Os 10 anos da epidemia da zika: o que a ciência já descobriu sobre o vírus


O vírus que causou tantos danos ao cérebro de bebês agora está sendo testado como um possível aliado no combate ao câncer no cérebro. Aedes aegypti é o transmissor da chikungunya, dengue, Zika e febre amarela
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O Fantástico deste domingo (16) relembrou os 10 anos da epidemia de zika no Brasil. A reportagem destacou o que a ciência descobriu nesse período e como o vírus que causou tantos danos pode ser usado no combate ao câncer. Saiba mais abaixo.
Zika e a relação com toxinas e pesticidas
Apesar de uma década de estudos, os cientistas ainda buscam respostas sobre os danos causados pelo vírus no cérebro de bebês cujas mães tiveram zika na gravidez.
Uma das pistas vem do Nordeste. No Agreste, onde a seca é intensa, a população depende de açudes sem tratamentos para ter água, quando a chuva some. Estudos já tinham comprovado a presença de uma toxina resistente e perigosa nesses reservatórios, a saxitoxina. Ela se reproduz e se torna ainda mais tóxica quando o nível dos açudes fica mais baixo.
Durante a epidemia de zika, a seca na região era histórica — e a concentração da toxina ficou ainda maior.
Em 2019, testes em camundongos apontaram que a saxitoxina agravava os efeitos do vírus da zika no cérebro dos filhotes. As pesquisas mais recentes foram publicadas no ano passado e mostram como a saxitoxina provoca esse agravamento.
“Na pesquisa de 2024, identificamos que neurônios já formados, que normalmente não seriam suscetíveis ao vírus da zika, passavam a ser”, comenta Stevens Rehen, pesquisador do Instituto D’Or.
O Centro-Oeste também entrou na mira dos cientistas. Estados como Mato Grosso e Goiás registraram muitos casos de microcefalia relacionados à zika. A suspeita é de que o uso de pesticidas, em especial o herbicida 2,4D, possa ter potencializado os danos cerebrais.
“De todos os analisados, o pesticida 2,4-D foi o que mais exacerbou o dano neural causado pelo vírus. Em 2023, o consumo desse herbicida foi de 15 mil toneladas no Centro-Oeste e 13 mil toneladas no Sul”, comenta Flavio, pesquisador da Fiocruz.
Combate ao câncer
O vírus que causou tantos danos ao cérebro de bebês agora está sendo testado como um possível aliado no combate ao câncer no cérebro. Pesquisadores do Centro do Genoma da USP descobriram que a zika destrói um tipo específico de célula presente nos tumores cerebrais: as neuroprogenitoras.
O estudo, publicado na renomada revista “Cancer Research”, em 2018, mostrou que o vírus pode ajudar a reduzir tumores agressivos que ainda têm taxa de mortalidade próxima a 100%.
“Então surgia a próxima questão: será que o vírus da zika também poderia atacar esses tumores? E a resposta foi sim”, diz Mayana Zatz, geneticista da USP.
Em testes com camundongos, o vírus reduziu os tumores e, em um terço dos casos, a doença desapareceu completamente. O próximo passo foi testar o tratamento em cães com câncer cerebral avançado.
“E aí soubemos que os cães podem desenvolver tumores espontaneamente, muito parecidos com tumores humanos. Os tumores regrediram, os cães melhoraram muito clinicamente e houve um aumento significativo na expectativa de vida.”, relata a pesquisadora Mayana Zatz.
Caso Nina: o cão que viveu nove meses a mais
A cadela Nina, que inspirou a pesquisa, tinha um tumor agressivo e uma expectativa de vida de apenas duas semanas. Com o tratamento experimental, sobreviveu mais nove meses e com qualidade de vida.
Os pesquisadores do Centro do Genoma da USP seguem avançando nos estudos. O objetivo agora é testar o método em humanos.
“Agora nós estamos pensando em testar em humanos e a gente espera que até o final do ano a gente consiga.”
Veja a reportagem completa no vídeo abaixo:
Os dez anos da epidemia de zika: como estão as crianças que nasceram com microcefalia?
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