Cavalhada, império na casa do festeiro e até liberação de um preso: veja tradições da Festa do Divino de Mogi que foram perdidas

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Evento começa nesta quinta-feira (18) e, além de toda a programação religiosa, os moradores do Alto Tietê também poderão participar da tradicional quermesse, que estava suspensa há três anos por conta da pandemia de Covid-19. Festa do Divino Espírito Santo em Mogi das Cruzes, em 1936
Arquivo pessoal
A Festa do Divino Espírito Santo de Mogi das Cruzes começa nesta quinta-feira (18) e, além de toda a programação religiosa, os moradores do Alto Tietê também poderão participar da tradicional quermesse, que estava suspensa há três anos por conta da pandemia da Covid-19.
Entrando no clima de celebração, o g1 conversou com um historiador e um ex-festeiro e resolveu listar algumas tradições da Festa do Divino que foram perdidas ao longo do tempo.
Cavalhada
A cavalhada é uma encenação das lutas medievais entre cristãos e mouros na Península Ibérica. A encenação é feita com espadas – que podem ser espadas sem o fio de corte ou pedaços de pau.
Segundo o historiador Glauco Riccieli, a tradição começou começou a perder forças em 1939 e, em 1942, a Festa do Divino já não contava mais com a apresentação.
Entrada dos Palmitos na Festa do Divino
Um vídeo que mostra parte da cavalhada foi feito pela comitiva de Mário de Andrade em 1936 (assista acima). O autor de Macunaíba visitou a cidade para acompanhar o cortejo para sua pesquisa sobre a cultura popular brasileira e estava acompanhado do historiador Lévi-Strauss e sua esposa Dina.
Com o objetivo de retomar a tradição na cidade, os ex-festeiros, professores e irmãos Josemir Ferraz Campos e Jurandyr Ferraz de Campos organizaram de cavalhada em Mogi das Cruzes em 2002. Essa foi a última vez que a apresentação aconteceu na cidade.
Última vez que Mogi das Cruzes recebeu uma apresentação de cavalhada, em 2002
Josemir Ferraz Campos/Arquivo pessoal
Foguetes e rojões
Os fogos e rojões serviam para alertar o início das atividades da festa, sempre às 12h. Missas, rezas, levantamento de mastro e até abertura de império eram anunciados pelos fogos.
O sêo Heitor era responsável por fazer o lançamento dos rojões, todos de vareta – que mediam cerca de 1,60 m. Heitor foi homenageado no cartaz da Festa do Divino em 1996.
Sêo Heitor foi homenageado em um cartaz da Festa do Divino, em 1996
Josemir Ferraz Campos/Arquivo pessoal
Império na casa do festeiro
Riccieli conta que, por volta dos anos 20, os festeiros eram responsáveis por toda a confecção e armazenagem dos doces – como o doce era enlatado, o preparo podia ser feito de quatro a seis meses antes da festa.
Além disso, o primeiro cômodo da casa dos festeiros virava o Império e ficava aberto à população. O local fechava à noite, mas no horário da alvorada já abria para visitação.
Nos anos 70, o Império foi transferido para as praças. Já na festa de 2003 foi construída uma casa, que é usada até hoje.
Liberação de um preso
O historiador relata que a prática era muito comum no Brasil Império e, com a chegada da República, perdeu grande parte da influência. “A ação era destinada aos presos que estavam quase cumprindo a pena. Faltando meses para o término da pena, ele poderia ser liberado”, diz.
Riccieli afirma que a tradição era muito simbólica e era tratada como “justiça divina”. Entretanto, a decisão era tomada em conjunto. Tipo de crime, o tempo da pena, tudo era avaliado entre a Justiça e a organização da Festa do Divino.
Além da liberação, os devotos do Divino também levavam mantimentos para os presos da cadeia de Mogi das Cruzes.
Festeiros, capitães-de-mastro e devotos do Divino levando mantimentos na cadeia de Mogi das Cruzes, na década de 30
Glauco Riccieli/Arquivo pessoal
Origem do nome ‘Entrada dos Palmitos’
O nome é uma das curiosidades do cortejo composto por carros-de-boi, cavaleiros, charretes e devotos. A referência ao palmito é porque antes ele era abundante na Mata Atlântica presente na cidade. A tradição durou até o início da década de 90. A mudança aconteceu por conta da questão ecológica.
Cidade costumava ser enfeitada com palmeiras de palmitos durante a Festa do Divino
Josemir Ferraz Campos/Arquivo pessoal
Entretanto, o palmito ainda faz parte da celebração. “O cortejo traz o carro com as mudas de palmito que são distribuídas à população, para que as pessoas possam plantar”, explica Josemir Ferraz Campos.
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