Família envenenada com baião de dois: padrasto preso diz ter nojo e raiva da enteada, mas nega crime à polícia


Francisco de Assis da Costa foi preso nesta quarta (8) como principal suspeito de envenenar e matar quatro integrantes da própria família. Outros cinco, incluindo ele, foram hospitalizados e uma permanece internada. Padastro de mulher e jovem envenenados é preso suspeito do crime que matou quatro pessoas
Francisco de Assis Pereira da Costa, de 53 anos, relatou, em depoimento à polícia, que tinha nojo e raiva da enteada Francisca Maria da Silva, de 32 anos. A informação foi divulgada em coletiva de imprensa, na manhã desta quarta-feira (8), em Parnaíba, no Litoral do Piauí, após a prisão temporária do homem, que, apesar das afirmações, negou o crime.
A Polícia Civil do Piauí (PCPI) apontou Francisco de Assis como o principal do suspeito de envenenar o baião de dois consumido por grande parte da família no dia 1º de janeiro. Nove pessoas foram hospitalizadas, incluindo ele, quatro morreram, quatro tiveram alta e uma permanece internada na UTI (veja mais detalhes abaixo).
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Apesar da hospitalização, a polícia acredita que o padrasto não chegou a ingerir o alimento. Apenas simulou que iria comê-lo, colocando-o no prato. Sobre os depoimentos do suspeito, a polícia destacou a forma como ele se referia aos enteados, principalmente a Francisca Maria e aos filhos dela, dos quais dois morreram e uma permanece hospitalizada.
“Ele revelou, bem como as enteadas, que o relacionamento entre eles era conturbado, para dizer o mínimo. Ele não falava com nenhum dos filhos da esposa e tinha um sentimento de ódio específico em relação à Francisca Maria, mãe das crianças”, informou o delegado Abimael Silva.
“Esse sentimento de ódio era tão grande que mesmo com ela no leito da morte, ele não conseguia esconder isso no depoimento dele. Ele disse que quando olhava para ela sentia nojo e raiva. Isso são palavras dele no depoimento dele”, completou o delegado.
Ainda segundo o delegado, ele sentia desprezo pelos filhos de Francisca Maria. “Chamava-os de ‘primatas’, pessoas não higiênicas, pessoas que ele não queria conviver, mas suportava”, afirmou o delegado.
“Ele chegou a falar para a esposa: ‘essa tua filha não procura um homem que trabalhe, só procura vagabundo’, e manifestou várias vezes o desejo de que ela saísse de casa. Ele disse que uma vez ela alugou uma casa, onde foi morar com os filhos, e isso deu um pouco de ‘alívio'”, disse Abimael Silva.
Contudo, o delegado Williams Pinheiro afirmou que a investigação ainda está em andamento. “Não estamos dizendo que ele é o culpado, que ele cometeu o crime. É provável que ele seja, mas não se deve antecipar o julgamento”, pontuou.
Padrasto de mulher morta por envenenamento no PI é preso suspeito do crime
Elbert Ribeiro/TV Clube
Vítimas do envenenamento
As quatro pessoas que morreram foram:
Manoel Leandro da Silva, de 18 anos (enteado de Francisco)
Francisca Maria da Silva, de 32 anos (enteada de Francisca)
Criança de 1 ano (filho de Francisca)
Criança de 3 anos (filha de Francisa)
A pessoa que permanece internada é a única filha sobrevivente de Francisca Maria, uma menina de 4 anos, que está na UTI do Hospital de Urgência de Teresina (HUT).
O veneno utilizado, segundo o Instituto de Medicina Legal (IML), foi o terbufós, produto químico altamente tóxico, usado em pesticidas e na composição do chumbinho. A venda dele é proibida no Brasil.
Ao ser consumido por humanos, o terbufós ataca o sistema nervoso central e a comunicação entre músculos. Ele causa tremores, crises convulsivas, falta de ar e cólicas. Os efeitos aparecem pouco tempo depois da exposição ao veneno e podem deixar sequelas neurológicas e causar a morte.
Veja, abaixo, quem ingeriu o alimento:
Manoel Leandro da Silva, de 18 anos (enteado de Francisco de Assis) – morto;
Igno Davi da Silva, de 1 ano e 8 meses (filho de Francisca Maria) – morto;
Lauane da Silva, de 3 anos (filha de Francisca Maria e irmã de Igno Davi) – morta;
Francisca Maria da Silva, de 32 anos (mãe de Lauane e Igno Davi e irmã de Manoel) – morta;
Uma menina de quatro anos (filha de Francisca Maria e irmã de Lauane e Igno Davi) – internada em Teresina;
Uma adolescente de 17 anos (irmã de Manoel) – recebeu alta;
Maria Jocilene da Silva, de 32 anos (vizinha) – recebeu alta;
Um menino de 11 anos (filho de Maria Jocilene) – recebeu alta.
Em agosto, dois meninos da mesma família, de 7 e 8 anos de idade, morreram depois de comerem cajus também envenenados. A polícia, no entanto, não vê relação com o envenenamento da última semana. Uma vizinha que tinha dado o caju para as crianças está presa por homicídio duplamente qualificado.
Montagem mostra Francisca Maria da Silva, a filha Lauane da Silva, o filho Igno Davi da Silva, e o irmão Manoel Leandro da Silva
Montagem/g1
Como foi a refeição em família
O baião de dois tinha sido preparado pela própria família em 31 de dezembro, dia anterior às internações. Segundo o médico Antônio Nunes, diretor do IML, o veneno foi colocado em grande quantidade na comida. “Estava em todo o arroz, em grânulos visíveis”, comentou o médico.
A família também comeu um peixe que tinha sido doado na noite anterior. Inicialmente, houve uma suspeita de que ele pudesse estar estragado ou envenenado, mas a perícia afastou esta hipótese. O casal que deu o peixe à família não é considerado suspeito pela polícia.
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No dia 31 de dezembro de 2024, noite de réveillon, a família preparou uma ceia para comemorar a virada: carne, feijão tropeiro e baião de dois. Todos comeram e ninguém passou mal.
No dia seguinte, 1º de janeiro, eles comeram o que tinha sobrado junto com o peixe que tinha sido doado. Poucos minutos depois, começaram a sentir os efeitos do envenenamento.
Segundo o delegado, o veneno foi colocado no arroz no dia 1° de janeiro, porque a família comeu o mesmo prato, da mesma panela, na noite de réveillon.
“No dia 31, a família fez o baião de dois e consumiu, mas ninguém passou mal. Só depois do meio dia do dia 1º começaram a sentir os efeitos”, comentou o delegado.
Laudo confirma envenenamento em almoço de família no Piauí
Reprodução/TV Globo
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