Morte de influenciador em SC: médicos alertam para riscos da anestesia geral em tatuagens

O influenciador Ricardo Godói morreu na segunda-feira (20), em Itapema, Litoral Norte de Santa Catarina, após a aplicação de anestesia geral para fazer uma tatuagem. Médicos apontam que a prática requer uma série de cuidados.

Influenciador Ricardo Godói morreu em Itapema

O influenciador Ricardo Godói pretendia fazer uma tatuagem nas costas e optou pela anestesia geral – Foto: @ricardo.godoi.oficial/Instagram/ND

Ricardo Godói optou pela anestesia para não sentir dor ao tatuar as costas e veio a óbito em um hospital particular de Itapema. A família disse à NDTV Record que ele teria usado anabolizantes por anos, mas parou há cinco meses, pois a esposa estava tentando engravidar.

O influenciador de carros de luxo deixa a mulher e quatro filhos. A Polícia Civil deve ouvir testemunhas nos próximos dias para prosseguir com a investigação do caso.

Quais os riscos de procedimentos eletivos não médicos com anestesia geral?

Médicos aplicam anestesia geral em paciente

A anestesia para tatuagens não é proibida, mas requer uma série de cuidados – Foto: Canva/Divulgação/ND

Segundo o cardiologista Raphael Boesche Guimarães, reações alérgicas, instabilidade cardiovascular e complicações graves, como paradas cardiorrespiratórias, podem ocorrer mesmo em pacientes saudáveis.

“Esse é um procedimento que deve ser feito exclusivamente em ambientes controlados, com monitoramento contínuo e equipe treinada para responder prontamente a complicações”, explica.

O médico ressalta que a anestesia geral para tatuagens, embora não seja proibida, deve ser tratada com extremo rigor. Nesses casos, a consulta pré-anestésica é essencial para avaliar os possíveis riscos.

Médico anestesista com seringa na mão

A anestesia deve ser aplicada por médicos anestesiologistas qualificados, em ambiente controlado- Foto: Divulgação/Freepik/ND

“A análise de fatores como saúde cardiovascular é indispensável. Sem essa avaliação criteriosa, o risco de complicações graves aumenta significativamente”, alerta.

O paciente também deve assinar um termo de consentimento informado, em que reconhece os riscos do procedimento. Segundo o Dr. Raphael Boesche Guimarães, o influenciador sofreu complicações ainda na fase inicial sedação, o que expôs a necessidade de maior cautela.

“A parada cardiorrespiratória no início da sedação pode indicar a ausência de protocolos adequados ou condições de saúde não identificadas previamente. Isso reforça a importância de uma avaliação rigorosa e do cumprimento de todas as normas de segurança”, ressalta.

Cardiologista aponta três pilares fundamentais para a segurança da anestesia:

  1. Avaliação prévia completa: É indispensável identificar condições que possam aumentar os riscos, como problemas cardiovasculares;
  2. Análise de riscos e benefícios: A decisão de utilizar anestesia geral deve levar em conta se o benefício realmente compensa os perigos;
  3. Cumprimento de protocolos médicos: Apenas equipes qualificadas e ambientes preparados devem realizar procedimentos com anestesia geral.

“A segurança deve ser sempre a prioridade. Mesmo em contextos aparentemente simples, os riscos não podem ser subestimados”, conclui.

Anestesia para tatuagens é permitida? Entenda o que dizem as autoridades

Mulher tatuadora

Em Santa Catarina, não há nada que impeça médicos de anestesiarem pacientes para fazer uma tatuagem – Foto: Freepik/Reprodução/ND

Ao ND Mais, o Dr. Ricardo Zanlorenzi diretor presidente da Saesc (Sociedade de Anestesiologia do Estado de Santa Catarina), afirmou que as sociedades regionais têm visto uma grande quantidade de anestesistas trabalhando com tatuadores no último ano, especialmente em São Paulo.

Ele explica que existem até mesmo equipes especializadas em anestesia para tatuagens, todas elas em ambientes hospitalares. Porém, pelo CFM (Conselho Federal de Medicina), os médicos só poderiam realizar anestesia para outros médicos ou para dentistas habilitados.

Em 2024, o CRM-SC (Conselho Regional de Medicina de SC) respondeu uma consulta afirmando que não existe nada que impeça legalmente um médico de realizar anestesia, em um estabelecimento de saúde, para o paciente tatuar uma parte do corpo.

Cirurgia eletiva com anestesia geral

Os profissionais devem realizar exames pré-anestésicos e explicar os riscos do procedimento ao paciente – Foto: Maurício Vieira/Secom

Zanlorenzi explica que, a partir deste parecer, está permitido desde que sejam cumpridos os critérios da resolução n° 2.174/2017, a qual todos os médicos anestesistas devem se submeter para a segurança do paciente.

Entre as exigências, está uma estrutura que ajude a atender intercorrências que, segundo o Dr. Ricardo, acontecem por uma questão estatística. O procedimento precisa ocorrer em um hospital, com um médico anestesiologista qualificado.

“O anestesista está muito mais capacitado que um cardiologista para atender uma parada cardiorrespiratória, temos treinamentos recorrentes. Temos inclusive no Brasil a Sociedade Brasileira da Anestesia, que é uma vanguarda no mundo, temos curso especial para intercorrências em anestesia, que o nome é Suporte Avançado de Vida em Anestesia e esse curso é ministrado pelo Brasil inteiro”, destaca o especialista.

Como apontou o Dr. Raphael Boesche Guimarães, também é necessária a realização de exames pré-anestésicos e a explicação ao paciente sobre os riscos do procedimento.

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