Varejistas expostas ao “risco Argentina”: quais os impactos para os seus números?

Enquanto há notícias de várias multinacionais deixando a Argentina em meio à crise econômica persistente – o Itaú (ITUB4) inclusive manifestou nesta semana que negocia a venda de suas operações – outras empresas seguem com forte exposição no país.

O Morgan Stanley destacou algumas varejistas listadas no Brasil ou que também possuem forte exposição ao mercado doméstico e como isso impacta seus números.

A equipe econômica do banco espera uma recessão na Argentina este ano (-3,6% de crescimento do PIB), e a inflação prevista provavelmente atingindo cerca de 160% até o final do ano (acelerando de por volta de 95% em 2022).

Em meio a controles cambiais em andamento, o efeito da seca nos fluxos cambiais provavelmente pressionará o gap cambial (entre as taxas oficiais e não oficiais), o que influencia as expectativas de inflação. O banco vê um spread de cerca de 100% entre a taxa de câmbio oficial de cerca de 240 pesos argentinos (ARS) por dólar e a taxa não oficial de cerca de 500.

No acumulado do ano, o câmbio oficial está depreciado em cerca de 26% (de 177 ARS por dólar em 31 de dezembro), e o câmbio não oficial em cerca de 30% (de cerca de 350 ARS por dólar em 31 de dezembro).

Antes das eleições no final do ano, os economistas do Morgan Stanley esperam um aprofundamento da utilização  no país de ferramentas pouco ortodoxas, como incentivos cambiais e restrições de importação/capital. No entanto, essas ferramentas podem ter um impacto negativo sobre o crescimento e a inflação.

Uma das empresas que chama atenção nesse cenário é a de e-commerce Mercado Livre (MELI34). Os analistas do Morgan Stanley veem, apesar da crise, as operações da Argentina como fundamentalmente resilientes, conseguindo repassar o impacto cambial aos preços tanto nos segmentos de comércio quanto de fintech.

Dentro do e-commerce, os vendedores do marketplace (3P) podem repassar preços mais altos em mercadorias listadas e o modelo de receita da companhia é uma taxa de serviço (take rate) sobre o valor bruto da mercadoria (GMV).

“As operações de e-commerce da Argentina podem enfrentar a destruição da demanda por adversidades macro e restrições de importação podem pesar nas disponibilidades de certos produtos. No entanto, o Mercado Livre e a indústria de comércio eletrônico da Argentina em geral têm uma histórico de crescimento, mesmo em recessões econômicas.”, avaliam os analistas.

Além do repasse de preços (apoiando o crescimento GMV descontado o câmbio), os analistas notam que as unidades vendidas na Argentina cresceram 7% em 2022 (apesar dos esforços para diminuir a ênfase em produtos não lucrativos) e com uma taxa de crescimento anual composto (CAGR) de 36% entre 2019 e 2022.

Os analistas acreditam ainda que os desafios macroeconômicos contribuíram para a saída de concorrentes do país (como a Shopee em 2022), fortalecendo a liderança de mercado do Mercado Livre.

Do lado da fintech, veem o negócio de processamento do Mercado Livre da mesma forma em termos de repasse de inflação, ganhando uma taxa sobre os volumes de pagamento. “Vemos também o cenário de alta inflação valorizando a carteira da ferramenta Mercado Pago — que já ganhou escala na Argentina — incluindo o valor de produtos de gestão de ativos, que fornecem juros sobre saldos”, avaliam.

O banco vê ainda que a Argentina deve diminuir a sua participação na receita do Mercado Livre. Em 2022, a Argentina representou por 24% da receita da empresa e 45% como contribuição do lucro (Ebit, ou lucro antes de juros e impostos, excluindo despesas corporativas). A Argentina é o mercado mais maduro da companhia, resultando em margens mais altas (e menor intensidade de investimentos) do que Brasil, México e o grupo de “outros países” do MELI.

Daqui para frente, contudo, a equipe de análise do banco prevê que países ex-Argentina liderem em ganhos incrementais de margem de contribuição, enquanto a depreciação do câmbio (a taxas futuras) provoca diluição para a contribuição em dólares.  “Assim, até 2027, vemos a Argentina respondendo por um nível significativamente mais modesto de 15% do lucro”.

Além disso, embora as exposições sejam menores do que o Mercado Livre, os analistas destacam ainda a chilena Cencosud e a brasileira Natura (NTCO3) como empresas expostas à Argentina dentro de sua cobertura. Para a Cencosud, a Argentina respondeu por 19% da receita do grupo em 2022, ou 13% do Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) consolidado.

Para Natura, a Argentina respondeu por 8% da receita do grupo em 2022, ou cerca de 9% excluindo a Aesop. A Natura não divulga o impacto do IAS 29 (norma que define a contabilização em economias hiperinflacionárias) nos resultados operacionais, enquanto eles relatam um impacto no resultado financeiro líquido, de cerca de R$ 190 milhões negativos em 2022 e de R$ 30 milhões negativos em 2021.

O banco tem recomendação overweight (exposição acima da média do mercado) para as ações do Mercado Livre negociadas na Nasdaq, com preço-alvo de US$ 1.770, ou um potencial de valorização de 47% em relação ao fechamento de sexta (9), tendo como uma das preferidas no setor. Já para Natura, a recomendação é equalweight (exposição em linha com a média do mercado), com preço-alvo de R$ 15, 6% abaixo do último fechamento.

 

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