Milei busca renovar política externa e renegociação com FMI em viagem aos EUA

O presidente eleito da Argentina, Javier Milei, se reuniu nesta terça-feira (28) com autoridades dos Estados Unidos em Washington, enquanto procura formular um plano para remodelar a política externa do país e tirar sua economia da crise.

Seguindo esse plano, a equipe econômica de Milei também teve um encontro com integrantes do Fundo Monetário Internacional (FMI).

O líder argentino disse a repórteres ao deixar a Casa Branca que sua reunião foi “excelente”. Entre os presentes estavam o conselheiro de segurança nacional dos EUA, Jake Sullivan, e Juan Gonzalez, diretor sênior do Conselho de Segurança Nacional dos EUA para o Hemisfério Ocidental.

“Conversamos sobre as condições econômicas e sociais na Argentina neste momento”, afirmou Milei antes de ser levado em seu carro oficial. Ele se alinhou com os valores ocidentais, segundo pontuou seu gabinete mais tarde.

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Javier Milei, um libertário de extrema-direita, toma posse em 10 de dezembro. Ele venceu as eleições neste mês, prometendo reformas radicais, como a dolarização e a austeridade “de choque” para consertar a economia argentina.

A inflação no país sul-americano está perto de 150%, as reservas em moeda estrangeira estão no vermelho e uma recessão se aproxima.

A política externa de Milei, entretanto, é descaradamente pró-Estados Unidos e pró-Israel, com uma posição mais fria em relação aos principais parceiros comerciais, o Brasil e a China.

“Milei é um unicórnio, o líder de uma grande economia latino-americana que é ostensivamente pró-americano”, disse Benjamin Gedan, diretor do programa para a América Latina do grupo de reflexão Wilson Center, com sede em Washington.

Embora a nova equipe do presidente eleito tenha procurado moderar as críticas anteriores à China e ao governo brasileiro, a viagem aos Estados Unidos antes de sua posse ressalta suas prioridades.

Ele também prometeu não aderir ao grupo comercial dos Brics, liderado pela China. Esta é uma mudança drástica na abordagem que Alberto Fernandez, atual presidente argentino de centro-esquerda, adotou.

Ele visitou Moscou enquanto Vladimir Putin preparava a invasão da Ucrânia, em fevereiro do ano passado, e voltou recentemente de uma visita a Pequim.

A pergunta de US$ 44 bilhões

Milei também precisa colocar o acordo de US$ 44 bilhões de dólares da Argentina com o Fundo Monetário Internacional de volta aos trilhos, com o apoio dos EUA – o maior acionista da instituição – fundamental para qualquer reformulação.

A diretora-gerente do FMI, Kristalina Georgieva, disse nesta terça-feira que se encontraria com Milei na sede do credor, mas a reunião não aconteceu. O FMI não respondeu a um pedido de comentário sobre o assunto.

Ainda assim, os assessores econômicos de Milei, Nicolás Posse e Luis Caputo, se reuniram com Gita Gopinath, “número 2” do FMI, e outros funcionários do fundo, disse a instituição em outra nota.

“[Eles] discutiram os complexos desafios e planos do país para reforçar urgentemente a estabilidade e estabelecer as bases para um crescimento mais sustentável”, afirmou.

A Argentina é de longe o maior devedor mundial do FMI, mas seu programa saiu dos trilhos, e a instituição tem perdido a paciência. O programa é usado principalmente para reembolsar o fundo por um aporte fracassado de US$ 57 bilhões de 2018.

Durante a campanha, Javier Milei prometeu dolarizar a segunda maior economia da América do Sul, embora pareça ter colocado isso em segundo plano enquanto tenta reverter um profundo déficit fiscal e conter a inflação.

No entanto, ele manteve as promessas de que mudará radicalmente o mandato do Banco Central argentino.

O FMI afirmou no passado que a dolarização não substitui uma política macroeconômica sólida. A falta de um quadro político ortodoxo sob a atual administração e um aumento acentuado nas despesas financiadas pelo Banco Central no período que antecedeu as eleições presidenciais prejudicaram ainda mais a economia argentina.

Milei e funcionários do FMI tiveram uma primeira reunião virtual na sexta-feira, que Georgieva chamou de “compromisso muito construtivo”.

O gabinete de Milei pontuou que a reunião com o FMI fazia parte do protocolo para explicar o plano econômico da nova equipe, e não era uma busca de mais financiamento.

Kristalina Georgieva, no entanto, destacou à Reuters em uma entrevista que o Fundo Monetário Internacional está “muito interessado” em apoiar a Argentina e que o país poderia ser candidato a receber uma quantia relativamente pequena de financiamento extra através de um fundo fiduciário para países de rendimento médio.

Posse e presença de Trump

A posse de Javier Milei está marcada para 10 de dezembro. Mesmo tendo recebido apoio de Donald Trump, ele provavelmente não contará com a presença do ex-presidente dos Estados Unidos, segundo disse uma pessoa familiarizada com o assunto à Reuters na segunda-feira.

A assessoria de imprensa do libertário argentino havia anunciado em 23 de novembro que Trump viajaria a Buenos Aires, mas não informou especificamente se ele compareceria à posse.

Uma fonte próxima à campanha de Donald Trump, que atualmente está buscando a indicação de seu partido para reconquistar seu antigo cargo nas eleições do próximo ano nos EUA, citou um cronograma de campanha apertado como o provável impedimento.

“Não há nada planejado no momento. Com os caucuses de Iowa, New Hampshire e o restante das primárias se aproximando tão rapidamente, isso é algo que seria difícil no curto prazo”, explicou a fonte.

Ela ainda ressaltou que as primeiras votações primárias presidenciais estão marcadas para o início do próximo ano.

Este conteúdo foi originalmente publicado em Milei busca renovar política externa e renegociação com FMI em viagem aos EUA no site CNN Brasil.

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