As discussões no Brasil (por Ricardo Guedes)

As discussões no Brasil são muito pouco racionais. Em nosso modelo político e cultural Latino-Americano, o tema geral se mistura com o tema pessoal, prevalecendo o pessoal sobre o público. No mundo Anglo Saxão, observa-se a separação das esferas individual e social, cada uma com regramentos distintos.

A Revolução Protestante aboliu a instituição da Igreja Católica da confissão, cada indivíduo tendo que proceder corretamente na média da vida para merecer os céus. O indivíduo e o público se separam, o indivíduo com razões éticas e no público com atitudes racionais. O homem pode ter ideias pessoais e ao mesmo tempo ser racional no comportamento social. Weber em A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo mostra a compatibilidade entre a individualidade e o desenvolvimento no novo paradigma social. Assim, o Norte da Europa, protestante, foi à frente, favorável ao capitalismo, e o Sul da Europa, católico, ficou para trás, contra a individualização e a atividade empresarial.

No Brasil, quando se “perde” uma discussão temática, o indivíduo imediatamente “ataca” a outra pessoa, desmoralizando a fonte ao invés de contra-argumentar no racional. Assim, no hemisfério norte, via de regra, pode-se discutir um assunto e continuar amigos; aqui, inimigos para sempre. Aqui, a ciência não se desenvolve, lá vai para a frente. Lá, a terra é redonda, aqui é plana.

Nossos formatos políticos também se diferem. No hemisfério norte, a democracia, como campo das discussões racionais sobre o que fazer, mantida a individualidade. No hemisfério sul, a apropriação indébita do bem público pela classe dominante, sob argumentos e justificativas sub execráveis. Weber em Economia e Sociedade escreveu sobre três tipos distintos de estruturas políticas, a racional, do ordenamento econômico e jurídico, a carismática, das transformações sociais, e a patrimonial, onde um grupo se apodera do Estado para o seu benefício próprio.  Weber tinha a Rússia em mente quando escreveu sobre o patrimonialismo. O Brasil e a Rússia têm muito mais em comum do que se possa imaginar. Na Rússia, a burocracia, e no Brasil, a classe política, dois estamentos de apropriação do bem público pela classe dominante.

Deste jeito, não vai.

Ricardo Guedes é Ph.D. pela Universidade de Chicago e CEO da Sensus

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