (UEM).
O que pode de fato danificar a máquina de lavar é o acúmulo de resíduo de diversos produtos químicos ao longo do tempo. Além disso, a quantidade errada de sabão em pó ou a não diluição do mesmo em água pode comprometer as fibras dos tecidos.
“Qualquer produto químico em contato com a máquina por um certo tempo pode danificar o equipamento. Por isso, é essencial fazer uma limpeza dele com regularidade”, explica Mercial.
Líquido x em pó
O sabão em pó contém componentes alcalinos com efeito corrosivo, como o carbonato de sódio. Mas o produto pode ser mais eficaz para a limpeza de roupas muito sujas e pesadas. Por demorar mais a dissolver e ser abrasivo, nem todos os tecidos têm resistência ao atrito, explica o engenheiro têxtil e professor do Senai Cetiqt, no Rio de Janeiro, Rafael Araújo.
“O sabão em pó, que pode conter também cloro e outros componentes, apesar de propiciar um poder maior de limpeza, pode também agredir a fibra de forma mais significativa. Com ele, a manutenção das cores é mais dificultada, por exemplo”, acrescenta Araújo.
Sobretudo quando não é diluído corretamente, o sabão em pó que fica acumulado na máquina, por exemplo, pode formar uma crosta escura e úmida, favorecendo roupas manchadas e ásperas.
Isso porque ele possui um pH* mais alto (alcalino) que o sabão líquido (neutro).
Limpeza da máquina
Para evitar não só o acúmulo de sabão em pó, mas também de outros resíduos da lavagem, como fiapos de roupa, é recomendável fazer a limpeza do compartimento de sabão, do tambor da máquina e do reservatório, ou seja, uma lavagem de higienização da máquina de lavar regularmente, como explica o Douglas Fernandes de Campos, Conselheiro Administrativo e Membro da Câmara de Químicos da Associação Brasileira do Mercado de Limpeza (Abralimp).
Se essa lavagem não for feita regularmente, alguns componentes do equipamento podem corroer com o tempo, devido à ação abrasiva dos resíduos alcalinos.
Sabão líquido
O sabão líquido é mais recomendado para lavagem domésticas de roupas, principalmente as delicadas, pois ele já é diluído e dificulta a formação de resíduos. Ainda assim, ele não deve ser aplicado diretamente nas roupas e a quantidade necessária do produto deve ser conferida nas instruções da máquina, de acordo com a quantidade de roupas.
Mas independentemente de usar sabão em pó ou líquido, o que mais impacta na manutenção da longevidade das roupas, segundo o engenheiro têxtil Rafael Araújo, é a falta de atenção às instruções de lavagem na etiqueta das roupas.
Soda cáustica x sabão em pó: entenda por que substância corrosiva não é a vilã da máquina e das roupas
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Por que é necessário o uso do sabão na limpeza das roupas?
O sabão é essencial para a limpeza por causa da estrutura molecular das substâncias que queremos remover, como óleos e gorduras, que são moléculas hidrofóbicas (repelentes de água).
A água é uma substância polar (tem polo positivo e negativo) e é eficiente para dissolver substâncias que também são polares. No entanto, ela não consegue dissolver gorduras que são apolares, pois elas não interagem com as moléculas de água.
O sabão, por outro lado, é formado por moléculas que têm uma parte polar (hidrofílica), que interage bem com a água, e uma parte apolar (hidrofóbica), que se liga aos óleos e gorduras.
Ao usar o sabão, a parte apolar da molécula de sabão se liga à gordura e a parte polar interage com a água. Esse processo forma micelas, estruturas esféricas que “capturam” as partículas de gordura em seu interior e permitem que elas fiquem suspensas na água,
Assim, o sabão permite que a água remova substâncias oleosas e gordurosas que, sem ele, permaneceriam na roupa a ser limpa.
Por que só deixar de molho não é suficiente para a limpeza?
Durante o “bate e volta”, a máquina de lavar agita e fricciona as roupas. Isso gera um movimento físico que ajuda a desprender as partículas de sujeira que se encontram em regiões mais internas das fibras do tecido. Essa ação mecânica contribui para que o sabão penetre mais profundamente nas fibras, enquanto a fricção facilita a liberação das partículas de sujeira e manchas presas.
“Sem essa ação mecânica, a remoção de sujeira é menos eficiente, pois apenas o contato com a solução de sabão (molho) pode não ser suficiente para desintegrar e remover as partículas mais resistentes (maior interação química com a fibra do tecido) ou que estão em regiões mais internas das fibras”, explica a professora de química Thelma Cellet, da Universidade Estadual de Maringá.
O impacto ambiental dos produtos químicos
O engenheiro químico e professor da Faculdade Senai Cetiqt, no RJ, Roberto Bentes destaca que é fundamental considerar o impacto ambiental do uso de sabões.
Além disso, Bentes recomenda utilizar ciclos de lavagem a frio ou com temperaturas mais baixas, o que preserva as fibras dos tecidos e economiza energia.
Ele defende o uso de sabões líquidos ou em pó que utilizem menos agentes agressivos ao meio ambiente, como fosfatos.
Para identificar produtos com menos agentes agressivos ao meio ambiente, é possível ler o rótulo e verificar se o sabão é “livre de fosfatos” ou se contém ingredientes biodegradáveis. “É cada vez mais comum os fabricantes identificarem tais diferenciais nos rótulos de seus produtos”, explica Bentes.
Confira os principais componentes dos sabões em pó e líquido:
Surfactantes aniônicos: como o lauril sulfato de sódio, que são responsáveis pela limpeza das roupas;
Enzimas: como protease e amilase, que ajudam a remover manchas de proteínas, amidos e gorduras;
Carbonato de sódio: aumenta a alcalinidade, o que melhora a ação dos surfactantes;
Peróxido de sódio: agente alvejante, que ajuda a remover manchas;
Aditivos anti-redeposição: impedem que a sujeira removida se deposite novamente nas roupas;
Fragrâncias e corantes: para dar aroma e aparência ao produto.
O excesso de sabão ou amaciante também pode causar alergias e irritações na pele.
⚠Produtos de limpeza precisam estar sempre fechados e fora do alcance de crianças.
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