Mais de 2 mil km no mar: Travessia de remadores de Natal ao Rio de Janeiro completa 70 anos

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Cinco remadores do estado realizaram o feito entre 1952 e 1953. No meio do caminho, um barco chegou a quebrar e precisou ser trocado para que a missão fosse concluída. Travessia dos heróis do remo completa 70 anos
A travessia de um grupo de remadores potiguares do litoral do Rio Grande do Norte até o Rio de Janeiro completou, neste mês de maio, 70 anos. Foram mais de 2,5 mil quilômetros em mar aberto – com paradas pelas praias do Brasil – até pisar de vez em terra firme na então capital do Brasil.
Na época, o grupo foi recebido com honras pelo então vice-presidente da República Café Filho, também potiguar (veja reportagem acima).
O feito foi realizado por cinco remadores, que saíram do Rio Potengi em Natal , em 1952, em um barco do tipo iole, de madeira. A travessia durou mais de um ano, teve um naufrágio que destruiu a primeira embarcação no meio do caminho, e foi feita praticamente sem suporte.
“Não tinha salva-vidas, não tinha rádio, não tinha nada”, resumiu Milton da Cruz, neto de um dos remadores.
Remadores potiguares fizeram travessia do RN ao RJ entre 1952 e 53
Arquivo
Os remadores que se envolveram na travessia histórica foram:
Ricardo da Cruz (avô de Milton);
Antônio Duarte;
Clodoaldo Baker;
Francisco Madureira; e
Oscar Simões.
“Eram senhores de uma média de idade para idosos. Seu Cruz tinha 60 anos na época. Creio que não teve um outro evento que fez esse percurso com essa modalidade. Então, é um dos feitos mais importantes náuticos brasileiros”, acredita João Natal, coordenador da Pinacoteca do RN, que organiza uma exposição com o barco usado no feito no Museu da Rampa, em Natal.
A iole usada para chegar no Rio de Janeiro foi batizada de “Rio Grande do Norte II”. Isso porque a primeira – construída anos antes, na década de 30 – foi destruída durante o trajeto, em Mangue Seco, em Sergipe.
“Uma grande onda desmanchou a iole, quebrou. Salvou os remos. Construíram uma nova, que levou o nome de Rio Grande do Norte II. No navio da Marinha ela foi transportada de novo para Mangue Seco e de lá eles partiram para o Rio de Janeiro”, contou o remador aposentado Valdécio Rocha.
Remadores saíram do Rio Grande do Norte em 52; Barco era uma iole
Arquivo
Durante a travessia, os remadores paravam em algumas praias do litoral, onde descansavam e passavam a noite. As praias, muitas vezes, eram desertas e eles não andavam com barracas ou outros equipamentos.
“Quando eles chegavam na praia, tiravam o barco da água e viravam, escorava com os paus pra fazer um dormitório, porque quando chegavam na praia, deserta, não tinha o que fazer, uma barraca, nada”, lembrou Milton, o neto do remador Ricardo Cruz.
O remador aposentado Valdécio Rocha conta que os mantimentos eram jogados por um avião do Aeroclube de Natal, que apoiava a travessia.
“Tinha um senhor que era aviador do Aeroclube de Natal que deu total apoio com aeronave e, de vez em quando, o avião sobrevoava, jogando alguns alimentos, e o jornal ‘A República’, com o que tinha noticiado, pra que mantivesse os remadores informados”, contou.
Barco Rio Grande do Norte II ao chegar no Rio de Janeiro
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A chegada na Baía da Guanabara foi no dia 21 de maio de 1953. “Nessa altura eles estavam com as mãos tão calejadas, cheias de bolha, que rasgaram as camisas, enrolaram nas mãos pra poder remar, porque as mãos já estavam muito feridas”, contou Milton da Cruz.
“Chegando lá, o comandante do navio disse: ‘Se vocês vieram de Natal com esse barquinho até aqui, vocês vão dar a volta ao mundo’”.
Remadores recebidos por Café Filho
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