4 surfistas profissionais da nova geração de Camburi (SP) para conhecer

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Conheça quatro talentosas surfistas profissionais da nova geração de Camburi (SP) e se inspire com suas visões sobre a arte sagrada do surf’

 

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originalmente publicada na
GO OUTSIDE #178

texto Alexandra Iarussi

Uma revolução silenciosa acontece nas praias brasileiras todos os dias, quando jovens surfistas escolhem desafiar os próprios limites – e até algumas convenções – seguindo uma voz interior quando se lançam no mar, com sonhos feitos de água, espuma e sal. Em Camburi, praia do litoral norte de São Paulo conhecida pelas ondas potentes, segue em curso o movimento orgânico de uma nova geração de mulheres que já dão suas contribuições a um cenário superpositivo para o surf feminino no Brasil, impulsionado pelas conquistas recentes ou de longa data de atletas como Tatiana Weston-Webb (vice-campeã mundial em 2022), Silvana Lima (oito vezes a melhor surfista brasileira e duas vezes vice-campeã mundial) e Maya Gabeira, que bateu dois recordes mundiais e venceu sete prêmios da WSL com o big surf.

Mais do que títulos – que também fazem parte do currículo e do apetite de cada uma delas –, as quatro jovens surfistas do litoral paulista já têm muito a ensinar, graças à dedicação e à reverência que têm pelo surf.

4 surfistas profissionais da nova geração de Camburi (SP)

Giovanna Donato, 15 anos | @giovannadonatoo

 

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Giovanna diz que surfa desde que “se entende por gente” e que não se recorda exatamente como foi sua primeira onda. “Lembro de mim pequenininha indo surfar com meu pai ou com minhas amigas nas marolinhas de verão.” Morando em Camburi desde 1 ano de idade, é ali onde se sente em casa. “Tem altas ondas e uma vibe incrível!”, celebra.

No começo surfava por diversão, gostava da sensação de estar conectada com a natureza e consigo mesma, aproveitando aquele momento de paz e lazer. Quando decidiu competir,
começou a dedicar a vida ao surf, com treinos e tudo mais que a ajudasse a evoluir. Como em grande parte dos casos, o pai, Laercio Donato, foi o principal incentivador, presenteando a filha com uma de suas pranchas. Depois mandou fazer a primeira prancha customizada para Giovanna, de presente de Natal. Outra força veio da loja 20 Pés, na esquina de casa. “Marquinhos, o dono, foi meu primeiro apoiador e está comigo até hoje. Ele é presidente da Ascam [Associação de Surf de Camburi], que vem fazendo um ótimo trabalho com atletas locais, ajudando com despesas em competição e organizando treinos de surf.”

Para ela, a vida de competição anda lado a lado com a diversão. “Ainda me divirto bastante e sou muito feliz. Vejo o surf como um estilo de vida que quero para sempre.” De olho no Circuito Mundial, ela também imagina um futuro de surf trips e conquistas. “Todas as mulheres do Circuito Mundial de surf me inspiram”, conta a moça, que tem a surfista
Tatiana Weston-Webb como referência de persistência e busca por evolução.

É longa a estrada rumo ao seleto grupo das melhores surfistas profissionais do mundo, e ela traça um roteiro. Pretende se destacar nos campeonatos de base, defendendo o título paulista em 2023, para depois ser campeã brasileira amadora e adquirir experiência competindo o brasileiro profissional neste ano. “Surfistas de alma entendem: estar ali na água, buscando evoluir todos os dias, pegando novas ondas e vivendo novas experiências é incrível e é o que eu mais amo fazer.”

Mayara Zampieri, 15 anos | @mayara_s_zampieri

 

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As primeiras ondas de Mayara se confundem com seus primeiros passos. Com pais apaixonados pelo mar, a surfista que nasceu em São Paulo foi levada aos 5 anos para Camburi e contou, desde cedo, com a força da mãe, que a colocava nas ondas e compartilhava com ela a prancha de bodyboard. A relação com o surf sempre se misturou com as brincadeiras de castelo de areia, buracos, mergulhos e a presença da família, o que não deixou de abrir espaço para que Mayara se tornasse vice-campeã paulista em 2020,
campeã sebastianenses sub 14 em 2021 e sub 16 e 18 em 2022.

Para ela o surf é “o melhor esporte”, graças à conexão que estabelece entre o mar, as ondas e as pessoas. Neste ano, Mayara finaliza o ensino médio e quer concluir um curso de inglês para poder viajar à Indonésia, passar um tempo por lá e dar um gás na sua evolução como surfista. “Se eu conseguir ir para lá com os meus pais, vai ser sensacional.”

Nalu Carratu, 10 anos |@nalucarratu

 

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“Nalu sempre me pergunta: papai, com quantos anos você acha que eu vou mandar aéreo?”, conta Leo Carratu, 41 anos. O pai começou a empurrar Nalu para surfar na espuma aos 3 anos. Dali em diante, quando Leo convoca a menina para surfar, lá vai ela cheia de vontade, no primeiro chamado. Nascido na capital paulista, Leo frequenta Camburi desde os 10 anos, é surfista, arquiteto e shaper. Nalu nasceu em Santos (SP), terra natal
da sua mãe, Sue Correia. O casal não queria criar a filha na cidade e assim deu vida ao próprio mundo em uma casa a alguns metros das ondas de Camburi. “Sempre quis morar em Camburi, viver de forma simples, em contato com a natureza e a pura vida”, declara Leo.

Nalu tem muitas pranchas à mão e vive cercada de amigos surfistas da família, sempre prontos para o próximo swell. Quando vai surfar, seu pai a acompanha dentro da água e a sua mãe, da areia, não perde um momento da filha, registrando tudo com a câmera montada sobre o tripé. “A brincadeira foi evoluindo”, conta Leo. Nalu está muito empolgada e competindo. “Ela já ganhou um campeonato e fez algumas finais”, adiciona o pai. A pequena surfista participa do desenvolvimento das próprias pranchas e agora vive uma fase muito legal, curtindo o reconhecimento dos amigos, locais e familiares que a incentivam e elogiam. Enquanto isso, vai sonhando com a própria evolução, viagens
inesquecíveis e as melhores ondas do mundo. A faculdade, segundo ela, vai ficar para mais tarde.

Sol Carrion, 18 anos | @sol.brasil

 

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“Quando subiu na prancha pela primeira vez, aos 11 anos, foi como se já tivesse surfado por uma vida inteira.” Com essa intimidade, Sol descreve a experiência da sua primeira onda com uma prancha de surf, em Barra Grande, litoral baiano, sua casa dos 2 aos 13 anos de idade. “Foi amor ao primeiro contato; à primeira vista”, conta.

Tio Neto estava lá desde o início e foi seu técnico por dois anos. Foi assim, brincando diariamente com suas irmãs nas águas do mar, vivendo numa casa de frente para o mar, que a menina cresceu e descobriu no surf uma paixão, um estilo de vida, uma profissão e o
norte para seus sonhos. “Com o surf eu me sinto livre e poderosa. Sinto que posso fazer o que quiser, sem limitações. É por meio dele que supero meus medos e desafios. O mar é
desafiador e também um lugar de paz e tranquilidade. Quando estou surfando, é como se não tivesse problemas para resolver na minha vida pessoal. No mar estou sempre com a cabeça leve, é maravilhoso”, descreve Sol.

A leveza se sustenta também quando o assunto é trabalho: “Eu sempre me divirto, mesmo que esteja focada em algo específico ou até depois de um treino cansativo. Não vejo o surf como obrigação”, fala a surfista, que já acalenta sonhos que vão além das competições.
“Meu principal sonho é viajar e levar meus pais e irmãos comigo.” Sol pretende ser campeã mundial e estruturar sua vida a partir do surf. “Quero passar anos participando do Circuito Mundial, ter minha casa, viajar nas férias das competições e conhecer novos lugares.”

As competições não metem medo: ela adora. Mesmo quando não alcança seus objetivos e se sente triste, as sensações despertadas antes ou durante os eventos são sempre positivas. “O autocontrole, o desafio, a adrenalina, me testar numa prova… gosto muito disso. Só preciso lidar com a compreensão de que o surf não se restringe ao resultado. Gosto do frio na barriga, de me testar. Quando ganho, vejo que valeu o quanto treinei, fico feliz, e essas realizações me mostram que sou capaz de conquistar tudo.”

Dois títulos de campeã paulista (categoria de base sub 18; 2020 e 2022), vice-campeã brasileira (categoria de base sub 14) e a primeira mulher a se tornar campeã paulista pro são suas principais conquistas competitivas. Classificada para o DreamTour, circuito nacional organizado pela CBSurf [que reúne a primeira divisão brasileira de surf e se estrutura a partir da valorização dos atletas, geração de novos talentos e atração de fãs], Sol já está garantida para o encontro que reunirá as 24 melhores mulheres e 64 homens. “Levando o título do DreamTour, posso fazer história porque nunca houve uma mulher
campeã paulista profissional.” Além de fazer história no surf, Sol acredita que pode inspirar mais pessoas a praticar esse esporte. “Quero incentivar o surf, independentemente da idade, gênero ou qualquer outra coisa. Se você tem vontade de surfar, faça, porque é uma
experiência maravilhosa e você não vai se arrepender.”

 

*Reportagem originalmente publicada na edição 178 da revista Go Outside

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