Pampulha: Grande potencial para turismo e esportes

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Basta caminhar ao longo da orla da Lagoa da Pampulha, que interliga o conjunto arquitetônico reconhecido há sete anos como Patrimônio Mundial, para ver que a região se agigantou – o que fica mais evidente na comparação entre uma foto do passeio de barco com seis pessoas, do início dos anos 1950, e outra de agora, ambas tendo a Igrejinha como cenário. Em cada canto, há uma profusão de turistas interessados em ver as obras projetadas por Niemeyer. “O conjunto moderno é a razão de ser da Pampulha”, define o arquiteto Flávio Carsalade, professor da UFMG e coordenador técnico do dossiê entregue à Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e Cultura (Unesco) para reconhecimento da Pampulha como Patrimônio Mundial. Na avaliação do especialista, a Pampulha enfrenta dois desafios: combate à poluição da lagoa e aproveitamento do potencial que tem.
 
“A região cresceu, mas está muito aquém do que pode oferecer a moradores e visitantes, e mesmo na atração de serviços, como bares e restaurantes. Com a água, limpa, torna-se possível recuperar os esportes náuticos e fortalecer os atrativos turísticos em harmonia com a preservação dos patrimônios cultural e ambiental”, destaca Carsalade. O título concedido pela Unesco, observa, deu mais visibilidade e aumentou a responsabilidade das autoridades, embora o fechamento do MAP seja um gargalo nesse cenário. “Há problemas, mas, agora, temos uma data importante a ser comemorada.”
 
 
 
A conquista do título de Patrimônio Mundial abriu portas e criou oportunidades para negócios, geração de emprego e renda e aumento no fluxo de turístico. De acordo com a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), a capital foi incluída, juntamente com Ouro Preto, Congonhas e Diamantina, na maior rede de sítios da Unesco em um único estado, formando o conjunto de patrimônios mais significativos do Brasil e aumentando a atratividade e competitividade turística da cidade. Atualmente, há 800 restaurantes, 540 bares, 700 lanchonetes, 36 pontos de aluguel de bicicleta e 24 hotéis (65% dos turistas que vêm a BH pernoitam pelo menos uma noite na cidade, e 31% desse público escolhe a Pampulha para se hospedar).
 
Os novos empreendedores na área de lazer demonstram confiança. “Ponho a maior fé na Pampulha. Penso que, em cinco anos, a orla estará tomada por estabelecimentos, a exemplo de bares e restaurantes. Por uma questão de segurança, as pessoas estão deixando as casas e mudando para condomínios. Há muitas residências com a placa de vende-se na fachada”, diz Cláudia Rodrigues, a Claudinha Fuzarka, dona do Seu Pai Bar e Drinkeria, no Bairro Jardim Atlântico, perto da barragem. Entre os atributos da região, Cláudia destaca a paisagem privilegiada e a beleza da região.
 
Aberto há 53 anos, o Zoo Bar Peixes e Carnes, a 100 metros do Jardim Zoológico, se mantém graças a “muito trabalho, persistência e qualidade no serviço”, diz o proprietário Wendel Gomes Ferreira, que está na terceira geração do restaurante iniciado em 1969 pelo seu tio Enock Gomes Ferreira. “Somos anteriores à lei, de 1970, que impedia comércio na região”, afirma. Ele vê potencial para negócios na Pampulha, que atrai muitas famílias para o lazer, embora lamentando a falta de infraestrutura, como bebedouros e banheiros públicos. “As autoridades precisam fiscalizar a quantidade de caminhões trafegando na orla”, ressalta.
 
Dono do Café Paddock, que comemora 20 anos, localizado entre a Toca da Raposa e o Zoológico, Fernando Nogueira dos Reis também critica a falta de infraestrutura para receber visitantes, na região. Ele também vê o local como de grande potencial gastronômico, mas aponta gargalos crônicos no cartão-postal de BH, sendo o pior de todos, a seu ver, a poluição das águas, que, entra ano e sai ano, continuam “sujas e fedorentas”, demandando gastos enormes de verbas.
 
Conforme a PBH, os atrativos da Pampulha vêm sendo usados cada vez mais pela população local por se tratar de um importante parque urbano e espaço de lazer para práticas esportivas e entretenimento. Dentro da visibilidade internacional que ganhou, o conjunto moderno se tornou atrativo promovido continuamente pela Belotur em diferentes feiras do setor, como as feiras de Viagens e Turismo da América Latina (WTM), da Associação Brasileira de Agências de Turismo (Abav) e de Turismo de Gramado (RS), entre outros eventos.

Sem solução

Para quem vive na Pampulha, há dois tipos de poluição que atacam todos os sentidos – e causam constante irritação – a água da lagoa e a sonora. “Já foram gastos milhões de reais e a lagoa continua poluída, com um cheiro horrível. É aquela situação do ‘enxugando gelo’, pois quando mais se investe em projetos, menos resultados temos”, indigna-se o vice-presidente da Associação Comunitária do Bairro Bandeirantes, José Américo Mendicino. Integrante da recém-criada União das Associações da Pampulha (UniPam), que congrega moradores dos bairros Bandeirantes, Ouro Preto, São José e São Luiz, Mendicino, ao lado de outras lideranças, vem denunciando a poluição sonora na região. “Não somos contra a geração de emprego e renda, e que as pessoas ganhem dinheiro. Nada disso. É preciso acabar com os abusos da música alta em bares, festas e shows, a qualquer hora. Trata-se de algo imoral”, reclama Mendicino.
 

Programação especial gratuita 

Para celebrar o aniversário de 80 anos e também os sete anos do título de Patrimônio Cultural Mundial, concedido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), bem, como a inscrição como Paisagem Cultural, a PBH oferece uma programação especial gratuita com atividades culturais, exposições, ações de formação, encontros educativos, mostras, publicações, pesquisas, documentários, intervenções e apresentações artísticas, entre outras atrações. As informações se encontram disponíveis no Portal Belo Horizonte: portalbelohorizonte.com.br/pampulha.
 
Para a secretária Municipal de Cultura de BH, Eliane Parreiras, a programação especial visa promover “o conhecimento e a reflexão sobre este importante patrimônio cultural de BH, que é marco da identidade cultural da cidade. É momento de celebrar, registrar, preservar e difundir o Conjunto Moderno da Pampulha como Paisagem Cultural”. Já a presidente da Fundação Municipal de Cultura, Luciana Féres, só vê benefícios na apropriação da Pampulha por todos: “É uma honra, e ao mesmo tempo uma grande responsabilidade para todos os brasileiros e belo-horizontinos, termos em nossa cidade um patrimônio cultural mundial, que agrega paisagismo, arquitetura e arte singulares do período moderno”.
 
Luciana Feres afirma ainda que a relação da composição arquitetônica e paisagística com o espelho d’água da Lagoa da Pampulha apresenta um importante capítulo da história mundial da arquitetura moderna. “Além de todos os valores existentes neste território como patrimônio cultural, sejam eles estéticos, históricos, urbanísticos, paisagísticos, artísticos, técnicos e sociais, quando falamos desse lugar como uma ‘paisagem cultural’, estamos também trazendo a questão da sua apropriação pelas pessoas. A relação das pessoas com essa paisagem cultural é o que garante sua valorização e preservação. Portanto, neste momento tão especial de celebração, promovemos a apropriação e vivência com o Conjunto Moderno da Pampulha.” 
 
Patrimônio do mundo
 
Museu de Arte da Pampulha (MAP)
O antigo cassino abriga, desde 1957, o Museu de Arte da Pampulha (MAP), que está fechado há três anos e oito meses. Constituía a âncora de todo o conjunto moderno, por ser o equipamento responsável pela atração do grande número de visitantes, desejado pelo então prefeito Juscelino Kubitschek quando do lançamento do projeto da Pampulha, em 1940. Segundo especialistas, é o edifício que apresenta a mais clara filiação aos princípios da arquitetura moderna, formulados pelo arquiteto Le Corbusier (1887-1965), com sua estrutura independente em concreto, planta e fachadas livres, moduladas pela estrutura, a qual surge como a própria expressão formal do edifício, também um importante atributo da arquitetura moderna.
Casa do Baile, atual Centro de Referência de Arquitetura, Urbanismo e Design
Destaque no conjunto moderno “pela graça e volume”, na visão dos estudiosos, a Casa do Baile foi concebida como equipamento urbano para ser um lugar de bailes, shows e restaurante, para proporcionar ao público, nos anos 1940, os encantos da nova região de BH. Fica em uma ilha artificial ligada à Avenida Otacílio Negrão de Lima apenas por uma pequena ponte. Há 20 anos, a Casa do Baile se tornou Centro de Referência de Arquitetura, Urbanismo e Design impulsionando diversas pesquisas apresentadas como exposições, workshops e ações formativas. Oscar Niemeyer acompanhou de perto o projeto.
 
 
 
Iate Tênis Clube
Concebido como equipamento público de lazer e esportes para a população, o projeto arquitetônico incluía piscinas, quadras esportivas e o acesso à lagoa para realização de atividades náuticas como o remo e a vela. Com suas linhas arquitetônicas modernas, o Iate, inaugurado em 1943, inaugurou no Brasil o telhado com inclinação em “V”, popularmente chamado “telhado borboleta”. Tendo as águas do telhado invertidas, ao contrário do que mandava a tradição, dava a impressão de um barco atracado às margens da represa. O clube abriga obras de arte de autoria de Candido Portinari e Roberto Burle Marx, como os painéis pintados no interior do salão de festas. 
 
Santuário Arquidiocesano São Francisco de Assis, a Igrejinha da Pampulha
Vinculado à Arquidiocese de BH e totalmente restaurado, o primeiro templo católico construído, no Brasil, dentro do espírito moderno no Brasil, representa também a obra mais polêmica do conjunto da Pampulha. Levou mais de 10 anos para ser reconhecido pela Igreja. No entanto, atualmente, a Igrejinha da Pampulha, como é popularmente conhecida, ganha elogios como obra-prima e cartão-postal do conjunto arquitetônico. 
 
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