Turquia: Erdogan e Kiliçdaroğlu disputam segundo turno neste domingo

Disputa é maior provação de Erdogan em mais de 20 anos no poder. Resultado pode impactar geopolítica internacional e relação do país com a Rússia. Montagem mostra Recep Tayyip Erdogan e Kemal Kilicdaroglu em atos de campanha na Turquia em maio de 2023
Reuters
Acontece neste domingo (28) o segundo turno da eleição na Turquia, que teve uma primeira rodada acirrada entre os principais candidatos, Recep Tayyip Erdogan, atual presidente, e Kemal Kiliçdaroğlu, da oposição. O líder do país e o rival receberam, respectivamente, 49,5% e 45% dos votos no primeiro turno — diferença que deve se manter a mesma, segundo projeções.
No ano em que a nação comemora cem anos de República, o pleito acontece em uma sociedade dividida e seu resultado promete impactar a vida na Turquia e no resto do mundo. Mas, acima de tudo, a votação coloca em xeque a imagem de Erdogan, que está há duas décadas no poder e é acusado de autoritarismo.
Entenda os principais pontos da eleição abaixo:
Quem é Erdogan
Recep Tayyip Erdogan, de 69 anos, já está há mais de duas décadas à frente da Turquia, pois atuou anteriormente como primeiro-ministro e agora busca seu terceiro mandato consecutivo como presidente. Nenhuma eleição, entretanto, foi tão disputada como a deste ano.
Um nome chave na corrida eleitoral do segundo turno é o terceiro colocado. Sinan Ogan, político de direita e perfil nacionalista, decidiu apoiar Erdogan e a expectativa é que seus mais de 5% de eleitores defina o pleito.
No entanto, o discurso conservador do candidato distancia principalmente as mulheres e os jovens que estão descontentes com o atual presidente — e o impacto desses grupos pode ser significativo.
A faixa etária de 18 a 25 anos, por exemplo, representa 15% do eleitorado e, de acordo com um estudo de 2022 apoiado pela Fundação Alemã Konrad Adenauer, 62,5% deles estavam insatisfeitos com o governo de Erdoğan.
Quem é Kiliçdaroğlu
Kemal Kiliçdaroğlu, de 74 anos, é de centro-esquerda e pertence ao Partido Republicano do Povo (CHP), que lidera uma aliança de seis partidos para tentar vencer a eleição. A coalizão é um tanto diversa e conta com integrantes nacionalistas, curdos e antigos parceiros de Erdogan.
Algumas propostas de Kiliçdaroğlu são:
Devolver à Turquia um “sistema parlamentar forte”, desfazendo o sistema presidencial introduzido pelo opositor após um referendo em 2017.
Desfazer as políticas econômicas de Erdogan, que especialistas dizem ter alimentado a inflação e piorado a crise econômica no país.
Promover os direitos humanos, os direitos das mulheres e o acolhimento (moderado) de imigrantes.
Se aproximar da Otan, pleitear uma vaga na União Europeia e sancionar a Rússia.
Rússia e política externa
As eleições na Turquia também prometem afetar a política externa do país — assunto que já está sob os holofotes há alguns meses.
Erdogan é um antigo aliado de Vladimir Putin, presidente da Rússia, e a forma como age (ou deixa de agir) perante a guerra na Ucrânia não tem agradado os colegas da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), já que o grupo está do lado ucraniano.
Se Kiliçdaroğlu sair vitorioso, no entanto, este cenário pode mudar. Em mais de uma ocasião, o candidato afirmou ter interesse em fortalecer os laços do Estado turco com a Otan e, inclusive, acredita que o país deveria pleitear uma vaga na União Europeia.
Quanto à guerra russa na Ucrânia, Kiliçdaroğlu confirmou que, se eleito, irá impor sanções à Rússia, algo que Erdogan pouco fez até agora. Isso isolaria Moscou ainda mais no cenário internacional e poderia ter desdobramentos importantes, segundo os especialistas.
Ainda assim, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse após o primeiro turno que seu país vai cooperar com qualquer um dos candidatos que vencer as eleições.
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