Fernanda Maciel quebra recordes na Pirâmide de Carstensz e compartilha sua jornada de superação

A ultramaratonista Fernanda Maciel tem uma trajetória repleta de conquistas impressionantes, e recentemente ela acrescentou mais um feito notável à sua carreira: bateu o recorde de tempo total (subida e descida) e o recorde feminino de subida até o pico da Pirâmide de Carstensz, a montanha mais alta da Oceania, ela contou com exclusividade à CNN sobre a experiência.

“Fui a primeira mulher a correr até a montanha mais alta do continente. Ela fica na Indonésia e tem quase 5 mil metros de altitude”, compartilhou Fernanda. “O mais desafiador dessa montanha é que ela não é uma corrida tradicional; é praticamente uma escalada. São cerca de 2,5 quilômetros de corrida, e o restante é só subida. Para mim, como corredora, é ainda mais difícil, porque a escalada é um desafio completamente diferente.”

Apesar de tanto treino e preparo, Fernanda falou sobre as dificuldades que enfrentou durante as 1h48 de percurso. “A subida é muito árdua por causa da altitude de 5 mil metros. O ar rarefeito torna a respiração bem difícil. Além disso, as pedras estavam escorregadias devido ao microclima da região, que mistura selva com alta montanha. Chove o tempo todo, e estava até nevando quando cheguei ao topo”, contou.

Ela também ressaltou o desafio de administrar a respiração e manter a segurança. “Para conseguir subir rápido, sem escorregar, é preciso ter muito cuidado, porque não posso dar nenhum passo em falso. O maior perigo está na descida, que é mais arriscada. Se você escorregar, pode ser fatal.”

Quando bate o medo?

O medo é uma constante em uma atividade tão extrema, e Fernanda revelou um episódio marcante que a fez refletir sobre o risco envolvido. “Eu não sei de onde tirei coragem para continuar, porque algumas horas antes da minha subida, um escalador chinês faleceu. Ele estava descendo no último rapel e, ao fazer uma manobra errada, caiu 20 metros. Isso é algo constante nas montanhas, a morte está sempre muito perto.”

Apesar do medo, Fernanda explicou que a experiência e o treinamento ajudam a lidar com ele. “Com o tempo, você vai se acostumando e, mesmo com medo, acaba respeitando mais o terreno onde está. O medo, na verdade, acaba sendo útil, porque te faz prestar ainda mais atenção e agir com mais cautela. Eu, por exemplo, sempre tento ouvir meu instinto, porque, mesmo estando preparada, às vezes você sente que algo ali não está certo e precisa estar atenta a esses sinais.”

Ao falar sobre a experiência no Carstensz, ela não escondeu o impacto do ocorrido. “Naquele dia, eu realmente tive muito medo. Saber que alguém havia falecido poucas horas antes me fez ainda mais cautelosa. Mas, com todo o treinamento, você acaba se permitindo seguir em frente, ouvindo seu corpo e respeitando o terreno.”

Inspiração

Fernanda compartilhou que sua maior inspiração vem da força de duas amigas americanas, que são alpinistas e esquiadoras. “São duas mulheres que me inspiram muito. Elas são minhas amigas e, apesar de não serem corredoras, elas têm um impacto profundo na minha jornada. Elas abrem várias rotas em montanhas, e o que mais me inspira nelas é que o terreno delas é a montanha, assim como o meu”, contou.

“Essas mulheres são as pioneiras, as primeiras a desafiar limites, e isso é algo que eu compartilho com elas. Elas sentem o que eu sinto, e isso me fortalece. Por exemplo, há 10 anos, eu corri 900 quilômetros no Caminho de Santiago, um desafio que fiz de corrida, quando já tinha feito a pé e de bicicleta. Foi uma experiência muito intensa, porque era uma corrida em asfalto, algo muito diferente do que costumo fazer, mas foi um grande desafio”, revelou.

“Quando lembro de alguns desses projetos pessoais que já enfrentei e consegui superar, mesmo com medo, isso me dá forças para continuar, para seguir em frente. E sempre com muito respeito, claro. Essas memórias me ajudam a ter coragem para continuar subindo montanhas, sabendo que posso alcançar resultados positivos, mesmo nas condições mais difíceis.”

Preparação física e mental

Fernanda não pode deixar de destacar a importância da saúde mental em sua trajetória, algo que ela cuida desde muito jovem. “Como você vê, a Rebeca Andrade, eu também comecei na ginástica olímpica quando era bem pequena, e foi o meu primeiro esporte”, explicou.

“Com 10 anos, já treinava nos Estados Unidos e, nessa época, já tinha psicólogos me acompanhando. Com apenas 8 anos, eu já fazia acompanhamento com uma psicóloga do esporte e com nutricionista. Acho que foi algo gradual, sabe? Aos poucos, fui adquirindo essa fortaleza mental, aprendendo a me observar, a não deixar o ego tomar conta, mas sim o sentimento de amor pelo que faço. Com o tempo, fui amadurecendo essa força mental e, hoje, continuo com acompanhamento psicológico e também com um coach mental.”

Além da saúde mental, Fernanda falou sobre seu treinamento físico e como a preparação é crucial para enfrentar os desafios das montanhas. “Meu treinamento físico é bem completo. Eu treino muito asfalto também. Faço duas sessões semanais de treinos de VO2 Max, que são focados em melhorar meu condicionamento cardiovascular. E, no fim de semana, faço um treino mais longo, de quatro a cinco horas.”

“Além disso, para me preparar para as montanhas, eu treino escalada indoor três vezes por semana, de forma rápida e intensa. Mais do que o grau de dificuldade das escaladas, o importante é desenvolver resistência, tanto na pedra quanto na montanha, para conseguir manter o movimento durante um longo período de tempo. E isso também se aplica à corrida, onde a resistência é essencial.”

Maior desafio

Aos 44 anos, Fernanda compartilhou com emoção a experiência de ter sido a primeira mulher a alcançar o cume do Aconcágua, a montanha mais alta da América, localizada na Argentina. “O Aconcágua tem 6.960 metros de altura, quase 7 mil metros, então é extremamente alto. Chegar lá é um desafio enorme”, relatou.

Ela explicou como as condições extremas de temperatura influenciam seu treinamento e sua escolha de vestuário. “Quando estou nessa montanha, a roupa que uso tem que ser muito específica. Não pode ser algo que me abrace demais, porque o suor pode se congelar. Mas também não pode ser muito leve, porque o frio é intenso”, disse Fernanda. “Eu lembro que, no nascer do sol, é o momento mais frio da montanha, e, como estou com pouca roupa, tenho que usar uma jaqueta mais fina, para manter o corpo aquecido sem perder o movimento e sem o suor congelar.”

Ela revelou que o frio extremo é um dos maiores desafios para ela. “Eu sofro muito quando está muito frio. Encontrar o vestuário adequado para esse momento é fundamental, porque, na hora mais gelada da montanha, é preciso manter o corpo quente e em movimento, até esperar o sol nascer. Isso é muito difícil, porque, entre seis e oito horas da manhã, é como se o meu corpo ficasse congelado”, explicou.

Mas Fernanda não deixa que o frio a desanime. “Eu vou devagar, com fé, tentando seguir firme. Quando o sol nasce, depois das 8 da manhã, a energia volta. O corpo esquenta e, aí, tudo muda. A energia começa a circular de novo, e é uma sensação incrível. A partir daí, consigo chegar ao topo e descer sem nenhum problema”, completou, com uma grande sensação de superação no olhar.

Maior sonho como ultramaratonista

Fernanda falou com muita emoção sobre seu maior sonho: “Ai, meu Deus. Eu acho que o meu maior sonho é correr todos os dias. Toda vez que me fazem essa pergunta, o que me vem à mente é que não tem preço. Para mim, correr todos os dias, estar saudável e me sentir bem, fazer meu treino todos os dias, é algo imensurável. Eu treino todos os dias. Eu amo correr”, disse.

“Isso não tem preço, sabe? Não existe nada mais valioso do que isso. Ser campeã mundial ou conquistar qualquer montanha, isso são conquistas incríveis, mas para mim, o que realmente importa é poder sair para correr todos os dias, voltar para casa suada e feliz, com um sorriso honroso”, completou, falando sobre alegria pelo simples fato de poder seguir sua paixão pela corrida.

Este conteúdo foi originalmente publicado em Fernanda Maciel quebra recordes na Pirâmide de Carstensz e compartilha sua jornada de superação no site CNN Brasil.

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