Federação Espanhola de Futebol anula a expulsão de Vinicius Junior na partida contra o Valencia

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A polícia deteve 3 suspeitos dos ataques racistas de domingo (21) e prendeu 4 pessoas por terem pendurado um boneco com a camisa de Vini Junior enforcado em janeiro. Ministros do Brasil e da Espanha condenam, juntos, o racismo e a violência no esporte. Federação Espanhola de Futebol anula a expulsão de Vinicius Junior na partida contra o Valencia
A polícia da Espanha prendeu quatro pessoas e deteve três suspeitos na investigação dos atos racistas praticados contra o jogador do Real Madrid e da Seleção Brasileira Vinicius Junior.
A polícia suspeita que os quatro presos são os responsáveis por pendurar um boneco com a camisa de Vini Junior em uma ponte em janeiro de 2023, simulando um enforcamento. O crime aconteceu na capital espanhola antes do clássico entre Real Madrid, o clube de Vini, e Atlético de Madrid pelas quartas de final da Copa do Rei. O Real venceu por 3 a 1, e com um gol de Vini Junior. Além do boneco, havia uma faixa: “Madri odeia o Real”. Os suspeitos têm entre 19 e 24 anos, e três são integrantes de uma torcida organizada do Atlético.
Em Valencia, a polícia deteve outras três pessoas, torcedores do clube local, que estavam no estádio no domingo (21) na partida contra o Real Madrid. Eles foram identificados por terem cometidos atos racistas contra o jogador brasileiro – e vão enfrentar acusações de atentado aos direitos fundamentais e liberdades públicas. Os três prestaram depoimento e foram liberados, mas terão que comparecer ao tribunal quando houver qualquer solicitação da Justiça.
O Valencia voltou a afirmar que está cooperando com as autoridades na investigação e prometeu banir para sempre do estádio os torcedores culpados. Ainda disse que não tolera nenhum tipo de ataque racista e que o racismo não tem espaço no clube.
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No domingo (21), Vini Junior ouviu xingamentos fora e também dentro do estádio do Valencia, repetidas vezes. Até que aos 27 minutos do segundo tempo, o atacante identificou um dos torcedores que cometiam atos de racismo contra ele. Repetiu o gesto feito pela pessoa e o jogo ficou paralisado pelo juiz por 8 minutos.
O canal espanhol Gol Television divulgou imagens do que aconteceu durante esta paralisação. Ricardo de Burgos se encaminha para a lateral do campo e chama o delegado da partida, Luis Fernando Marco. Luis Fernando está de costas na imagem. Ricardo de Burgos diz a ele: “Foi visto ali um lançamento, que é quando algum torcedor atira algo em campo, e racismo. As duas coisas. Quero que o sistema de som do estádio avise. Ouvi a torcida gritando ‘macaco’. No próximo que gritarem ‘macaco’, temos que sair de campo”.
A conversa segue e o árbitro sinaliza: “Protocolo de racismo, é o primeiro aviso. Não vou recomeçar o jogo”, diz Ricardo. Os dois seguem na beira do campo e as imagens flagram Courtois, o goleiro do Real Madrid, falando para David Rangel, dirigente da equipe do Valencia: “Escuta, escuta. Estão falando ‘macaco’, ‘macaco’ para Vinicius”.
O árbitro vai então falar com Carlo Ancelotti, técnico do Real Madrid: “Tenho que avisar uma vez. Se voltar a acontecer, nós todos saímos de campo”. Ancelotti responde: “Eu ouvi, falaram ‘macaco’. Temos que parar a partida”. Ricardo de Burgos explica o protocolo: “Primeiro se avisa, na segunda vez, saímos de campo”. E Ancelotti diz: “Eles seguem gritando”.
Vinícius Júnior imita o abuso dirigido a ele por um torcedor no jogo Valencia x Real Madrid, em 21/05/2023
Reuters
Depois, a conversa passa a ser com Vini Junior: “Vini, me escuta, por favor”. E o árbitro insiste, querendo a atenção do atleta. Ele pede que Vinicius siga jogando e promete que, se o caso se repetir, vai interromper o jogo. O árbitro ainda pergunta se Vini confia nele.
Outro jogador brasileiro, o zagueiro Éder Militão, aparece para falar com o árbitro, que responde a ele: “Nós avisamos do protocolo de racismo, não posso fazer mais nada”. E novamente diz que vai paralisar o jogo se acontecer novamente: “Presta atenção em mim. O protocolo é assim. É uma vergonha, mas não posso mudar”.
Nesta terça-feira (23), a La Liga, entidade responsável pelo Campeonato Espanhol, informou que encaminha as denúncias aos órgãos competentes, como o Comitê de Competições da Federação Espanhola de Futebol, o Ministério Público e a Comissão de Estado Contra Violência, Racismo, Xenofobia e a Intolerância no Esporte.
A La Liga também se defendeu alegando que não tem atribuição para aplicar sanções aos envolvidos, e disse que nos próximos dias vai pedir alterações na legislação esportiva para que possa exercer esse poder de autoridade. O objetivo é ser mais ágil e eficiente na luta contra episódios como esse.
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A imprensa espanhola pediu ações mais firmes. “Não basta não ser racista, é necessário ser antirracista”, escreveu o jornal esportivo “Marca”. “Basta”, publicou o “Mundo Deportivo”.
A Federação Espanhola de Futebol informou que o arbitro de vídeo Iglesias Villanueva não vai atuar na próxima rodada. Ele mostrou ao árbitro somente o gesto que rendeu o cartão vermelho a Vini, e omitiu o mata-leão que o brasileiro sofreu de Hugo Duro, jogador do time adversário. A federação deve demiti-lo nos próximos dias.
A federação também anulou a expulsão de Vini Junior, fechou por cinco jogos o setor do estádio do Valencia de onde veio a maior parte dos insultos contra o atleta e multou o clube em aproximadamente R$ 240 mil.
O presidente do Real Madrid, Florentino Perez, reforçou que o ocorrido é muito grave, que o esporte é um lugar de respeito e de solidariedade e deixou claro: o Real Madrid não vai mais tolerar incidentes e insultos racistas contra nenhum dos seus jogadores.
Os ministérios da Igualdade Racial, do Brasil, e da Igualdade, da Espanha, emitiram uma nota conjunta condenando o racismo no esporte e a violência que ele gera; declarando solidariedade incondicional a Vini Junior; e insistindo que é obrigação das instituições competentes responder com a maior diligência para agir contra este e todos os casos que ocorrem no campo desportivo. O comunicado, com parágrafos em português e espanhol, é assinado pelas ministras brasileira, Anielle Franco, e espanhola, Irene Montero.
Nesta terça (23) , Vini Júnior relembrou um caso de racismo na Espanha que ocorreu com outro brasileiro. Em 1997, o lateral Roberto Carlos, que tinha chegado recentemente ao Real Madrid, foi perseguido por torcedores. Foi chamado de “macaco”, de “chimpanzé”, teve seu carro riscado e disse em uma coletiva uma vez: “Sempre que tocava na bola, o público fazia sons de macaco”.
“O racismo nos estádios espanhóis existia antes mesmo de eu ter nascido. O que mudou até hoje?”, questionou Vinicius Junior em uma rede social.
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