Bruno e Dom: manifestações lembram que a violência ainda é uma ameaça para quem trabalha pela proteção das terras indígenas

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Na Amazônia, há registros de uma série de violências com o alvo em jornalistas. Desde a morte de Dom Phillips e Bruno Pereira, foram 62 ataques. Houve, ainda, 32 tentativas de impedimentos ao trabalho da imprensa e 9 ameaças – 5, de morte. Assassinato de Bruno Pereira e Dom Phillips foi lembrado em manifestação na Praia de Copacabana
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No Rio de Janeiro, a homenagem foi na Praia de Copacabana. Ativistas ambientais e de defesa dos direitos humanos, amigos e parentes de Bruno Pereira e de Dom Phillips pediram empenho para que os crimes não fiquem impunes. A viúva de Dom participou do ato.
“A justiça para o Dom e para o Bruno, na verdade, não é só a justiça que nós, familiares e amigos, queremos; amigos jornalistas. Vai muito além disso. É um recado, para mim, direto para as redes criminosas que atuam impunemente, tanto no Javari quanto em outros territórios. De que não vai ficar tão impune assim mais, porque a sociedade está muito mais alerta. Quanto mais a gente expõe isso, mais importante é a sociedade tomar uma atitude”, diz Alessandra Sampaio, viúva de Dom Phillips.
A homenagem a Dom Phillips e Bruno Pereira lembrou que a violência ainda é uma ameaça para quem trabalha pela proteção das terras indígenas.
Em São Paulo, entidades jornalísticas também se reuniram para cobrar agilidade na investigação. O encontro foi na sede do Instituto Vladimir Herzog, que tem uma longa história na defesa dos direitos humanos.
Direitos humanos e da liberdade de imprensa sempre andaram lado a lado na história, e na Amazônia, os Repórteres Sem Fronteiras registraram uma série de violências com o alvo em jornalistas. Desde a morte de Dom Phillips e Bruno Pereira, foram 62 ataques – 40 contra homens, 18 contra mulheres e quatro com a mira em equipes completas em campo e sedes de veículos de comunicação. Houve ainda 32 tentativas de impedimentos do trabalho dos jornalistas e nove ameaças – cinco, de morte.
Bruno Pereira e Dom Phillips: a cronologia do caso, desde o início da viagem
“Existe uma situação de violência sistêmica contra jornalistas e comunicadores que estão denunciando casos de violações socioambientais na região. Estão vulneráveis, estão expostos e que há uma tentativa por parte de diferentes grupos de poder, sejam eles privados ligados a empresas, manifestantes políticos ou mesmo poder público, em silenciar a imprensa, em criar zonas de silêncio. Há um interesse de impedir que haja uma cobertura sobre esses fatos que são fundamentais para a gente fazer o debate público no Brasil sobre a agenda climática”, afirma Artur Romeu, diretor para América Latina da ONG Repórteres Sem Fronteiras.
Números da violência contra a imprensa na Amazônia
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A coordenadora do Centro de Referência Legal da ONG Artigo 19 criticou a falta de ação do governo brasileiro em cumprir um compromisso firmado em 2022 com a Comissão Interamericana de Direitos Humanos para garantir a proteção de pessoas ameaçadas no Vale do Javari.
“Existem 11 pessoas ameaçadas, 11 pessoas com grande visibilidade que continuam na luta por direitos no Vale do Javari e o Brasil sequer diz à Comissão Interamericana o que tem feito. A resposta do Brasil tem sido só a de pedir sucessivos pedidos de extensão de prazo”, diz Raquel da Cruz Lima.
Em Londres, a morte dos ambientalistas também foi lembrada. A irmã de Dom Philipps cobrou justiça.
“Meu irmão é um protagonista de mudanças; Bruno era um promotor de mudanças. O mundo tem que responsabilizar pelo que ocorreu com Dom e Bruno. Esse evento levanta o alerta neste país sobre o que ocorreu, sobre Amazônia, pela necessidade de soluções para proteger a Amazônia”, diz Sian Phillips.
A Funai declarou que tem somado esforços com os órgãos ambientais e de segurança pública para assegurar a proteção territorial e coibir as ameaças aos indígenas na região.
O Ministério da Justiça afirmou que tem trabalhado para o fortalecimento de ações integradas de repressão e prevenção no Vale do Javari; que mandou instalar uma base flutuante permanente da polícia; e que, desde a chegada de agentes da Força Nacional, não houve registro de ataques contra indígenas e servidores.
O Jornal Nacional procurou o governo federal para tratar dos números de violência contra jornalistas, mas não teve resposta.
Está disponível, no Globoplay, o documentário “Vale dos isolados: o assassinato de Bruno e Dom”. A produção do jornalismo da Globo acompanhou um grupo que encontrou o celular de trabalho, documentos pessoais e anotações de Bruno Pereira. O documentário mostra os últimos passos do indigenista e do jornalista inglês, e o trabalho deles com os povos originários.
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