Quem foi o primeiro suspeito de matar criança de 8 anos no Recife em 1970; ‘Menina Sem Nome’ não foi identificada até hoje

O caso da criança encontrada morta na Praia do Pina intrigou funcionários do IML, pois o corpo ficou no necrotério por 11 dias e nenhum parente foi fazer o reconhecimento. Arlindo José da Silva foi o primeiro suspeito da morte da ‘Menina Sem Nome’ preso pela polícia
Arquivo Público de Pernambuco/Divulgação
O assassinato da “Menina Sem Nome”, ocorrido em 22 de junho de 1970, não ficou impune. O primeiro suspeito preso durante a investigação desse caso foi um homem que vendia cocos em uma barraca na Praia do Pina, na Zona Sul do Recife, onde o corpo da criança de 8 anos foi encontrado na areia.
[Nesta semana, o g1 publica a série especial “Menina Sem Nome”, junto com a TV Globo. Até sexta-feira (9), reportagens sobre o caso relembram detalhes do crime e trazem informações inéditas.]
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O barraqueiro Arlindo José da Silva foi preso na mesma semana em que o cadáver da criança foi encontrado na praia. O caso da “Menina Sem Nome” recebeu ampla cobertura nos principais jornais que circulavam em Pernambuco na época.
“Não havia ainda prova concreta contra Arlindo, mas havia indícios contra ele: atrás da barraca havia sido cavado um buraco, ao redor do qual foi encontrado um par de sandálias e um cinturão. Ele ficava nervoso quando falavam na morte da menina, chegando a gaguejar”, informou o “Diário da Noite” na edição de 26 de junho de 1970.
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Após ser preso, o suspeito foi levado à Delegacia de Homicídios, encarregada da investigação do caso.
No local, ele foi questionado sobre a calça comprida que vestia na noite do crime e relatou que levou para uma lavadeira no bairro do Bode, vizinho ao Pina, na Zona Sul do Recife.
À polícia, essa lavadeira contou que a calça estava suja de sangue e que Arlindo Silva pediu pressa na lavagem. A calça foi recolhida e levada para o Instituto de Polícia Técnica para exame.
No mesmo local, os peritos analisavam o lenço, os chinelos, a blusa e o cinto encontrados em uma área próxima de onde estava o corpo da criança. O agente de polícia que prendeu Arlindo Silva declarou que, no momento da prisão, o suspeito estava sem cinto.
“Arlindo Silva permanece recolhido ao xadrez da Secretaria da Segurança, negando terminantemente ser o autor do crime, inclusive afirmando que não reside nesta capital. O delegado de homicídios, Sr. Artur de Freitas, não permite que o suspeito seja fotografado enquanto não fica provada sua participação no assassinato”, disse o “Diario de Pernambuco”, em 26 de junho de 1970.
A então Secretaria da Segurança Pública de Pernambuco, atual Secretaria de Defesa Social, tinha pressa para encerrar o caso, com a prisão do culpado. No entanto, depois de uma semana preso, e com o surgimento de um novo suspeito, Arlindo Silva foi libertado.
O que apontou a perícia
O caso da “Menina Sem Nome” intrigou os funcionários do Instituto de Medicina Legal (IML). Eles mantiveram o corpo no necrotério por 11 dias, mas nenhum parente da vítima apareceu para fazer o reconhecimento.
Assim que o corpo chegou ao IML, teve início a perícia tanatoscópica. Os médicos legistas mediram o corpo da menina, que tinha 1,23 centímetros de altura. Na ausência de documentos de identificação, eles estimaram a idade em 8 anos. Também concluíram que ela havia sido brutalmente assassinada entre 20h e 21h do dia 22 de junho de 1970.
Os exames não evidenciaram vestígios de violência sexual. Revelaram que a causa da morte da criança foi “asfixia por estrangulamento e sufocação”.

O assassino usou uma corda para apertar o pescoço da menina, dando três voltas e amarrando com um único nó na nuca da vítima;
A vítima também teve o rosto pressionado contra a areia;
A análise do nariz e de órgãos como laringe, traqueia e pulmão mostrou a presença de areia de praia em todos eles;
No pulmão, não foi detectada a presença de água, o que afastou a hipótese de afogamento.
Na região do pescoço e das costas, havia vários ferimentos produzidos com uma faca, que foram feitos com a menina ainda viva, “para torturar e atemorizar”, de acordo com o laudo tanatoscópico.
Três dias depois, em 26 de junho de 1970, a imprensa informou detalhes de como o corpo da “Menina Sem Nome” foi encontrado.
“O exame cadavérico não constatou que ela tenha sido brutalizada pelo criminoso, mas descobriu vestígios de tentativa de sedução. O corpo da criança estava visivelmente estragado por golpes de faca. Em volta de seu pescoço, foi encontrada uma corda, e os braços estavam amarrados. Estava quase despida, vestindo apenas calça curta de adulto”, disse o “Diario de Pernambuco”.
O laudo também apontou que a criança não teve condições de se defender. Sobre o exame das vísceras, os legistas destacaram que a vítima estava com o “estômago contendo grande quantidade de alimentos, constituídos de farinha de mandioca, feijão, verduras e alimento em conserva, ainda não digeridos”.
Williams Cardoso, morador do Pina, viu o corpo da ‘Menina Sem Nome’ na praia
San Costa/TV Globo
A informação sobre a presença de um alimento em conserva no estômago da criança confirma o testemunho de Williams Cardoso, morador do Pina entrevistado pela TV Globo e pelo g1. Ele, que nasceu e cresceu no bairro, foi atraído pela presença de muita gente na praia quando o corpo foi encontrado.
“Tinha uma lata de sardinha do lado, como se [ela] tivesse comido sardinha, antes do acontecimento. Estava aberta e vazia, ainda melada de óleo”, contou Williams.
No dia 27 de junho de 1970, o “Jornal do Commercio” informou que a polícia havia recebido de uma testemunha do crime a informação de que o suspeito comeu sardinhas perto do local onde o corpo da criança foi encontrado.
[A próxima reportagem da série especial “Menina Sem Nome”, na terça-feira (6), vai mostrar como foi a prisão do segundo suspeito e o que ele disse sobre o crime.]
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