Conheça a história da haitiana que deixou família em busca de oportunidades e ‘refúgio’ no Brasil

Wislyne Floriste se mudou para o Brasil há quase sete anos e enfrentou desafios até se estabelecer em São José do Rio Preto (SP), onde trabalha e mora atualmente ao lado do filho, irmã e sobrinhos. Haitiana Wislyne Floriste migrou em busca de oportunidades e encontrou refúgio em Rio Preto
Arquivo Pessoal
O dia 20 de junho é conhecido como Dia Mundial do Refugiado. No dicionário, o termo remete às pessoas que são obrigadas a deixar a terra natal por motivo de perseguição. Porém, há quem opte por mudar para se refugiar em melhores oportunidades.
No caso da haitiana Wislyne Floriste, há quase sete anos ela perdeu o emprego como enfermeira em uma organização, se mudou para o Brasil e atualmente mora em São José do Rio Preto (SP).
Wislyne Floriste trabalhava como enfermeira no Haiti
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“Depois que eu perdi esse emprego ficou difícil arrumar um serviço. Como o Brasil fez um contrato com o governo do Haiti para liberar vistos, surgiu essa oportunidade e eu tomei essa decisão”, conta Wislyne, que precisou deixar o marido e o filho de 2 anos no Haiti. “Não tinha como a gente vir junto. Tinha que ser uma pessoa e depois os outros poderiam chegar.”
Primeira parada: Roraima
Foram quase 2 mil quilômetros de viagem para que Wislyne desembarcasse na Venezuela e atravessasse a fronteira para o Brasil. Foi em Pacaraima (RR) que ela sofreu os primeiros impactos do idioma e da cultura diferentes.
“É um monte de gente diferente da minha cor, do meu idioma, da minha altura. Fiquei olhando para a placa com muito medo mesmo”, lembra.
Wislyne Floriste trabalhava como enfermeira no Haiti
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“Eu não sabia como falar ‘bom dia’ em português. Não tinha internet e não tinha como pedir a senha do w-fi. Eu cheguei sem visto e minha família estava morrendo de medo, porque não tinha notícia minha. Eu cheguei em um lugar que não sabia nada.”
Mas Wislyne conseguiu pegar um táxi e foi até Boa Vista, onde ficou na casa de uma pessoa que mal conhecia, mas que a ajudou a procurar a Polícia Federal para regularizar a documentação.
Segunda parada: Joinville
Em cerca de um mês os documentos estavam regularizados e Wislyne precisava recomeçar.
A segunda parada da haitiana foi em Joinville (SC), a quase 5 mil quilômetros de Roraima. Ela ficou na casa da única pessoa que conhecia no Brasil: uma amiga.
Mas desta vez o frio foi o maior inimigo, pois Wislyne morava em um país de clima tropical e estava em um estado que é marcado pelas altas temperaturas.
“Eu cheguei tremendo, sem roupa, sem cobertor, sem nada. Eu não tinha nenhuma roupa de frio. Eu chorei de saudade. Fiquei me perguntando o porquê eu vim, pensei em voltar para o meu país. Mas sabia que tinha que lutar, porque tenho um filho.”
Wislyne Floriste ao lado do filho no Haiti e no Brasil
Arquivo Pessoal
Por não falar português e ter dificuldade para conseguir um emprego, a haitiana contou com a ajuda de familiares e amigos durante os primeiros meses no Brasil.
“Liguei para meu irmão que morava nos Estados Unidos e ele me mandou 100 dólares que na época valia R$ 200. Eu estava pensando em voltar para o meu país, mas não tinha o dinheiro da passagem. Minha amiga também não podia mais me manter.”
Wislyne persistiu e foi contratada temporariamente como cuidadora, mas também trabalhou em outros locais. Após dois anos, ela conseguiu juntar a quantia necessária para trazer o filho ao Brasil. Em seguida, a irmã também migrou e elas se mudaram para Rio Preto.
O encontro do ‘refúgio’
Wislyne Floriste com sua família em Rio Preto
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Depois de tantos quilômetros percorridos, foi no interior paulista que Wislyne encontrou refúgio. Atualmente, mora com o filho, irmã e sobrinhos. Também trabalha em uma mercearia, é assistida pela Rede Refúgio e se dedica a ajudar outros haitianos.
“Sempre estou à disposição para ajudar outros haitianos, pois alguém me ajudou. Eu quase fiquei louca. Eu sempre ajudo eles para arrumar serviço e se acolherem aqui.”
Quanto aos sonhos, Wislyne afirma que deseja voltar a atuar como enfermeira e também trazer o marido ao Brasil.
“Não posso reclamar do Brasil. Se estou doente, vou para o hospital de forma gratuita. Meu filho pode estudar sem precisar de dinheiro, precisa só da vontade. Eu gosto muito do Brasil. Só tenho que dizer obrigada.”
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