Como retorno de Trump coloca sob risco corte de juros do Fed e inflação global

A inflação pode aumentar nos Estados Unidos e no mundo caso o recém-eleito presidente dos EUA, Donald Trump, cumprir suas promessas de campanha de reduzir impostos, intensificar o controle sobre a imigração e aumentar as tarifas sobre todos os produtos importados.

Com uma maioria republicana no Senado, a reeleição de Trump coloca o ex-presidente em uma posição favorável para implementar sua agenda econômica.

Os mercados de ações dos EUA abriram em alta, impulsionados pela vitória decisiva de Trump. Os rendimentos dos títulos do Tesouro subiram, enquanto o dólar valorizou em relação a outras moedas, em parte pela expectativa de maior inflação doméstica e, portanto, menos cortes de juros pelo Federal Reserve (Fed).  

As políticas econômicas propostas por Trump — incluindo deportações, tarifas generalizadas e maior influência política no Fed —, se implementadas integralmente, “provavelmente levariam a uma queda significativa” na produção econômica dos EUA e “a um aumento considerável na inflação”, disse Antonio Fatás, professor de economia na INSEAD, escola de negócios com sede na França.

Susannah Streeter, chefe de mercados da plataforma de investimentos Hargreaves Lansdown, compartilhou algumas dessas visões. 

O dólar mais forte reflete expectativas de que Trump reduzirá impostos, aumentará tarifas e intensificará o controle sobre a imigração, o que tende a elevar a inflação e as taxas de juros nos próximos anos, escreveu ela em um comunicado.

“Investidores estão se preparando para tarifas, que aumentarão o preço de produtos importados para os consumidores americanos,” acrescentou.

A “promessa de Trump de expulsar imigrantes com ondas de deportações também poderia ter implicações econômicas, possivelmente elevando os custos com salários para as empresas.”

Tributação de importações

Durante a campanha, Trump propôs uma tarifa de 10% a 20% sobre todos os produtos importados — um aumento em relação à média atual de 2% ou, em muitos casos, zero. 

Para as importações da China, o republicano propôs uma tarifa ainda maior de pelo menos 60%. Além disso, ele sugeriu uma tarifa de 100% ou 200% sobre carros fabricados no México ou produtos de empresas que transferirem sua produção dos EUA para o país latino.

“Agora esperamos apenas um corte de juros pelo Fed em 2025, com a política monetária em espera até que o choque de inflação decorrente das tarifas seja superado,” escreveram analistas do Nomura.

Os impactos das tarifas de Trump serão sentidos além das fronteiras dos EUA. Se os parceiros comerciais americanos responderem com suas próprias tarifas sobre importações, “haverá um aumento global na inflação, enquanto o impacto resultante sobre o comércio mundial afetará negativamente o crescimento,” disse o economista-chefe da Investec, Philip Shaw, e a economista Ellie Henderson.

“Com o dólar em alta, países que importam commodities cotadas em dólar podem ver aumento nos preços, o que precisará ser absorvido pelas empresas ou repassado aos consumidores,” disse Streeter.

Por outro lado, a desinflação poderia ser reforçada em economias com níveis de tarifa mais baixos do que nos EUA, caso a China despeje seus produtos excedentes nesses países, afirmou Anthony Kettle, gerente de portfólio de mercados emergentes na RBC Global Asset Management.

China e Alemanha em risco

A BMI, uma empresa de pesquisa de mercado pertencente à Fitch Solutions, argumenta que México e Canadá podem estar na “linha de frente” das tarifas devido à sua dependência das exportações para os EUA.

“Acreditamos também que Trump poderia decidir implementar tarifas ainda mais altas em economias com grandes superávits comerciais em relação aos EUA,” escreveram analistas da BMI. 

O México tem um grande superávit comercial com seu vizinho do norte e, junto com países como China, Japão, Alemanha e Coreia do Sul, “poderia enfrentar mais pressão para aumentar a demanda por produtos dos EUA.”

A BMI também afirmou que uma tarifa de 60% sobre produtos chineses afetaria o crescimento econômico da China entre 0,5 e 0,8 pontos percentuais nos próximos dois anos.

Exportadores alemães, para quem os EUA são o maior mercado fora da União Europeia, também devem esperar “perdas significativas” se Trump impor uma tarifa de 20% sobre todos os parceiros comerciais, alertou o Instituto Ifo para Pesquisa Econômica, com sede em Munique.

O instituto estima que as exportações alemãs para os EUA poderiam cair cerca de 15% como resultado. “O curso econômico de Donald Trump representará grandes problemas para a Alemanha e para a União Europeia,” afirmou.

Este conteúdo foi originalmente publicado em Como retorno de Trump coloca sob risco corte de juros do Fed e inflação global no site CNN Brasil.

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