Nelson Motta vira curador de casas de cultura do governo bolsonarista de Cláudio Castro 

Nelson Motta

O crítico musical e opinionista Nelson Motta agora é curador de casas de cultura no Rio – a Casa de Cultura Laura Alvim e a Sala Cecília Meireles -, instituições históricas que pertencem à FUNARJ, Fundação de Artes do Estado do Rio de Janeiro, politizada no governo do bolsonarista Cláudio Castro (PL).

O governador quer maquiar a orla da capital para eventos do G20, que culminará com encontro de chefes de Estado em novembro. Castro sabe da má imagem internacional do Rio e espera garantir bons espetáculos justamente em dois centros culturais perto das praias de Ipanema e Copacabana – cartões postais do Rio.

A contratação de Motta prevê, pelo menos na temporada cultural 2024, que cuide de 18 apresentações, que se estenderão até 30 de novembro. Os eventuais custos para os cofres públicos da contratação de Motta não foram informados pelo governo do Rio. A ação contará com patrocínio da gigante energética Enel e da Secretaria de Estado de Cultura, via Lei de Incentivo à Cultura.

A FUNARJ e as instituições têm no comando políticos de bases eleitorais do governador no estado. Castro posa de combatente da milícia, diz até que recebeu ameaças, mas o poder paralelo – inicialmente formado por policiais civis, PMs, bombeiros, guardas municipais e membros das Forças Armadas – nunca cresceu tanto.

Só no primeiro ano de gestão de Castro, foram registradas 182 mortes em 40 chacinas – dados do Instituto Fogo Cruzado. A Polícia Militar do Rio de Janeiro é responsável por no mínimo 30% das mortes violentas no estado, grande parte em tiroteios e execuções em favelas. Estas, claro, fora da gestão cultural de Nelson Motta.

Antipetista ferrenho, Motta é autor de ataques abjetos à então primeira-dama Marisa Letícia. Lula era chamado de “feioso, conservador e careta”, além de corrupto, claro.

Foi colunista do jornal O Globo ao longo de décadas e apareceu em virtualmente todos os documentários musicais brasileiros como “testemunha ocular” da história e “amigo” de estrelas. Participava do Manhattan Connection, um antro reacionário pseudo-sofisticado transmitido de Nova York, quando isso era supostamente exclusividade de poucos e bons e não de “gente feia”. Era tratado de maneira condescendente pela estrela do programa Paulo Francis, cujo saco puxava constrangedoramente. Para Francis, ele era o “Nelsinho”.

Durante o mensalão, classificou José Dirceu de “personagem” que “tem certeza de que somos todos idiotas”, dono de “uma fé cega em implantar a ditadura do proletariado ‘a la Cuba’”. Recentemente, recebeu o mesmo Dirceu em seu apartamento na Vieira Souto, juntamente com outros jornalistas “influentes” numa homenagem ao falecido repórter de fofocas de Brasília Jorge Bastos Moreno.

A FUNARJ de Castro hoje é presidida por Jackson Emerick, político com base política em Barra Mansa (RJ). Ele foi chefe de gabinete do ex-deputado estadual, Noel de Carvalho na Alerj (Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro). Ele também controla a Laura Alvim, centro cultural completo à beira-mar, em Ipanema, inaugurada em 1986. A Sala Cecília Meireles é uma das casas de concerto mais tradicionais do Brasil.

Nelson Motta no evento que o anunciou como curador de casas culturais do governo Cláudio Castro, do RJ

No coração da Lapa, centro da cidade, a sala nasceu em 1965. É presidida hoje por outro preposto de Castro, Aldo Mussi, que representa importante grupo político de Macaé (RJ), na Baixada Fluminense. A nova direção da Sala Cecília Meireles tem feito cortes nos cachês dos artistas convidados para a temporada de concerto e cancelou a apresentações de obras de Stravinsky e Bartók. A sala era dirigida até recentemente pelo compositor João Guilherme Ripper.

A Sala Cecília Meireles não abriu em março, mês em que tradicionalmente se inicia sua temporada de recitais e concertos, devido a reparos no sistema de ar-condicionado, um velho problema. A previsão era voltar este mês. A Sala Cecília Meireles obteve, por meio de sua Associação de Amigos, a renovação até o fim da temporada de 2025 de seu contrato de patrocínio com a Petrobras. A Casa de Cultura Laura Alvim, já chamada de Casa do G20, seguirá um cronograma de eventos relacionados ao comitê internacional do G20. Há promessas de revitalizar outros espaços culturais degradados, como o Teatro João Caetano, no Centro, mais antigo teatro da cidade. Marco da história cultural do Rio, o teatro ficará seis meses fechado.

Nelsinho nunca falou nada sobre Cláudio Castro. Como ele mesmo vaticinou numa parceria com Lulu Santos, “nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia”.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.