Topázio Neto fala sobre erros e acertos e diz que Florianópolis ‘está no seu melhor momento’

Com o aniversário de 351 anos de Florianópolis, nada mais justo que dar ao prefeito a condição de falar sobre tamanha honraria.

Prefeito Topázio Neto (PSD) concedeu uma entrevista no seu gabinete – Foto: Diogo de Souza/ND

Em uma conversa de quase uma hora no gabinete alocado no último andar do prédio localizado na rua Conselheiro Mafra, Topázio Neto (PSD) recebeu a reportagem do Grupo ND para tomar um café e falar da cidade de uma maneira geral.

“Não posso garantir que não vai acontecer de novo [casos de corrupção], mas posso garantir que tenho estrutura para investigar e ficar de olho em qualquer processo da prefeitura”

Além dos “presentes” em mais um ano de existência da capital dos catarinenses, o “tiktoker” Topázio Neto falou sobre seus acertos, seus erros e como enxerga a cidade que descreve como em seu “melhor momento”.

Confira a entrevista:

Quais palavras ilustram esse momento à frente da prefeitura em mais um aniversário?

Topázio Neto: Eu acho que Florianópolis está em um caminho muito legal. É uma cidade que preserva sua condição de sustentável, absolutamente democrática já que a gente recebe todo mundo que quer vir para cá. Prova que a cidade cresceu muito no último censo, a Capital que mais cresceu. Uma cidade que está mergulhada na nova economia, quando tecnologia e turismo passam a ser as principais fontes de renda da cidade. É uma cidade que vem trabalhando para reduzir desigualdades. Estamos iniciando o processo de habitação popular, transporte diferenciado. Estamos fazendo um cadastro habitacional de maneira inédita para identificar as pessoas que querem efetivamente uma casa em Florianópolis. Até hoje ninguém sabe quantas pessoas precisam de uma casa em Floripa. É uma cidade sustentável, dinâmica, encantadora, que se preocupa com a desigualdade e busca reduzir ao máximo. Tem, obviamente, os problemas que as grandes cidades têm, dentre eles, a mobilidade urbana. Eu diria que Florianópolis está no seu melhor momento, crescendo com responsabilidade e com soluções definitivas.

Quais são os problemas de Florianópolis?

TN: Ninguém vai falar de segurança, é um problema, mas somos a Capital mais segura do país. Ninguém vai falar de limpeza urbana, é uma cidade limpa, todo mundo que vem para cá fica admirado. A mobilidade, bom, é uma ilha que tem 55% de área de preservação permanente. Você não consegue aterrar o mar para fazer mais estradas, ao mesmo tempo a renda média possibilita que a gente tenha uma frota de 350 mil veículos em Florianópolis, com uma população de 540 mil. Sem contar as pessoas que vêm trabalhar aqui. Temos uma média de 1,2 carro por pessoa em Florianópolis. Mas o que a gente tem feito em termos de mobilidade: fizemos o binário do Pantanal, resolvemos a saída do Córrego Grande para a Beira-Mar; resolvemos boa parte do engarrafamento da avenida das Rendeiras com o binário. Acertamos, e tu noticiou em primeira mão (na coluna Bom Dia) a duplicação da SC-404 do viaduto do Itacorubi até a Udesc. A gente já tinha conversado com o governo, a gente já tinha um anteprojeto, com uma solução, com rótulas. O governo do Estado confirmou e disse: vamos ser parceiros, vamos construir juntos ali. É mais um ponto que a gente vai resolver.

E a SC-401?

TN: Já licitamos, vamos começar a obra para a criação da faixa exclusiva para acessar Jurerê, que já vai entrar ali na estrutura da Polícia Rodoviária Federal. Será aberto o lado Centro-Ilha. O último ponto que estamos discutindo com o governo é a subida do morro das madeireiras, no João Paulo, que ali nós temos que abrir para fazer uma terceira faixa. Mas o governo está na fase final do projeto. Com isso vamos dar uma importante resposta para a situação da mobilidade em Florianópolis.

E para o futuro, prefeito?

TN: O futuro é o seguinte: eu tenho um projeto no BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) que está sendo construído que faz a quarta via na Beira-Mar, que traz a solução do BRT ao redor do Centro da cidade, uma série de outras modificações na mobilidade, mas aí estamos falando de dinheiro grande, algo de R$ 300 a R$ 400 milhões.

Aproveitando tamanhos valores e investimentos: e a marina da Beira-Mar?

Prefeito Topázio Neto: homenagem ao aniversário de Florianópolis – Foto: Diogo de Souza/ND

TN: É a cereja do bolo dos tempos atuais. Um parque marina com 440 mil m² ali na Beira-Mar, uma coisa que vem sendo esperada há 30 anos e que agora já temos todo licenciamento federal, estamos no licenciamento estadual. Esperamos, se Deus quiser, até setembro ter a ordem de serviço para começar a obra. Obra que está concedida pelos próximos 30 anos, o investidor está pronto para começar. Está esperando só os licenciamentos.

Florianópolis tem um problema “silencioso”, que é o saneamento básico. Como está?

TN: A gente concluiu um processo e inscrevemos um projeto, onde eu vou até o presidente da Casan [Edson Moritz], provavelmente na semana que vem, levar nosso termo de referência para contratar uma fundação isenta que vai vir para olhar o modelo de saneamento de Florianópolis e propor um novo modelo. Uma modelagem que me permita investimento, cronograma de obra e solução técnica para completar a parte de saneamento ou de esgotamento sanitário da cidade. A Casan, por toda força que faça, falta capacidade financeira e de investimento para terminar o problema do esgotamento da cidade. Os primeiros números dão conta de que a Casan precisaria de R$ 1 bilhão para fazer o que falta de saneamento na cidade. Minha proposta é que a gente estude um novo formato de relacionamento e vir uma empresa privada e assumir o que falta em termos de investimento e esgotamento sanitário.

E o emissário da Baía Sul?

TN: O emissário seria só para a obra do Rio Tavares, mas aquela obra seria suficiente para o Campeche, pedaço da Lagoa. Mas ali não está incluso o extremo Sul da Ilha, a gente vai precisar de mais. Não está incluso ali todo o Rio Vermelho, Barra da Lagoa. Tem mais coisas para fazer na cidade do que aquela obra, pelo menos mais duas ou três estações de tratamento. Não é só aquela ali.

Mas e qual a realidade da Ilha?

TN: Quem é daqui, quem mora nas praias, sempre teve fossa em casa e fazendo tratamento individual. Apesar de a Casan não ter a rede de esgoto, o morador tradicional não pegava o esgoto e jogava na praia ou no rio. Algumas invasões, depois, passaram a fazer isso e geraram os pontos impróprios de balneabilidade. O morador tradicional sempre tratou com fossa ou sumidouro. A Casan fazendo ali, terminando Ingleses, João Paulo e terminando a ampliação da estação de tratamento ali [aponta para a direção da Ponte Pedro Ivo Campos], ela vai chegar a mais ou menos 75% de tratamento. Quando vier a nova estação do Rio Tavares, vai subir mais um pouco. Tem que completar o Rio Vermelho, parte da Barra da Lagoa e o extremo Sul da Ilha.

Aproveitando o embalo do aniversário, quais os presentes para Florianópolis?

TN: A gente tem duas unidades de saúde para os próximos dias: o Centro de Saúde do Trabalhador, ali no Centro. É um conceito inovador, mas voltado para os trabalhadores do miolo da cidade. É questão de montar a equipe e deverá ser entregue em abril. O [centro de saúde] Monte Serrat vai ser inaugurado no dia 27 [de março]. Um centro totalmente novo, diversos consultórios e que preserva um imóvel antigo da cidade.

Na linha da saúde, o senhor tem sido muito cobrado por um novo hospital para o Norte da Ilha. Tem alguma perspectiva?

TN: A gente concluiu as obras da UPA Norte. O terceiro andar da UPA está sendo ocupado por um Centro de Referência da Dengue, mas assim que passar essa onda, a UPA vai crescer em termos de atendimento e espaço. E nós estamos estudando, se não um novo hospital, ir no ponto onde os problemas estão aparecendo. Ainda está em fase de estudo um Centro de Diagnósticos Públicos no Norte da Ilha. Estamos vendo como viabilizar, com isso podemos dar uma condição diferenciada para a região. A prefeitura está agilizando a aprovação de um projeto de um hospital privado para o Norte da Ilha, que está viabilizado a partir do novo Plano Diretor. Algumas coisas estão acontecendo pelo Norte da Ilha.

Qual a logística prevista para o acesso ao Hospital Dia?

TN: Duas coisas: estamos reformando a estrada que passa por dentro da Base Aérea, que conecta na Tapera e sai na frente do Hospital Dia. Em situação de emergência, as pessoas poderão transitar ali para acessar o complexo. Outro ponto: quando você faz a conta dos usuários que usam a UPA, a posição não altera muito o trânsito das pessoas. Vamos ter linha direta de ônibus saindo direto do Terminal do Rio Tavares. Vamos ampliar os horários de atendimento dos postos do Sul da Ilha até as 22h. A UPA vai ser o último equipamento a transferir para o hospital. Aquele prédio ali está inviável. Não tem esgotamento sanitário, foi construído há 20 anos, não suporta uma unidade de saúde ali. Se fossemos transformar ali, seria um investimento de R$ 12 ou R$ 13 milhões.

Precisamos tocar na corrupção do secretariado. Como foi para você se deparar com tudo que aconteceu?

TN: Eu vou ser muito frio em relação a isso. Todos os casos aconteceram antes da minha gestão. Eu não estou botando a culpa no Gean [Loureiro] e acho que ele não teve nada a ver com isso. São dois casos, primeiro o da Floram, ano passado, onde a Polícia Civil trouxe à luz um pretenso fiscal recebendo propina de um construtor irregular. Esse caso surgiu ano passado, mas era de 2021. Na hora que a gente soube demitiu todo mundo que podia, estão respondendo processo. Eu não era o prefeito quando aconteceu o caso, mas sim quando saiu na mídia. O segundo caso foi gerado por uma denúncia de crime ambiental em janeiro de 2021, quando eu e o Gean recém tínhamos assumido. Quase três anos depois, quando soubemos, exoneramos os secretários e todo mundo que estava envolvido.

O que o senhor fez para não acontecer novamente?

TN: A gente criou, na reforma administrativa de 2023, um novo formato da Controladoria Geral do Município. Hoje eles têm 35 servidores. A gente trouxe um auditor da CGU, o Rodrigo de Bona, que está implantando o que tem de melhor em termos de controle. Fizemos um convênio com a Polícia Civil para termos agilidade nas informações e casos de corrupção ou suspeita de corrupção. Ano passado, quando a gente fez as primeiras auditorias em cima dos convênios, a gente já havia suspendido todos os convênios. O que eu posso fazer? Interromper o processo, retirar as pessoas envolvidas, melhorar a capacidade do processo para seguir em frente. Não posso garantir que não vai acontecer de novo, mas posso garantir que tenho estrutura para investigar e ficar de olho em qualquer processo da prefeitura. Se isso vier no processo eleitoral, eu tenho todas essas explicações para dar.

E o Ed Pereira, Topázio?

TN: Me surpreendeu tudo que aconteceu, eu acho que o Ed sempre foi um secretário muito ativo, muito dinâmico. Ele tem uma capacidade de entrega muito grande. Ao comprovar o que apareceu nas investigações, acho que acabou se perdendo em alguma parte do processo. Tem que esperar terminar as investigações para saber o que vai dar. Decepciona? Claro que decepciona. Conheço ele desde que sou vice-prefeito. Obviamente era um dos secretários, mas foi exonerado no mesmo dia que saíram as investigações.

Qual seu grande acerto na prefeitura?

TN: Eu acho que o grande acerto é ouvir muito, me preocupo bastante com os temas da cidade, procuro estar por dentro de todos os temas da cidade. Trabalho muito, acordo muito cedo, durmo muito tarde, estou presente na cidade inteira. Tenho procurado fazer o que é preciso, o que é necessário, não o que é bom de fazer. Tenho pensado muito também no uso racional do dinheiro público, temos nos preocupado muito com isso. São os meus acertos, olhar a cidade de maneira tranquila, maneira profissional. Ver o que é importante, o que é legado.

E o outro lado, qual seu erro?

TN: Eu acho que preciso me comunicar melhor com o servidor público. A interlocução tem vindo muito por meio do sindicato e a gente tem visto que não é o melhor interlocutor. O padrão moral do sindicato dos servidores da Capital está a anos luz da grande maioria dos nossos servidores que são honestos, trabalhadores, profissionais. Quando tem uma greve, quem entra é uma minoria. Não é a maioria. Os servidores são pessoas honradas e que gostam da cidade. Não criei outros canais de comunicação com o servidor que não seja o sindicato. Mas eu vou corrigir. Vou abrir outros canais. Não posso terceirizar minha relação com o servidor para o sindicato que não tem padrão ético e moral para tratar essas questões.

Agora sobre eleições: quem vem ao seu lado para buscar a reeleição?

TN: No cenário, hoje, temos o apoio do União Brasil. Não seria lógico ele não estar comigo na eleição. Eu me elegi com ele. O MDB já declarou apoio ao presidente da Câmara [João Cobalchini]. O Republicanos já declarou apoio. Tem o PSD, que é o meu partido. Estamos com conversas adiantadas com o PL. Devemos ter o PL com a possibilidade de um vice vindo do PL. Temos o apoio do Novo, temos o Podemos, e talvez a gente tenha outro partido. É uma coligação de sete partidos em um projeto de reeleição.

Como o senhor lida ao ser chamado de “prefeito tiktoker” (da rede social Tik Tok)?

TN: Eu acho que a oposição se arrependeu de me chamar assim. Acharam que iam me constranger e acabaram me dando projeção que eu nem tinha. Segundo, os meus conteúdos são ancorados na realidade. Quem me vê na rua e no dia a dia é a mesma pessoa. A rede social tem esse ônus e esse bônus. O bônus de te popularizar e o ônus de ter que ser verdadeiro. Tem o retorno momentâneo, em pouco tempo tem comentários, o que as pessoas acham. Vem muita pauta de lá.

Ganhou muitos seguidores?

TN: Eu tinha 20 mil quando comecei a fazer, hoje tenho mais de 350 mil [seguidores].

E os “haters” (pessoas que fazem comentários negativos)?

TN: Eu lido bem. E quem me ajuda são as pessoas que me apoiam. Às vezes as pessoas entram lá e escrevem algo atravessado, mas os próprios seguidores falam uma ‘saraivada’ de verdades. Eu gosto da rede social, interajo muito. Ela não é uma rede chata. Tem pontos sobre a cidade e sempre que tem coisas sobre a cidade temos que falar com que as pessoas entendam. Eu sempre digo que a minha tia Marlene precisa entender o que estou falando. Ela tem 85 anos. Se ela entendeu o que eu estou falando, está tudo certo. Se ela não entende, é porque estamos comunicando errado. A rede social acabou dando uma projeção que a gente não imaginava.

Poderia me enumerar suas praias preferidas?

TN: Primeiro de todas a Lagoinha [do Norte], lá que eu tenho um apartamento, às vezes a gente passa lá. Em segundo eu acho a Joaquina uma praia ícone da cidade. E [terceiro] a Lagoa da Conceição. Na minha infância, ia com meus avós e é um local encantador para todo mundo.

Que horas o senhor se entretém, que horas sai da roupa do prefeito?

TN: A prefeitura me absorve muito. Durante a semana chego aqui entre 6h45 e 7h15 e saio daqui, normalmente, 19h. Aos finais de semana, geralmente tenho sábado muito puxado e domingo pela metade da manhã. Tento reservar para mim metade da manhã e à tarde. Tento ficar em casa para fazer um churrasco para minha turma e aí fico em casa. Tento aliviar no domingo. Eu gosto do que eu faço, saio feliz daqui, mesmo com os problemas. Claro que às vezes a gente sai chateado, mas eu gosto de estar aqui e trabalhar. Gosto de estar aqui e na rua falando com as pessoas.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.