Brasil e Itália: sinal verde para uma parceria estratégica

brasil-e-italia:-sinal-verde-para-uma-parceria-estrategica

O verde comum às bandeiras brasileiras e italianas poderá assumir um protagonismo ainda maior num futuro imediato.  A “Terra Azul”, testemunhada pela primeira vez por Yuri Gagarin, precisa – com urgência – cuidar do meio ambiente e se tornar mais sustentável.

As provas da crise climática instalada são irrefutáveis: houve aumento da temperatura terrestre, das secas, enchentes e inundações severas, queimadas e as tempestades se tornaram cada vez mais frequentes. Como disse o secretário-geral da ONU, António Guterres, durante a Conferência das Partes sobre Mudança do Clima (COP 26), “é hora de entrarmos em estado de emergência — senão a nossa chance zerar emissões líquidas se tornará, de fato, zero”.

Recentemente, comemorou-se a Festa della Repubblica Italiana (celebrada no dia 2 de junho). É pertinente trazer à baila a importante discussão sobre o papel que ambos os países podem e devem desempenhar para a descarbonização global e, consequentemente, para a construção de um futuro mais sustentável para todos.

As alternativas ao consumo de combustíveis fósseis e a transição da economia para um estágio de baixo consumo de carbono são assuntos recorrentes nas discussões entre pessoas mais atentas e comprometidas com a pauta global.

Vivenciamos a nova revolução industrial, alcunhada de indústria 4.0. Nesse contexto, não só as relações comerciais e pessoais ultrapassam os limites geográficos, mas também as trocas decorrentes das importações e exportações fazem a rota por vários modais e numa frequência maior. O século 21 exige mudanças na forma como produzimos e consumimos energia, de modo que o hidrogênio verde (H2V) se torna uma fonte alternativa de energia interessante nesse processo.

O H2V é essencial para a substituição dos combustíveis fósseis e uma opção para que as economias globais possam ser descarbonizadas em setores tradicionais como os de transportes marítimos e aéreos, siderúrgico, químico e petroquímico, agroindustrial, entre outros.

E o Brasil tem potencial para se tornar um dos grandes produtores mundiais devido às condições climáticas únicas (qualidade e quantidade de sol e vento), matriz energética majoritariamente renovável e de baixo custo, disponibilidade de água e um alto nível de infraestrutura instalada de portos e logística de transporte.

Além disso, o Brasil possui alta produção científica e capacidade técnica inovadora, elementos igualmente fundamentais para esse novo desafio global: o da transição energética.

Para se ter uma ideia, o estudo recente “Building the Green Hydrogen Economy do Boston Consulting Group (BCG)” revelou que a demanda de hidrogênio verde deve saltar das 94 milhões de toneladas em 2021 para algo entre 340 e 530 milhões de toneladas por ano até 2050.

Hoje, a Itália, assim como boa parte da Europa, vê sua demanda por energia aumentar a cada ano e, ao mesmo tempo, as metas de redução de emissões de carbono endurecem. Não há saída que não utilizar fontes renováveis.

A Comissão Europeia vem organizando uma estrutura regulatória da União Europeia para estabelecer um mercado de hidrogênio verde. A UE pretende atingir 10 milhões de toneladas de produção doméstica de hidrogênio renovável e 10 milhões de toneladas de hidrogênio renovável importado até 2030.

Aqui no Brasil, já é possível afirmar que o mercado está em pleno vapor. Se, por um lado, as universidades já desenvolvem projetos-piloto de produção e aplicação, o setor privado já anuncia grandes produções e o setor público avança em estudos para certificação e regulação. O Plano Nacional de Hidrogênio contemplou, recentemente, um espaço relevante para o verde. Alguns especialistas já dizem que é a peça que faltava para a reindustrialização do país.

O webinar “Desenvolvimento da cadeia de valor do hidrogênio e oportunidades de cooperação Brasil-Itália”, realizado pela Embaixada do Brasil em Roma e pela Fundação Getulio Vargas (FGV Europe) no último mês, mostra que a República Italiana está atenta à inovação e às oportunidades de parcerias frutíferas com o Brasil.

Ainda que a Itália seja uma das líderes mundiais em patentes para a transição energética, ao que tudo indica, nossos cari fratelli ainda esbarram numa preferência a curto prazo na produção do hidrogênio azul – haja vista as recentes discussões entre os diversos grupos políticos nesse sentido –, fazendo necessário o debate efetivo na defesa do verde.

Nesse aspecto o Brasil poderá ser muito útil, considerando que, além de a questão já ser debatida seriamente, haja vista a implementação da Comissão Especial para Debate de Políticas Públicas sobre Hidrogênio Verde (CEHV), já se identificam movimentações bastante avançadas no setor privado.

Para além dos ganhos econômicos e ambientais, a parceria entre Brasil e Itália pode proporcionar um incremento nas pesquisas acadêmicas e científicas de ambos os países, com reflexos nas mais variadas áreas, inclusive na jurídica, cuja relação é umbilicalmente antiga. As duas nações, por vocação, devem manter o caminho próximo, estendendo a cor comum das respectivas bandeiras nacionais à garantia de um futuro melhor.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.