Dia da Visibilidade Trans: paraense é coroada Miss Beleza T Brasil em momento marcado por aumento no reconhecimento de gênero no Pará


Conheça Isabella Pamplona, a artista e maquiadora coroada no domingo, 26, com título que busca valorização de mulheres transexuais e travestis. Isabella Pamplona, Miss Beleza T Brasil 2025
Divulgação
A artista e maquiadora paraense Isabella Pamplona, de 27 anos, foi coroada como Miss Beleza T Brasil 2025, no último domingo (26). A coroação ocorre no momento em que o Pará registra crescimento de 180% em reconhecimento de mudança de gêneros.
Nesta quarta-feira (28), Dia Nacional da Visibilidade Trans, o g1 entrevistou a pessoa eleita para o título que busca a valorização de mulheres transexuais e travestis.
Em 2024, o Pará fechou o ano com 180% no número de pessoas que alteraram o sexo diretamente em cartórios de Registro Civil. Foram 34 pessoas que alteraram o registro de masculino para feminino, enquanto 19 mudanças de feminino para masculino foram realizadas. Além disso, houve 3 alterações de nome sem mudança de gênero.
Dados do Portal da Transparência do Registro Civil, administrado pela Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen-Brasil), o aumento representa 56 mudanças de sexo com relação a 2023, que teve apenas 20.
Para Isabella, o salto nos registros tem relação direta com iniciativas da sociedade civil, como a Rede Paraense Trans, que facilita o acesso à informação sobre como reconhecer a identidade de forma legal, processo importante para o exercício de direitos adquiridos pela população trans e e travesti, além da proteção perante a lei.
“Eu, por exemplo, faço parte dessa estatística, pois fiz o meu reconhecimento em 2024. Já temos esse direito há um tempo, mas sempre faltou mais esclarecimento sobre onde ir, quais as documentações necessárias”, afirma.
Desde 2018, as pessoas trans têm o direito de realizar alterações no nome e gênero diretamente nos cartórios, sem a necessidade de autorização judicial, laudos médicos ou cirurgias.
A decisão, tomada pelo Provimento nº 73 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), simplificou o processo, o que justifica o crescimento.
Concurso vai além de premiar a beleza trans
Paraense Isabella Pamplona
Lucas Amim e Gabriel de Jesus
Isabella conta que o concurso de beleza vai muito além de celebrar, de fato, a beleza da mulher trans.
“Mulheres cisgênero sempre tiveram esse direito de eleger as suas belezas, então é justo que a gente possa também”.
E a importância do concurso também é de levar benefícios, como dar visibilidade à mulher trans, que sempre sofreu preconceito no país, e levar conhecimento para a sociedade sobre elas.
“É importante que a gente conheça as novas gerações de mulheres trans, porque quanto mais a gente conhece essas pessoas, de onde elas vieram e os lugares em que elas estão ocupando, mais a gente ajuda a combater o preconceito pela falta de conhecimento, que vem da ignorância”, explica.
Vencedora do concurso veio da periferia paraense
Isabella Pamplona nasceu e foi criada no conjunto Satélite, no bairro do Coqueiro, em Belém. A modelo relembra que teve uma infância simples, apesar de reconhecer os privilégios que foram conquistados com muita luta pelos pais.
“Meus pais sempre trabalharam muito para nos sustentar e nos ajudar com privilégios, o que me ajudou a estudar em escola pública e particular, e posteriormente entrar numa faculdade particular, mesmo com bolsa. Esse é um discurso que eu sempre enfatizo: crescer por meio de trabalho”.
Sobre a trajetória e os obstáculos enfrentados durante a vida, Isabella conta que não foi fácil o processo de transição, mas que quando os outros estão aberto para o conhecimento e para o amor, essa barreira pode ser quebrada.
“Tive um processo de preconceito com a família porque acaba sendo difícil, mesmo, eles se acostumarem com um nome diferente do que eles deram, com a pessoa diferente do que eles criaram. Mas eu acredito que não precisamos matar uma pessoa para substituir por outra. Eu sou a mesma pessoa de antes, apenas performava um gênero diferente durante minha juventude, mas quando a família se permite a amar e aprender toda a barreira é quebrada “, pontua.
Isabella ainda aponta que a população trans e travesti vive um momento em que muitos direitos estão sendo conquistados, muito por conta de representantes da classe, principalmente mulheres, que vem ocupando espaços políticos.
“Eu sinto que hoje a gente tem algumas representantes muito importantes que estão na política, lutando para conquistar novos acessos ao nosso corpo que, muitas vezes, é marginalizado na sociedade. Muitas não tiveram acesso ao estudo por causa da evasão escolar, o bullying. Mas, mesmo que ainda tenhamos chegado onde deveríamos, estamos a caminho”, reflete.
Como realizar o procedimento de mudança de gênero
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Para realizar o procedimento de alteração de gênero e nome em Cartório, é necessária a apresentação dos documentos pessoais, como:
RG, CPF e demais documentos;
comprovante de endereço;
certidões dos distribuidores cíveis, criminais estaduais e federais do local de residência dos últimos cinco anos;
certidões de execução criminal estadual e federal, dos Tabelionatos de Protesto e da Justiça do Trabalho;
Após a apresentação dos documentos, o oficial de registro deve realizar uma entrevista com o (a) interessado, seguindo uma cartilha completa de orientação.
Eventuais apontamentos nas certidões não impedem a realização do ato, cabendo ao Cartório de Registro Civil comunicar o órgão competente sobre a mudança de nome e sexo, assim como aos demais órgãos de identificação sobre a alteração realizada no registro de nascimento.
A emissão dos demais documentos devem ser solicitadas pelo (a) interessado (a) diretamente ao órgão competente por sua emissão.
Não há necessidade de apresentação de laudos médicos e nem é preciso passar por avaliação de médico ou psicólogo.
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