Em pleno Eixo Monumental, Arena 360 ergue um “empório” ao lado do Mané Garrincha

Em pleno Eixo Monumental, Arena 360 ergue um “empório” ao lado do Mané GarrinchaJorge Eduardo Antunes

Cinco depois de ser concedido pelo Governo do Distrito Federal (GDF) para ser administrado pela então Arena BSB SPE S/A, hoje Arena 360, o Estádio Mané Garrincha vai receber mais uma novidade. E, como sempre, polêmica. Para complementar a desordem urbana que o espaço se transformou, como o GPS Brasília já mostrou em fevereiro deste ano, uma parte do complexo esportivo começou a ganhar paredes e colunas nas proximidades do portão 18.

Trata-se da construção de um “empório”, como definiu a Arena 360. Quem vai ocupar o local é o grupo Costa, dono de cinco atacados no DF e outros nove em cidades goianas. As obras estão a todo vapor. Colunas e estruturas metálicas são visíveis para quem passa. No portão do chamado Edifício 1 – o que dá margem para pensar que outros virão -, o alvará de construção 530/2021 está devidamente afixado, mas sem nome da construtora, apenas o dos autores do projeto e do responsável técnico.

A placa da obra não traz o nome da construtora responsável;
A placa da obra não traz o nome da construtora responsável e atesta que o alvará é de 2021. Foto: Jorge Eduardo Antunes

A sinalização indica o endereço: Setor SRPN. Trata-se do Setor de Recreação Pública Norte, o chamado Boulevard Monumental – que, como foi dito à época da assinatura da concessão, em 26 de julho de 2019, teria a previsão de receber casa noturna, cinema, teatro, restaurantes, academia, quadras esportivas, lojas, clínicas e escritórios. Por meio de concurso público, o o Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) desenvolveu um projeto de requalificação da área. Mas que não vem sendo respeitado, como mostra este caso.

Ao GPS Brasília, a Arena 360 revelou alguns detalhes do que está sendo erguido. “Estamos em obra para a construção de um empório. Será uma loja conceito do grupo Costa próximo a Arena BRB Mané Garrincha”, informou a assessoria da empresa, negando que seria instalado um atacado no local, mas sim “uma loja que se aproxima mais de um empório do que de um mercado especificamente”.

A empresa Costa Multicanal já tem CNPJ para explorar o espaço
A empresa Costa Multicanal já tem CNPJ para explorar o espaço. Foto: Reprodução/Receita Federal

A reportagem tentou contato com o Grupo Costa, mas não conseguiu falar com as áreas responsáveis. O e-mail enviado também não foi respondido até o fechamento desta reportagem, mas o espaço segue aberto para manifestação. Em consulta ao banco de dados da Receita Federal, que é público, encontramos um CNPJ (omitido da imagem acima) já com o endereço da nova filial do grupo.

Instituto de Arquitetos critica abusos Luiz Eduardo Sarmento, presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), Departamento do Distrito Federal, conversou com o GPS Brasília sobre a mudança. Ele fez lembrou que o IAB fez o projeto para a área e não economizou críticas aos desvios de finalidade que vêm ocorrendo no local.

“O Instituto de Arquitetos vê com muita preocupação a não execução das obras conforme o projeto escolhido por meio de concurso público. A execução das edificações, das intervenções urbanas, paisagísticas e edilícias naquele conjunto, por contrato de concessão, foi uma luta da sociedade civil e deve seguir o concurso público realizado, que foi pago, tem projeto executivo e foi colocado como instrumento para não permitir que quem recebesse a concessão fizesse o que bem entendesse em uma área extremamente importante para a metrópole brasiliense, no coração de Brasília, que é um conjunto urbano e arquitetônico patrimônio mundial, nacional e distrital reconhecido”, afirmou.

Sarmento estranha ainda o fato de o projeto vencedor não ter sido executado. “Tem pipocado um monte de intervenções, de edificações que, quando essa concessão acabar, pouco agregam ao patrimônio público do Distrito Federal”, observa.

“Então é fundamental que não se permita qualquer construção naquele espaço, que não siga esse concurso público, que organiza aquele espaço e que permite que o concessionário tenha lucro, mas que principalmente deixe como legado por este usufruto edificações públicas de qualidade, escolhidas por um projeto da forma mais democrática e que o interesse público se sobreponha ao interesse de quem está com a concessão. Essa é a nossa preocupação e não se deve permitir que se construa nada ali que não seja previsto no projeto, que não seja previsto no contrato dessa concessão”, concluiu.

Sem pagamento Concessionária do estádio desde 2019, a Arena 360 ainda não desembolsou valores pela exploração do espaço. O contrato prevê que, a partir de 2026, serão pagos R$ 5,05 milhões anuais, além de 5% do faturamento do complexo, pelos 30 anos seguintes. Mas a empresa privada que administra o bem público conseguiu muitos recursos ao negociar os namimg rights, licenciou painéis digitais em seu entorno e abriu o Mané Mercado, entre outras estratégias, obtendo receitas sem gastos com o contrato – um belo negócio.

A população de Brasília ainda aguarda o cumprimento da promessa feita na assinatura do contrato de concessão, a de “trazer novos 10 milhões de turistas para Brasília”. Também espera as reformas e a revitalização no espaço, incluindo paisagismo e adequações em todo o equipamento. Um mercado, supermercado, atacado ou empório não era exatamente o que se esperava.

 

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