Relator do PL dos Planos quer proibir rescisão unilateral

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O deputado federal Duarte Jr. (PSB-MA), relator do Projeto de Lei 7419 de 2006, que propõe alterações na Lei dos Planos de Saúde, informou na 2ª feira (29.mai.2o23) que apresentará um parecer à Câmara em 7 junho. O deputado disse que vai sugerir a proibição da rescisão do contrato unilateralmente pelos planos de saúde.

A rescisão unilateral do contrato, que já é proibida pelo próprio Código de Defesa do Consumidor, lá no Artigo 51, estabelece essa rescisão unilateral como cláusula nula de pleno direito, mas é importante consignar, ratificar na nova lei dos planos de saúde, para que medidas como essa não possam ser mais realizadas, possam ser extintas”, afirmou Duarte.

O deputado participou de audiência pública na Alesp (Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo), que debateu abusos das operadoras e o papel de fiscalização da ANS (Agência Nacional de Saúde). Foram colhidos depoimentos de usuários sobre o aumento abusivo de mensalidades, o descredenciamento massivo de clínicas e hospitais e o cancelamento unilateral, por parte dos planos, de contratos de pacientes em tratamento.

Essas empresas têm uma isenção na declaração do Imposto de Renda. Então, elas são incentivadas do ponto de vista fiscal e não podem somente receber, ter o bônus de receber, e não assumir o seu ônus, quando o consumidor mais precisa”, disse o congressista.

Nas últimas semanas, a deputada estadual de São Paulo, proponente da audiência pública, Andréa Werner (PSB), recebeu, ao menos, 235 denúncias de cancelamentos unilaterais de contratos de operadoras de saúde, citando Unimed Nacional, Bradesco Saúde e Amil, de pacientes com tratamentos em andamento. Entre as terapias interrompidas estão as que tratam Transtorno do Espectro Autista ou mesmo câncer.

Até agora, a gente já mandou para o Ministério Público mais de 200 casos de cancelamento unilateral de contratos de pessoas em tratamento de câncer, crianças autistas, doenças crônicas graves. Todos [cancelamentos] ilegais”, ressaltou a deputada.

Werner propõe, como medida emergencial, uma ação civil pública para reverter os cancelamentos abusivos. “Muitas pessoas não têm como pagar um advogado para reverter isso, mas também não têm renda baixa o suficiente para poder ir na Defensoria Pública. A gente espera que isso vire uma ação civil pública e que o MP possa reverter esses cancelamentos para que essas pessoas possam continuar seus tratamentos.”

Além de propor que a nova lei dos planos de saúde proíba o rompimento unilateral dos contratos de usuários em tratamento pelas operadoras, a deputada quer que as operadoras passem a arcar com os gastos de um acompanhante nos casos em que o paciente internado em UTI (Unidade de Terapia Intensiva) for menor de 18 anos ou tiver deficiência.

A gente colocou também que se for descredenciar alguma clínica, a nova credenciada tem que ter a mesma qualidade, porque eles estão descredenciando clínicas que dão tratamento para autistas, ou outras crianças com deficiência, e substituindo por clínicas que, às vezes, não têm nem alvará do Corpo de Bombeiros.

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Decisão da Justiça

O advogado, professor e especialista em Direitos Humanos, Marcelo Válio, destacou haver um entendimento pacificado no STJ (Superior Tribunal de Justiça) de que os planos de saúde não podem rescindir contrato de pacientes em tratamento.

Se levarmos em consideração somente a legislação, os planos têm a possibilidade do cancelamento unilateral de planos coletivos. Entretanto, o STJ já se posicionou no seguinte sentido: aquele que estiver em tratamento, até a alta médica, não pode ter o seu contrato coletivo rescindido unilateralmente por parte do convênio”, falou.

Infelizmente, a Agência Nacional de Saúde, que é uma autarquia especializada, que deveria regulamentar e fiscalizar os planos de saúde, se apega tão somente à legislação e se esquece totalmente da realidade que é a decisão por parte do STJ”, disse o advogado.

Ainda de acordo com Válio, o STJ não considerou somente as regras contratuais e a legislação específica, uma vez que a questão é de direito à vida. “Nós temos que respeitar certos princípios: princípio do direito à saúde, princípio ao direito à ampla assistência à saúde. E também um dos princípios mais importantes que nós temos, constitucionalmente falando, que é o princípio da dignidade da pessoa humana”, disse.

Plano cortado repentinamente

A acompanhante terapêutica e estudante de psicologia Débora de Mello Rodrigues, mãe do Lourenzo, de 7 anos, diagnosticado com autismo e apraxia da fala, relatou que teve o plano de saúde de seu filho cortado pela operadora repentinamente.

Ele estava fazendo os tratamentos com terapia ABA, fonoaudiologia, terapia ocupacional. A gente tem uma gama gigante de profissionais e tudo isso foi cortado do dia para noite. A gente está num momento muito delicado, não tem justificativa. Talvez ele seja uma criança muito cara para o plano”, contou.

De acordo com Débora, inicialmente, a empresa mudou a clínica em que Lourenzo fazia o tratamento. “Eles enviaram um telegrama falando que a gente iria mudar para uma outra clínica. Nós fomos visitar a clínica e era totalmente sem os profissionais adequados.

Em maio, a família recebeu um e-mail informando que teriam o prazo de 1 mês para fazer a portabilidade para outro plano ou sair.

Negativa de tratamento

O funcionário Público Sadrac Leite Silva, pai do Leonardo, de 8 anos, diagnosticado com câncer, disse que o plano de saúde se negou a fazer o tratamento de radioterapia na criança e, logo em seguida, informou o rompimento unilateral do contrato.

Nós ficamos desesperados. O que a gente pode fazer agora? Porque o caso dele é um tumor, que já está até prejudicando a visão dele. Não pode esperar meses, ele não pode interromper o tratamento. A gente ficou de mãos atadas sem ter nada que fazer.

Morador de São Paulo, Silva afirmou que a operadora de saúde chegou a apresentar uma alternativa: levar o filho para fazer o tratamento na Bahia. “De maneira desumana, eles deram uma alternativa para a gente, que teria à disposição um plano no estado da Bahia. A gente não tem condições, como que eu vou fazer um tratamento no estado da Bahia? Eu moro aqui em São Paulo, é sem cabimento. Fiquei completamente desesperado”, disse.

A reportagem da Agência Brasil procurou a ANS, mas não obteve retorno até a publicação deste texto.


Com informações da Agência Brasil.

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