Decreto de emergência em Pernambuco: ‘Só fazia chorar’, diz mãe de bebê com pneumonia após 21 dias na UTI

Mães de crianças que foram internadas com síndrome respiratória enfrentam dificuldades com superlotação nas UTIs pediátricas. Governo decretou situação de emergência. O Hospital Barão de Lucena é referência no tratamento de crianças e bebês
Reprodução/TV Globo
“Quando minha filha entrou [na UTI], só fazia chorar. Em casa, só fazia chorar. Minha mãe conversava comigo, pegando as coisas dela, cheirava, só chorando. Porque é revoltante demais. Se a gente já sente por pessoas que nem conhece, imagine quando a gente vê que é nosso sangue ali. Horrível”.
Foi assim que a dona de casa Jaqueline Jasmin, de 24 anos, recordou o período de 21 dias que passou com a filha Jasmin Vitória, de 8 meses, na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Pediátrica do Hospital Barão de Lucena, na Zona Oeste do Recife. Ao g1, ela contou que a menina, que segue internada na enfermaria da unidade, também encontrou dificuldades para conseguir um leito.
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Na quarta (21), a governadora de Pernambuco, Raquel Lyra (PSDB), decretou situação de emergência no estado devido à superlotação nas UTIs pediátricas e neonatais. O g1 percorreu unidades de saúde na capital pernambucana e conversou com mães de bebês que foram internados com infecções respiratórias graves.
Com febre alta e baixa saturação de oxigênio, Jasmin, que desenvolveu uma pneumonia após contrair Covid-19, foi levada pela mãe, no dia 27 de maio, à UPA da Imbiribeira, na Zona Sul da cidade. No mesmo dia, a bebê foi encaminhada para o Barão de Lucena. Mas lá, segundo Jaqueline, disseram que não tinha vaga na UTI para ela. A menina passou dois dias na emergência do hospital.
“Na segunda [29 de maio], só fui tomar um banho, e a minha cunhada ligou para mim: ‘Vem pra cá, que o médico disse que vai passar um laudo pra você ir atrás de uma UTI, porque aqui não tem’. Nem pensei duas vezes, me montei em cima da moto, era chuva que Deus mandava, e vim. […] Quando ele me deu o laudo, fui para o Ministério Público. Cheguei lá desesperada”, contou Jaqueline.
“Quando disseram que, para conseguir uma UTI, tinha um prazo de dez dias, me desesperei. Comecei a gritar, pedindo que me ajudassem […]. Me deram água, conversaram comigo, disseram que meu caso era preferência. Meu esposo procurou um amigo, minha mãe tinha proximidade com gente que podia conseguir uma UTI. Resumindo, eu não sei quem conseguiu. Só tenho que agradecer a Deus, porque, às 20h26 da noite, chamaram por Jasmin. Levantei a mão, a médica olhou para mim e disse que conseguiu a [vaga na] UTI para minha filha”, disse a mãe.
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Três dias de espera em estado grave
A trabalhadora autônoma Raiane Silva, de 33 anos, disse que precisou esperar três dias na Policlínica Amauri Coutinho, no bairro da Campina do Barreto, na Zona Norte do Recife, até conseguir uma vaga para o filho Nicolas, de apenas 2 meses, na UTI do Barão de Lucena.
Depois de passar 20 dias no setor de cuidados intensivos, o menino foi encaminhado para a enfermaria na segunda (19).
“A médica de lá [da policlínica] veio ‘bater de frente’ com o médico daqui debaixo [do Barão de Lucena] porque ele disse que não podia ficar, não tinha leito. Mas, quando viu ele [Nicolas], intubou logo”, contou.
Raiane disse que o bebê estava “muito grave”. “Estava muito cansado, muito mole. Foi o bebê mais grave que tinha. E tinha que subir pra UTI urgente. Aí, no outro dia, tiveram que tirar um bebê – que eu não sei se estava bem – para colocar ele”, falou.
Pernambuco decretou situação de emergência
Por causa da superlotação nas UTIs neonatais e pediátricas, a governadora Raquel Lyra (PSDB) decretou situação de emergência em saúde pública. Segundo dados da Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE), 87 crianças e bebês estavam na lista de espera por uma vaga até a noite da quarta (21).
De acordo com o governo, o problema foi provocado pelo aumento do número de casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) no público infantil.
Neste ano, foram registrados mais de 2 mil casos de Srag entre menores de 10 anos, com mais de 30 mortes confirmadas.
A emergência em saúde pública é válida por 90 dias, mas pode ser prorrogada, se for necessário. O decreto foi publicado em edição extra do Diário Oficial, na terça-feira (20), e entrou em vigor imediatamente.
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