Da vitrine da loja ao laboratório: sandália de juta pode servir como repelente contra o Aedes aegypti

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Pesquisa da UFMG estuda uso do calçado como forma de proteção contra dengue, zika e chikungunya. A juta é uma fibra têxtil de origem vegetal
Agência Pará/Divulgação
Sandálias feitas com juta, especialmente nos últimos anos, são fáceis de encontrar nas vitrines das lojas de calçados brasileiras, das mais simples às marcas de luxo.
Mas você sabia que, além de te deixar na moda, o item ainda pode te proteger de doenças transmitidas pelo Aedes aegypti, como dengue, zika e chikungunya?
De acordo com uma pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), sandálias confeccionadas em juta com aplicação de um tipo de inseticida ajudam a afastar o mosquito a até um metro de altura e sete metros de distância.
O que é juta?
Plantação de juta, no Pará
Carlos Kleber/Aruio pessoal
🌿 A juta é uma fibra têxtil, de origem vegetal, que vem de uma erva lenhosa.
🌿 Pode chegar a até 4 metros de altura, com talo de aproximadamente 20 milímetros de largura.
🌿 Cresce em climas úmidos e tropicais.
🌿 A fibra útil é retirada da parte que fica entre a casca e o talo interno, por maceração.
🌿 Foi introduzida no Brasil por imigrantes japoneses.
🌿 A Região Norte do país é responsável pela maior parte da produção nacional.
A pesquisa
Tales Ribeiro e os insetos criados em laboratório para a pesquisa
Alessandra Ribeiro / UFMG
A inovação foi desenvolvida na Tanzânia e adaptada para a realidade brasileira pelo biólogo Tales Batista Ribeiro.
O cientista se dedicou ao assunto durante o mestrado pelo Programa de Pós-graduação em Parasitologia do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da universidade federal.
Na primeira etapa, o projeto contou com financiamento da Usaid, agência de fomento dos Estados Unidos, e do Ifakara Health Institute (IHI), da Tanzânia. Agora, no doutorado, o biólogo dá continuidade à pesquisa.
“A pesquisa já comprovou que a sandália de juta repele mesmo o mosquito. A gente pode dizer que é o material, associado a um repelente químico, que é volátil e espacial, então ele fica no ar e cria uma área de proteção em quem está usando o item. Quando o mosquito entra na zona, ele identifica o odor do repelente e se afasta”, explica o pesquisador.
O cientista explica que o padrão de voo do Aedes aegypti é mais baixo, o que justifica a escolha da sandália, e não de um chapéu, por exemplo. A versatilidade do sapato, usado tanto por homens quanto por mulheres, é outro motivo.
As sandálias ainda não estão à disposição do consumidor final, mas a equipe que trabalha no projeto já está em busca de parceiros para escalonar a a produção segundo Tales.
Como foi feita a testagem?
🧪 Para avaliar o efeito da substância usada nas sandálias, o pesquisador fez testes em laboratório e no chamado semicampo, que se aproxima de uma situação real, mas tem algumas condições controladas, como temperatura e umidade.
🧪 Os mosquitos foram soltos dentro de uma estufa de tela, com voluntários que usavam protótipos dos calçados impregnados com diferentes concentrações do repelente.
🧪 Os insetos usados nos experimentos são criados em laboratório.
🧪 Os mosquitos passam por testes de PCR para verificar se tem dengue, zika ou outro vírus, dando segurança aos pesquisadores.
“Assim temos a certeza da idade do mosquito, do estágio fisiológico dele e, o mais importante, a garantia de que não esteja com um vírus que vá transmitir uma doença”, explica Tales.
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