Metade dos ministros da Educação no mundo deixa o cargo antes de cumprir 2 anos na função, diz Unesco


Relatório levou em conta os titulares de 211 países, de 2010 a 2023. No Brasil, 14 homens foram chefes do MEC nesse período (quatro só no governo Bolsonaro). Abraham Weintraub foi um dos quatro ministros da Educação no governo Bolsonaro
JN
De janeiro de 2010 a outubro de 2023, 51% dos ministros da Educação de 211 países abandonaram o cargo antes de completarem 2 anos na função. Essa alta rotatividade prejudica a implementação de reformas educacionais e dificulta melhorias nos índices de aprendizagem (leia mais abaixo).
É o que aponta o relatório de Monitoramento Global da Educação, divulgado nesta quinta-feira (31) pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). O levantamento analisou as gestões de 1.412 ministros e concluiu que apenas 1 a cada 5 manteve-se no poder por pelo menos 4 anos.
➡️No Brasil, ao longo desse mesmo período (2010-2023), 14 homens foram titulares do MEC, considerando os 5 mandatos presidenciais (de Lula, Dilma Rousseff, Michel Temer, Jair Bolsonaro e novamente Lula) e incluindo Luiz Cláudio Costa, interino em 2015. A contagem não considera o nome de Carlos Decotelli, que foi nomeado para a pasta em 2020, mas não chegou a tomar posse – o currículo dele continha informações falsas sobre titulações acadêmicas.
Por que a troca frequente de ministros é um problema?
Segundo a Unesco, é possível afirmar que:
diante do alto número de demandas na educação, não há tempo hábil para desenvolver programas de relevância;
quando um líder é sucedido por alguém que tem opiniões divergentes da sua, as iniciativas educacionais podem voltar “à estaca zero” (o ideal seria ter uma política de continuidade, com diálogo e aliança para reformas);
quanto maior a rotatividade ministerial, pior é o desempenho de projetos nacionais na área, de acordo com análise do Banco Mundial em 114 países.
A pesquisa também destaca que apenas 23% dos ministros da Educação que assumiram a função entre 2010 e 2023 tinham alguma experiência prévia relacionada a ensino em escolas.
👩‍🏫Questões de gênero: poucas ministras mulheres
Considerando todas as lideranças políticas na área, as parlamentares mulheres deram maior prioridade aos investimentos em educação, mostra o relatório da Unesco.
Ainda assim, a presença delas continua sendo inferior à deles nos cargos de gestão: entre 2010 e 2013, 23% dos titulares de ministérios da Educação eram do sexo feminino; de 2020 a 2023, 30%. Em outras palavras: no mundo, de cada 10 ministros da Educação, 7 eram homens, mostram os dados referentes ao ano passado.
🔴Programas de formação de gestores escolares são incompletos, diz Unesco
Evidentemente, os ministros não são a única autoridade decisiva para o sucesso das escolas. O relatório da Unesco reforça a importância de um nível hierárquico local: os diretores de cada colégio.
Analisando os programas de formação oferecidos a eles antes de assumirem o cargo ou durante a gestão, nota-se que apenas 20% contemplaram as quatro habilidades essenciais:
definir expectativas (de professores, funcionários e alunos);
focar na aprendizagem dos estudantes;
promover a colaboração entre todos;
desenvolver os recursos humanos (ao proporcionar melhores condições de trabalho na escola).
O estudo considerou o sistema educacional de 92 países. Na metade dos casos analisados, só um dos itens acima é abordado ao formar diretores.
✏️E por que é tão importante que os diretores escolares sejam capacitados?
Nos Estados Unidos, bons líderes escolares foram responsáveis por uma melhoria de 27% no rendimento dos estudantes de seus respectivos colégios. O único fator que produziu mais impacto do que isso foi a formação dos professores, diz a Unesco.
Os gestores podem garantir um ambiente mais saudável a todos, prevenindo práticas de bullying e proporcionando segurança a alunos e funcionários.
Eles são essenciais para a implementação eficaz de reformas na escola.
A Unesco reforça que cabe aos diretores compartilhar a liderança e promover um ambiente colaborativo, em que os docentes tenham autonomia e participação nas decisões.
“Para que um sistema educacional funcione bem, os líderes em diferentes níveis hierárquicos devem trabalhar na mesma direção para alcançar seus objetivos”, diz o documento.
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