‘Sinto-me leve e feliz’: Mulheres ganham vida nova após os 40 anos ao se conectarem à dança

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Nestes últimos anos ocorreu uma transformação social e cultural entre as mulheres, e muitas começaram a buscar a dança como uma atividade para uma vida nova após os 40 anos. Para a empresária, professora de dança e coreógrafa Maria Morena, esse é um fenômeno positivo que reflete o perfil da mulher contemporânea.

Sobre o perfil daquelas que buscam aulas de dança na idade madura, Morena pontua: “São mulheres inspiradoras, com suas infinitas vivências e que também procuram socialização e saúde mental, elementos que a leveza da dança traz”. E complementa: “E as mulheres que um dia já haviam dançado e retomam essa atividade na vida adulta reavivam a sua memória afetiva e física da dança”.

Suzana Paulo (de saia azul) praticando dança cigana com sua turma. – Foto: Tiago Ghizoni/Divulgação/ND

Maria Morena, 44, é referência de dança na Capital e há 30 anos faz parte do mundo da dança na cidade. “Desde os 15 anos comecei a lecionar e aprender com meus alunos sobre a importância de viver dessa arte”, ressalta. A professora já lecionou diferentes tipos de dança, mas atualmente ensina jazz dance, ritmos e samba. Em setembro próximo, com a chegada da primavera, o Studio de Dança Maria Morena completa cinco anos de existência, e por isso Morena tem acompanhado de perto o crescimento desse novo público presente nas diversas aulas de dança que o local oferece.

“Hoje a mulher assume um novo propósito, o do autocuidado e de autovalorizar-se. Além disso, nessa fase da vida a mulher está em busca de saúde, vitalidade e de um novo jeito de se olhar no espelho”, destaca a empresária.

Maria Morena também elenca uma série de vantagens para aquelas que ingressarem nas aulas de dança: “Melhora o sistema cardiovascular, tonifica a musculatura, amplia o poder de memorização, ajuda na socialização e libera ocitocina, hormônio do bem-estar e da alegria”. Ela faz uma recomendação para aquelas que têm interesse em começar a dançar: “Experimente diferentes modalidades de dança até encontrar aquela com a qual você se identifica e que se encaixa com a sua personalidade”.

Leveza, alegria e liberdade

Maria Teresa Duha Schultz, 79, é professora de inglês e coordenadora pedagógica na área de ensino de idiomas, e começou a fazer ballet clássico aos 75 anos. “Sempre fui esportista, desde muito cedo. Mas tive que parar com os esportes de impacto devido a problemas de saúde, e então o médico me aconselhou que não deixasse de fazer exercício”.

A professora buscou na dança uma alternativa para realizar atividade física, e o resultado foi além do esperado. “Melhorou minha postura, agilidade, equilíbrio e, principalmente, minha saúde mental. E durante a aula é só alegria, sinto-me leve e feliz”, afirma Maria Teresa. Hoje, quase aos 80 anos, a dança representa um momento muito especial do seu dia, de lazer e de relacionamento social.

E ao final da entrevista, ela deixa um conselho para outras mulheres: “Busquem aulas de dança não apenas para a terceira idade, mas sim qualquer aula de dança para adultos”. E faz um alerta: “O preconceito pode estar dentro de você. Liberte-se”.

A dança transforma emoções em movimentos

Em março de 2022, pouco antes de completar 70, anos Suzana Collaço Paulo, professora aposentada de odontologia, foi conhecer uma escola de dança. Chegando lá, perguntou se havia aulas de dança para a terceira idade, e a secretária apontou uma sala na qual estava tendo aula de dança cigana. Suzana então entrou para assistir à aula, gostou e pratica a dança cigana até hoje. “A dança representa para mim a concretização de um desejo que sempre tive e que estava escondido”, revela.

Ela conta que os seus primeiros passos na dança cigana foram incertos e tímidos. Contudo, com o acolhimento e incentivo da professora Luciane Silva, aos poucos Suzana foi se encontrando. “Descobri que podia dançar descalça e sem limites. Fui aprendendo sobre um universo totalmente diferente do meu”. Quando os seus filhos souberam que ela estava dançando, ficaram surpresos, mas também felizes. “A dança cigana cuida do corpo e da mente, pois transforma os sentimentos, as emoções em movimentos. Por isso, ela nos torna mais confiantes e com mais energia”, pontua.

Luciana Guidarini Bohn começou a dançar com 10 anos por incentivo da sua irmã. – Foto: Tiago Ghizoni/Divulgação/ND

Além disso, a aluna conta que a dança melhora a comunicação com as pessoas por meio dos gestos, postura, expressão do rosto e do olhar. “A dança nos dá mais foco e disciplina, e isso repercute em nossas vidas”, destaca Suzana.

Segundo ela, os benefícios corporais são muitos e vão desde o fortalecimento do corpo até o aumento da coordenação motora e do equilíbrio. “Dançar é cuidar de si, além de fazer com que sejamos agradecidas e felizes com a vida”, destaca. E deixa um recado para as mulheres que desejam entrar na dança, mas que se intimidam: “Venham, ousem, tenham coragem! A dança é transformadora, basta apenas encontrar aquela que encante você e que te faça vibrar”

A construção de laços de amizade e melhora na autoestima

Em 2017, a médica endocrinologista Cristina Schreiber, 45, começou a dançar flamenco. Ela já havia feito aula de jazz há muitos anos, mas depois teve um hiato de 20 anos até voltar a dançar. “O que me fez voltar foi realmente a vontade de aprender flamenco, uma dança que eu acho incrível, amo o flamenco em todas as suas formas”, destaca a médica.

Cristina revela que estava saindo da amamentação do terceiro filho, passava uma fase difícil, com três crianças pequenas e o trabalho exaustivo, por isso decidiu que estava na hora de começar a desenvolver um novo hobby. “A dança representa o momento em que voltei a olhar para mim de novo após três filhos com pouca diferença de idade. Levei seis meses para me olhar no espelho da escola. A professora é quem reparou e chamou minha atenção: “Cris, olha para o espelho! Do contrário, não tem como você observar a sua posição e postura”, recorda Cristina.

Além da melhora na autoestima, a aluna de flamenco afirma que a dança é uma atividade complexa e que percebe o impacto positivo na melhora da sua coordenação, equilíbrio e alongamento. “Meus pés se tornaram fortes e com flexibilidade, assim como minha postura melhorou significativamente”, afirma Cristina, que, depois de amamentar três filhos, estava com dificuldade em manter uma boa postura.

Ela destaca também que, além da força interior que a dança proporciona, outro fato incrível é participar de um grupo de pessoas, pois dançar flamenco não é algo que se faz sozinho. É preciso que alguém cante, que outros toquem os instrumentos e que as demais pessoas batam palmas. “Exercer uma arte em que se dependa de um grupo é muito bom para a saúde mental. Criamos laços, nos divertimos e brincamos como quando éramos crianças, com nossos erros e acertos”, reflete.

Alimenta a alma e acalma a mente

“A dança representa para mim alegria! Ela me traz muito mais do que benefícios físicos e, acima de tudo, alimenta minha alma e acalma minha mente”, afirma Annalisa Blando, 51, conselheira de empresas.

Ela conta que havia dançado dos 8 até os 18 anos, mas só voltou a dançar aos 49, depois que desenvolveu a síndrome de burnout. “Foi na busca pela minha recuperação que voltei a dançar”, explica Annalisa.

A conselheira explana os pontos positivos da dança: “É uma atividade física excelente, trabalha o cárdio, a coordenação motora, a força física, mas também é ótima para a saúde mental por conta da liberação de serotonina e de vários outros hormônios que geram bem-estar”, conta. Atualmente, Annalisa faz aula de jazz duas vezes por semana e pretende nunca mais deixar de dançar.

Reconexão com o mundo da dança na vida nova após os 40 anos

A servidora pública Luciana Guidarini Bohn, 44, começou a dançar com 10 anos por incentivo da sua irmã, que já dançava. Nessa época, ela fez aulas de ballet clássico e jazz. De lá para cá foram muitas idas e vindas no mundo da dança.

Luciana conta que ficou 15 anos sem dançar, de 1996 a 2011, tempo em que se dedicou à carreira profissional. Depois conseguiu voltar a dançar por quase dois anos e, em seguida, ficou mais nove anos afastada da dança, de 2012 a 2021, para se dedicar aos filhos e à família. Mas assim que pôde, o amor pela dança falou mais alto. “Quis voltar a dançar para poder me reconectar com aquilo que me faz sentir inteira e para fazer uma atividade que me deixa feliz”, destaca.

Segundo ela, a dança é um reencontro com a sua essência, um olhar para dentro, um sentir-se presente e por inteiro. “Muito mais do que um exercício físico, é quase uma terapia. É o contato com a arte, a música, a calma e a concentração”, explica.

Luciana dançou no Shapanã, coordenado por Ildo Rodrigues, destacado grupo que era voltado para dança moderna e contemporânea. Ela e o grupo participaram de inúmeros festivais nacionais e internacionais de dança, obtendo alguns prêmios, como no XI Festival de Dança de Joinville, em que conquistaram o 3º lugar, e no VII Festival de Dança do Triângulo, em Uberaba, em Minas Gerais, ocasião em que conquistaram o 2º lugar. Alguns anos depois, Luciana integrou o grupo Estúdio B, das professoras Mônica e Bila Coimbra. Com esse grupo voltou ao XIV Festival de Dança de Joinville, na categoria ballet clássico. Contudo, apesar das diversas apresentações, não chegou a dançar profissionalmente.

A advogada conta que foi um desafio e uma realização voltar a dançar depois de tantos anos longe do palco. “É um misto de adrenalina e muita alegria”, revela. “Apesar de não conseguir me dedicar tantas horas às aulas de dança como nos primeiros anos devido à rotina mais corrida, sinto-me feliz, pois posso dizer que mantive o conhecimento técnico, a suavidade, a expressividade e, principalmente, o orgulho e a alegria em ser uma bailarina”, comemora.

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