Estudante de medicina com câncer ósseo consegue decisão judicial para operar metástase, mas diz que plano ‘enrola’ cirurgia: ‘Minha única opção’

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Decisão determinou cirurgia complexa para 5 de maio, porém, medida não foi cumprida. Médico do estudante solicitou cirurgia para retirada total do tumor. Associação que defende plano disse que empresa não se recusa a fazer cirurgia, mas que ‘estranha honorários’ do médico. Mateus é estudante de medicina no sexto ano, na UFPR
Arquivo pessoal
O estudante de medicina Mateus Botogoske, de 24 anos, aguarda há um mês o próprio plano de saúde cumprir uma decisão judicial determinando a realização de uma cirurgia para o tratamento de um câncer ósseo na bacia. O procedimento foi indicado pelo médico especialista que atende o caso do jovem.
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Pela decisão, assinada pela juíza Rafaela Zarpelon em 28 de abril deste ano, Botogoske deveria ter sido operado em 5 de maio no Hospital Nossa Senhora das Graças, em Curitiba, com todo o suporte do plano Clinipam, do Grupo NotreDame Intermédica (GNDI Sul). A multa em caso de descumprimento foi estipulada, inicialmente, em R$ 1 mil por dia.
Ao g1, a Clinipam disse que se manifestará por meio da Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge).
Em nota, a entidade afirmou que a Clinipam não se recusa a fazer a cirurgia. Disse, também, que a empresa liberou materiais para o procedimento em outro hospital, porém, “estranha a insistência do profissional de saúde com solicitação espantosa de honorários”, com valores que superam R$ 636 mil. Leia mais abaixo.
“Essa é minha única opção para realizar a cirurgia. O plano tenta enrolar mais indicando médicos que não operam meu caso. Posso acabar perdendo a chance de ficar bem por conta do plano me ver como um número.”
O jovem, diagnosticado com câncer ósseo em novembro de 2019, retirou um tumor do braço esquerdo por meio do mesmo plano de saúde. Há seis meses, foi diagnosticado com metástase – ou seja, a doença surgiu em outra parte do corpo.
O paciente lembra que antes de acionar o plano juridicamente, tentou a liberação para a cirurgia pelos canais oficiais da empresa.
Em 27 de março, ele relembra, o plano chegou a autorizar o procedimento. Porém, depois disso, passou a não dar retorno efetivo para o encaminhamento da cirurgia, segundo o paciente, contestando a indicação do médico que o atende.
A cirurgia indicada
Mateus Botogoske, de 24 anos, enfrenta uma metástase óssea na região do quadril
Arquivo pessoal
A operação indicada para Botogoske, considerada complexa, é para uma metástase que ele descobriu em dezembro de 2022.
Segundo o estudante, o pedido para a cirurgia, que virou briga judicial, começou após o quadro clínico dele chegar, por meio das redes sociais, a membros da ortopedia oncológica da Universidade de São Paulo (USP).
Botogoske conta que médicos de lá, após analisarem o quadro clínico dele, contataram um especialista de Curitiba para cuidar do caso do estudante, indicando uma cirurgia chamada hemipelvectomia, que removeria o tumor por completo.
De acordo com o estudante, caso ele não realize a cirurgia, não tem chance de sobrevida. Nos retornos do plano, médicos indicaram radiocirurgia, o que, segundo ele, foge da conduta mais indicada para a metástase que enfrenta.
“A cirurgia é enorme e dura no mínimo 20 horas. Deveria ser minha preocupação nesse momento difícil. Eu realizei três ciclos difíceis e sofridos de quimioterapia para ter resposta no tumor e poder realizar a cirurgia, porém mesmo tendo encaminhado os pedidos, minha cirurgia está sendo atrasada.”
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Justiça aumentou a multa ao plano de saúde
O estudante contou que não houve concordância do plano de saúde sobre a primeira determinação judicial. No dia em que a cirurgia deveria ter ocorrido, a Justiça aumentou a multa diária para R$ 5 mil, a incidir por 90 dias a partir do descumprimento da liminar.
Em 12 de maio, uma nova decisão estipulou o prazo de 24 horas para liberação da cirurgia e aumentou a multa diária ao plano em caso de descumprimento para R$ 10 mil.
Botogoske lembra que a empresa chegou a apresentar recurso para suspender a liminar que autorizava a cirurgia, mas o pedido foi indeferido pela desembargadora substituta Elizabeth de Fátima Nogueira.
Em um recurso apresentado à Justiça, e negado, o plano apresentou médico e hospital diferentes da primeira determinação judicial para realizarem a cirurgia. Botogoske lembra, ainda, que médicos do hospital indicado já se recusaram, no passado, a operar o caso dele.
Além disso, o paciente afirma que, no início do processo, chegou a ser encaminhado pelo plano de saúde para este mesmo hospital, porém, via SUS.
Para o estudante, o entrave coloca a vida dele em risco.
“Posso ter reativação do tumor com mais agressividade, ou precisar retornar a quimioterapia por conta de algo que não deveria acontecer.”
Estudante precisou trancar a faculdade
Botogoske está no sexto ano de medicina, na Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Ele contou que trancou o curso em 20 de março para poder se preparar para a recuperação da cirurgia que ocorreria, conforme determinou a Justiça, em 5 de maio. Com os descumprimentos sucessivos, ele teme que não conseguirá voltar para a faculdade ainda em 2023.
“O período de trancamento começou há pouco. E se o prazo tivesse sido no tempo que foi determinado, eu já teria me recuperado pra destrancar o meu curso. O prazo é 21 de junho. Mas daí, por causa desse atraso, eu acho que não consigo volta pro curso esse ano”, lamentou.
O que diz a Abramge
Em nota, a Abramge disse que a solicitação de honorários para a cirurgia é de R$ 636,8 mil. Afirmou, também, que “há clara pretensão de direcionamento do fornecedor dos materiais a serem utilizados na cirurgia”.
A Abramge também disse que o paciente possui consulta agendada para terça-feira (30), com o chefe de oncologia ortopédica do Hospital Erasto Gaertner, para deliberação sobre o caso.
*Com colaboração de Caroline Maltaca, assistente de produtos digitais do g1.
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