Crise entre Planalto e Câmara escancara em “on” o que se diz em “off”

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“Nós temos pendências orçamentárias, emendas parlamentares impositivas que o Governo se recusa a liberar, a pagar. Essa é uma obrigação do governo. Não é favor nenhum que o governo vai fazer a esta Casa. Porque todos nós desejamos que elas sejam liberadas”.

A declaração acima é do deputado José Rocha (União-BA), em discurso no plenário da Câmara, no dia da votação e aprovação da medida provisória que reestrutura os ministérios do governo Lula, na última quarta-feira.

Rocha é um dos vice-líderes do grande bloco do qual seu partido faz parte e expressou em “on” – abertamente e em alto e bom som – um tipo de afirmação que só se diz em “off” – em pequenas rodas e sob pedido de anonimato.

Deputado José Rocha

O racha exposto entre governo e Câmara com a votação dessa MP gerou esse comportamento. É o descontentamento, justo ou não, de parlamentares com o governo, em especial por não liberação dessas emendas parlamentares, que são recursos destinados às suas bases eleitorais.

O governo conseguiu aprovar o texto após muitas reuniões, discussões e pesados bate-bocas entre os dois lados. Na residência do presidente Arthur Lira (PP-AL) o clima ficou muito acirrado, com palavrões disparados no recinto.

Outro “off” que virou “on” desse embate apareceu no discurso do líder do União Brasil, Elmar Nascimento (BA), momentos antes da votação. Ele recomendou o voto a favor de Lula, mas não sem antes dizer que os debates foram “lavagem de roupa suja” e ainda citou e comprometeu um ministro de Lula, Alexandre Padilha, das Relações Institucionais.

“Os recados (ao governo) vêm sendo dado dia após dia, matéria após matéria…Ficamos ontem até meia-noite fazendo uma lavagem de roupa suja…Estive depois com o ministro Padilha, do Governo, que me disse: ‘Não gostei da condução do Celso naquele projeto’” – discursou Elmar.

Deputado Elmar Nascimento

Pelo lado do governo também apareceram essas falas até então “inconfessáveis” e não ditas assim, dessa maneira, em público. Alvo de críticas durante as negociações, o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), fez uma espécie de desabafo já na madrugada de quarta para quinta-feira e afirmou que o processo foi “doído e doloroso” para ele. E, num arroubo de “sincericídio”, criticou os ministros do governo que dão “chá de cadeira” nos deputados do Centrão.

“Quero elogiar os que deram crédito ao governo,  mesmo com as extremas dificuldades que vivenciamos nesses últimos períodos, com demandas não atendidas, muitas vezes, com chás de cadeira que muitos ministros dão aos senhores parlamentares, com aquilo que não foi encaminhado” – disse Guimarães.

Deputado José Guimarães

O líder do PT na Câmara, Zeca Dirceu (PR), para obter os votos necessários ao governo, também reconheceu que o tratamento dispensado ao parlamentares queixosos, em sua maioria do Centrão, não tem sido o ideal. Ele repetiu uma expressão muito usada pelos descontentes de que essa votação seria o “último gesto” desse segmento político ao governo Lula.

“O governo está com decisões acertadas, só que não dá velocidade, amplitude e previsibilidade. As pessoas têm que saber. ‘Esta semana vai acontecer isso. Isso não vai acontecer hoje, mas vai acontecer daqui a 30 dias’. E, quando chega 30 dias, tem que acontecer. Isso não está sendo uma constante” – disse o próprio líder do governo.

Deputado Zeca Dirceu

Entre os deputados, teve quem recebeu emendas e não votou no governo e quem não obteve qualquer benesse e, mesmo assim, foi a favor da ampliação dos ministérios feita por Lula. Neste segundo caso, está toda a bancada O PSol.

“Parece que a política que predomina no Brasil é a do toma lá, dá cá. É a do voto na matéria ‘a’, ‘b’ ou ‘c’ se seu ganhar cargo ou emenda ‘x’, ‘y’ ou ‘z’. O PSOL vota dentro do espírito republicano, pelo óbvio, por convicção. Não pedimos cargos, nem emendas, nem nada que atravesse o essencial na decisão política, que é a crença nela” – disse Chico Alencar (PSol-RJ).

Um caso de deputado que recebeu recursos federais e, nem por isso, votou com o governo na relevante medida para o Planalto foi o de Miguel Lombardi (PL-SP), da oposição. No microfone, revelou ter recebido alguns milhões em emendas.

“Todas minhas emendas foram empenhadas, senhor presidente. É com uma alegria muito grande que venho informar que todas as minhas emendas direcionadas à área social foram empenhadas, R$ 7,5 milhões” – disse.

Deputado Miguel Lombardi

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