Advogado de Ronnie Lessa diz que delação contribuiu para conclusão do caso: ‘Peço a condenação, mas de forma justa’


O advogado Saulo Carvalho concordou com a condenação na sustentação oral. O ex-PM Ronnie Lessa, réu pelas mortes de Marielle Franco e Anderson Gomes
Felipe Cavalcanti/TJRJ
A defesa do réu Ronnie Lessa, durante a sustentação oral no julgamento das mortes da vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes, disse que concorda que o assassino confesso seja condenado. O advogado Saulo Carvalho disse que a delação do réu foi fundamental para conclusão do caso e que, por isso, pede uma pena justa.
O advogado ressaltou que o Ronnie Lessa confessou todos os crimes e que o réu não fez antes por falta de confiança.
“Ele já tinha essa vontade de falar, mas ele não confiava nas autoridades do Rio de Janeiro, então quando a Polícia Federal faz esse contato, ele se sente mais à vontade”, diz Saulo.
“No julgamento de hoje eu peço a condenação, mas que seja de uma forma justa. Que ele seja condenado pelo que ele fez, não pelo que ele não fez”, conclui ele.
O advogado discordou que o crime tenha tido motivação torpe porque, segundo ele, não houve crime político mas um interesse financeiro.
“Ronnie foi denunciado pelo homicídio, por motivo torpe, e esse motivo torpe eu ouso discordar da acusação porque não há nos autos que foi um crime político, por ela ser de esquerda, e sim visando terras. Ele atirou com uma metralhadora no modo rajada e disse que tentou mirar somente na vereadora Marielle. Ele não voltou para checar quem tinha sido atingido”, sustenta.
Promotores dão kit com centenas de páginas com fotos do caso
Promotores do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) entregaram aos 7 jurados, na manhã desta quinta-feira (31), no início do 2º dia de julgamento dos assassino confessos de Marielle Franco e Anderson Gomes, um kit com 207 páginas com fotos sensíveis do crime.
De acordo com o Ministério Público do Rio de Janeiro, a intenção era mostrar as imagens do local do crime e dos corpos da vereadora e do motorista antes de serem levados para o Instituto Médico Legal (IML) sem precisar expor as vítimas.
“O objetivo é levar ao conhecimento dos jurados as provas existentes no processo e mostrar que a condenação não é só com base na confissão”, disse o promotor de Justiça Eduardo Morais, que optou por não exibir em plenários as imagens dos corpos. “Não estamos aqui para expor ainda mais as vítimas”, destacou.
Durante a sustentação oral do Ministério Público, o promotor Fábio Vieira que traçou o perfil dos jurados: todos são homens, de meia idade e de pele clara. Todas as mulheres foram dispensadas.
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MP pede condenação de Lessa e Queiroz
Na sustentação do MP, o promotor Eduardo Martins pediu que os jurados condenem a dupla em todos os quesitos e afirmou que ambos só delataram porque sabiam que seriam descobertos e porque queriam algo em troca [a redução das penas por conta da delação premiada].
Martins aproveitou para criticar a postura de Lessa, que nesta quarta-feira (30) pediu perdão à família de Marielle pelo assassinato da parlamentar.
A juíza Lúcia Glioche, do 4º Tribunal do Júri da Justiça do RJ, responsável pelo julgamento do caso Marielle
Brunno Dantas/TJRJ
“Que arrependimento é esse com algo em troca? Vocês já pediram arrependimento a alguém e disseram: ‘quero seu perdão se me der alguma coisa em troca’? Porque foi isso que eles fizeram. Eles são réus colaboradores. Eles não vieram e se arrependeram. Eles vieram ao Ministério Público e pediram algo em troca para falar o que falaram”, disse o promotor.
Ainda de acordo com a acusação, até a delação premiada os réus negavam completamente o crime.
“Até ontem, até outro dia, os dois estavam aqui negando todas as imputações. Negando. ‘Eu não estava no carro’. ‘Não era eu’. ‘Não fui eu’. ‘Eu não tenho motivo para matar’. ‘Eu não conheço essas pessoas’. ‘Eu nunca ouvi falar de Marielle’. ‘Nunca ouvi falar de Anderson’. Então quer arrependimento é esse?”, destacou.
Martins destacou que, após condenados, os ex-PMs terão que cumprir parte da pena em regime fechado.
“O Ministério Público fez um acordo e eles vão cumprir 30 anos de pena. Eles vão cumprir toda a pena máxima da legislação. A única diferença é que eles terão algumas progressões. Mas, é bastante tempo que eles ficarão no regime fechado. esse é um dos acordos mais rígidos do Brasil”.
Martins apresentou slides sobre a investigação, como a recuperação do histórico de busca no Google feita por Ronnie antes do crime. Nessa hora, Luyara, filha de Marielle, deixou o plenário.
‘São sociopatas’, diz promotor
O promotor de Justiça Fábio Vieira, segundo a falar, disse que sua impressão é que o arrependimento apresentado nas falas de Lessa e Élcio é “uma farsa”.
Segundo dia de júri de Ronnie Lessa e Élcio Queiroz
Brunno Dantas/TJRJ
Definindo a dupla que está no banco dos réus como “sociopatas”, Vieira disse que os assassinos “não têm emoção em relação aos outros”, muito menos sentimentos ou empatia.
“O que vocês viram ontem no interrogatório dos dois foi uma farsa. Na verdade, eles não estão com sentimento de arrependimento, eles estão com uma tristeza de terem sido pegos. Porque ninguém foi lá bater na porta da DH [Delegacia de Homicídios], quando todo mundo queria saber [e disse]: ‘olha só, fui eu, tá? Estou arrependido disso. Fui eu e fiz dessa forma. Fui eu e quem mandou foi isso'”, destacou o promotor, que completou:
“Isso só aconteceu quando as provas que existem no processo, através do trabalho árduo do Ministério Público, junto com seguimentos da polícia, e com Defensoria e tudo mais, chegou à conclusão absoluta de que os executores eram aqueles, não tinham como eles fugirem disso. Estão arrependidos? Não. Porque isso vai beneficiá-los de alguma forma. Isso é uma característica do sociopata. Ele não tem emoção em relação aos outros, não tem sentimento, não valores, não tem empatia”.
Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz foram ouvidos nesta quarta no Tribunal do Júri. Durante o depoimento, as falas de Lessa chamaram a atenção pela frieza e naturalidade com que ele relatou a execução do crime, incluindo os momentos que antecederam os disparos e a estratégia para ferir Marielle, como mirar os tiros, dados com uma submetralhadora, na cabeça dela.
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