São João na Amazônia: cortejo fluvial atravessa rio com batuque de carimbó e marca a abertura do boi junino que leva 35 mil às ruas de Belém

Arrastão do Pavulagem, patrimônio cultural do Pará, ocorre há 3 décadas e enche as ruas de Belém de colorido e música em cortejos no mês de junho. Conheça a singularidade da festa de boi na Amazônia. Cortejo fluvial marca início da quadra junina do Arrastão do Pavulagem
Arraial do Pavulagem
Na baía do Guajará, que banha a cidade de Belém, um barco navega repleto de cultura popular. Grupos de carimbó, mestres e mestras da música, batuqueiros, curimbós, maracas, banjos. Gente com décadas de história no fazer cultural e crianças que já dançam e tocam para levar adiante a tradição ancestral dos povos ribeirinhos. Todos ali reunidos no cortejo fluvial para o ritual de abertura do Arrastão do Pavulagem. Tradição de mais de 30 anos e Patrimônio Cultural do Pará, o evento é central da quadra junina na Amazônia, que traz sotaques muitos próprios na vivência do São João na região Norte do país. O primeiro Arrastão deste ano será no domingo (11).
Abertura do Arraial do Pavulagem arrasta multidão em Belém
A embarcação trouxe a comitiva dos Bois Pavulagem e Malhadinho e os mastros de São João Menino. São dois mastros, um dos homens e outro das mulheres, ambos enfeitados de flores e fitas coloridas. Eles recebem a energia do batuque e da dança do carimbo que acompanha o cortejo fluvial com a apresentação de bandas e mestres ao vivo.
Brincantes amarram fitilhos nos mastros
Arraial do Pavulagem
Os brincantes amarram fitilhos e fazem pedidos, especialmente relacionados a sorte para o amor, já que junho é o mês do santo casamenteiro. O ritual é chamado de “levantação dos mastros”. A viagem sai de um porto localizado na avenida Bernardo Sayão.
Banda Sancari: mestre Lucas Bragança, no meio da foto
Arraial do Pavulagem
“Em todas as festas, profana ou religiosa, tem mastro, porque ele traz a mágica, ele conduz a fé das pessoas. Nós, que somos de Cachoeira do Ararari, no Marajó, uma das festas mais tradicionais com mastro é a festa de São Sebastião. E a gente trouxe essa herança de lá pra cá para Belém e conseguimos fazer o mastro para o arraial popular”, conta mestre Lucas Bragança, do Sancari, tradicional grupo de carimbó com mais de 30 anos de trajetória.
“Todo e qualquer instrumento que a gente usa está ligado à natureza. Você pega o curimbó, é feito de madeira e couro do boi. As maracas vêm de uma árvore, e dentro dela, são miçangas que também vêm de uma outra árvore. Então, a gente está muito ligado à natureza. Essa é nossa maravilha”, diz.
Grupos de carimbó, mestres e mestras da cultura popular se reúnem no cortejo de abertura do Arrastão
Arraial do Pavulagem
Festa na rua
Depois de cerca de duas horas de viagem, o cortejo atraca na Estação das Docas, ponto turístico da cidade. Ali, milhares de pessoas aguardam as comitivas para erguer os mastros na praça Waldemar Henrique, momento que marca oficialmente o início da programação junina promovida pelo Arraial do Pavulagem.
Ronaldo Silva e Júnior Soares em show na praça Waldemar Henrique, no rito de “ergueção dos mastros”
Arraial do Pavulagem
“Pavulagem” é um termo do linguajar local, que significa bonito, pomposo, “que gosta de aparecer”, e o Arraial do Pavulagem é um grupo de música regional do Pará. Além disso, é um instituto cultural criado em 1987 na cidade brasileira de Belém com os músicos Ronaldo Silva, Júnior Soares e Rui Baldez.
O cortejo, então, segue pelas ruas do centro de Belém para o ensaio geral para o primeiro Arrastão, que ocorre neste domingo (11). Neste ano, a programação traz como tema “Arraial por um Mundo de Paz”.
Com características singulares, o boi que conduz a festa arrasta cerca de 35 mil brincantes a cada evento e combina elementos de outros festejos de diversas regiões do Brasil a uma estética amazônica.
Cortejo do Arrastão do Pavulagem, em Belém.
Igor Mota / O Liberal
“Há boi em São Luís do Maranhão, em Parintins, em São Caetano de Oliveira. Pegamos elementos destes bois, nos inspiramos. Trouxemos a caixa de Marabá, as alfaias do Maracatu, trouxemos a caixa de boi de Cachoeira do Arari – um instrumento na origem, feito com couro de sucuri, mas como a gente trabalha com questão do respeito ambiental, a gente substituiu esse couro. Então são vários detalhes que fazem o Arraial ter uma pegada muito singular. Todos os instrumentos são feitos com materiais da floresta, e também há muito traço amazônico na visualidade”, diz Ronaldo Silva.
Os Arrastões do Pavulagem deste ano ocorrem ainda nos dias 18, 25 de junho e 2 de julho. A concentração de brincantes e público começa às 8h, na Praça da República. Em seguida, sairá pela Av. Presidente Vargas até a Praça Waldemar Henrique e entorno, permanecendo até 14h com os shows do Arraial do Pavulagem e artistas colaboradores. O patrocínio é da Equatorial Pará e da Lei Semear.
O trajeto parte da Praça da República e termina na Praça Waldemar Henrique. São esperadas mais de 900 pessoas no Batalhão da Estrela (grupo de brincantes que se apresenta nos cortejos).
Arrastão do Pavulagem em Belém
Brenda Rachit / TV Liberal
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