Com fluxo comercial de US$ 60 bi, Brasil deve ser ‘pragmático’ na relação com EUA, dizem analistas


País é o segundo maior parceiro comercial do Brasil. Eleição nesta terça define próximo presidente dos EUA, e Kamala Harris e Donald Trump disputam; Lula disse apoiar candidata democrata. Joe Biden e Luiz Inácio Lula da Silva em encontro nos EUA
REUTERS
Segundo maior parceiro comercial do Brasil, os Estados Unidos (EUA) decidem nesta terça-feira (5) quem será o próximo presidente do país pelos próximos quatro anos. Diante disso, especialistas defendem que o Brasil precisa ser pragmático independentemente de quem seja o eleito.
Estão na disputa a atual vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris (Partido Democrata), e o ex-presidente Donald Trump (Partido Republicano).
As principais pesquisas indicam uma disputa acirrada, sem deixar claro qual candidato deve vencer. Mesmo assim, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já manifestou apoio a Kamala.
Presidente Lula disse que defende a democracia e por isso torce pela vitória de Kamala Harris, nos EUA
As relações comerciais entre Brasil e Estados Unidos completam 200 anos em 2024 — começaram quando o então presidente, James Monroe, reconheceu a independência brasileira em relação a Portugal.
🔎Em um primeiro momento, a relação comercial entre os dois países teve como principal item o café. Ao longo do Século XX, os EUA se tornaram o principal parceiro comercial do Brasil — o governo afirma que o país foi “essencial” para a industrialização brasileira. Desde 2009, porém, a China se tornou o principal parceiro em nível global.
Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) mostram, por exemplo, que de janeiro a setembro deste ano o fluxo comercial entre Brasil e Estados Unidos chegou a cerca de US$ 60 bilhões. Isso porque, ao todo, foram registrados:
US$ 29,4 bilhões em exportações brasileiras para os EUA;
US$ 30,7 bilhões em importações brasileiras dos EUA.
Estudo divulgado em conjunto pelo MDIC e pela Câmara Americana de Comércio (AmCham) mostram que os Estados Unidos são atualmente o principal destino das exportações brasileiras de produtos industrializados.
De 2001 a 2023, o montante exportado passou de cerca de US$ 15 bilhões para cerca de US$ 30 bilhões. O resultado deixa os EUA à frente, por exemplo, da União Europeia (US$ 23,5 bilhões), e do Mercosul (US$ 19,4 bilhões).
“O mercado dos Estados Unidos também desempenha um papel importante na geração de empregos e no perfil da remuneração das empresas. Esse comércio tem contribuído para a criação de milhões de postos de trabalho no Brasil, além de oferecer remuneração superior à média paga por empresas que transacionam com outros parceiros comerciais ou não exportam”, afirmou no estudo a secretária de Comércio Exterior, Tatiana Prazeres.
Brasil deve ser ‘pragmático’
Para o professor José Luis Oreiro, do Departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB), os dados da balança comercial entre os dois países mostram que o Brasil deve reconhecer o candidato eleito, seja quem for, adotando “abordagem pragmática”, voltada para a agenda de interesses dos dois países.
“Sobre melhorar a relação, é uma coisa que é um pouco complicada porque o Brasil tem outros interesses que não coincidem com os interesses dos Estados Unidos, principalmente pelo fato de o Brasil estar no Brics, queira ou não, um contraponto ao G7, que é liderado pelos EUA”, pondera.
“O que o Brasil pode fazer é ser a ponte entre G7 e Brics, isso seria importante a diplomacia brasileira enfatizar, o Brasil como ponte entre os dois blocos”, seguiu.
Na mesma linha, Carlos Braga Monteiro, do Grupo Studio, disse que o Brasil deve ter postura pragmática e diplomática, manter o foco nos interesses nacionais e construir “pontes” com o próximo presidente dos EUA, seja quem for.
“O pragmatismo é essencial. Como os EUA são uma potência global com forte influência na economia e nas políticas internacionais, o Brasil precisa buscar cooperação em áreas como comércio, investimentos e segurança, evitando focar em questões ideológicas que poderiam dificultar o diálogo e comprometer interesses econômicos”, disse.
Volnei Eyng, da gestora de investimentos Multiplike, diz ser possível prever “maior diálogo” entre os dois governos caso Kamala Harris vença, mas, ressalta, eventual vitória de Trump não será “ruim” para o Brasil se o governo Lula não provocar nenhum tipo de “ruído” com a Casa Branca.
“Precisamos lembrar que [se ganhar] Trump deve fechar muito o comércio com relação à China e em relação ao México, e o Brasil seria uma ótima oportunidade de comércio. […] Vejo um bom cenário com a Kamala também, o Brasil já vem aumentando a situação com o governo atual dos Estados Unidos e a manutenção pode continuar”, avaliou.
Kamala x Trump
AFP
Próximos passos da diplomacia
Texto publicado no site oficial do Ministério das Relações Exteriores (MRE) afirma que Brasil e EUA têm dialogado sobre temas como defesa da democracia, combate às mudanças climáticas, promoção dos direitos humanos e facilitação e desburocratização do comércio.
Diante disso, um diplomata a par das estratégias do Itamaraty sobre como o ministério deve se posicionar após o resultado da eleição americana disse à GloboNews, de forma reservada, que a orientação neste momento é “pragmatismo e atenção”.
Isso porque, explica, é “óbvio” que uma eventual vitória de Donald Trump deixa o cenário “menos previsível”.
Diante disso, afirma esse diplomata, as avaliações mais precisas só começarão a ser feitas a partir da transição de governo, seja para Trump assumir ou para que Kamala Harris assuma a Casa Branca.
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