O ambicioso candidato que tocou fogo na própria candidatura

Quem disse?

“Não ampliemos o orçamento das Forças Armadas. Tenhamos, sim, o fim da GLO [Garantia da Lei e da Ordem] e revoguemos o artigo 142 da Constituição”.

Garantia da lei e da ordem é uma operação de policiamento realizada pelas Forças Armadas Brasileiras de forma provisória até o restabelecimento da normalidade da lei e da ordem pública.

A artigo 142 da Constituição: “As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.”

(É a leitura equivocada desse artigo que confere às Forças Armadas uma espécie de papel moderador entre os Poderes da República. Tal papel interessa aos militares e aos golpistas em geral.)

Quem disse ainda a propósito das Forças Armadas?

“São 40 anos gastando os tubos do contribuinte brasileiro, gastando dinheiro com submarino nuclear, satélite brasileiro e nunca chega ao destino. É um enterramento de dinheiro sem fim com essa obsessão de conteúdo nacional. Mentalidade da época do general Ernesto Geisel [presidente entre 1974 e 1979]. Não tem o menor sentido isso. Estamos gastando dinheiro com inimigos fictícios, míssil não sei de onde, bateria antiaérea para guerrear com quem?”

Quem disse não foi nenhum integrante do Movimento dos Sem-Terra (MST), alvo de uma CPI controlada na Câmara por deputados bolsonaristas de quatro costados.

Também não foi nenhum político do PT ou dos demais partidos de esquerda -,  tampouco membros do governo Lula que daqui a uma semana completará cinco tumultuados meses no poder.

O deputado Ricardo Salles (PL-SP), ex-ministro do Meio Ambiente de Bolsonaro, investigado nos Estados Unidos por contrabando de madeira nobre da Amazônia, foi quem disse todas essas coisas.

Os militares da ativa e da reserva estão indignados com Salles; a turma que cerca Bolsonaro de perto, também. O que deu na cabeça de um aliado como ele para que atacasse as Forças Armadas?

Salles responde:

“Não retiro uma linha do que eu disse. Chega desse faz de conta.”

E para justificar os danos provocados por suas palavras, aduz:

“A fala do general [Gustavo] Dutra escancara tudo isso. Além de seu evidente deslumbramento com Lula, mostra a covardia da sua emboscada sobre as pessoas no quartel-general.”

O general era o comandante militar do Planalto no dia do golpe de janeiro. A respeito da decisão de Lula de deixar para o dia seguinte a prisão dos bolsonaristas abrigados à porta do QG do Exército, o general elogiou a “inteligência emocional” do presidente.

Salles ambiciona ser candidato a prefeito de São Paulo com o apoio de Bolsonaro, dos militares e da extrema-direita. Ou melhor: ambicionava. Atirou no pé, acertou na cabeça.

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