Apesar de ressaca com vitória de Trump, Lula adotará pragmatismo na relação com o eleito nos EUA


O ex-presidente Donald Trump (Estados Unidos) e o presidente Lula (Brasil)
Carlos Barria/Reuters e Adriano Machado/Reuters
O governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vai adotar o pragmatismo na relação com Donald Trump, que foi eleito o próximo presidente dos Estados Unidos.
Uma sinalização dessa postura do petista foi o reconhecimento imediato da eleição do candidato republicano, que derrotou a democrata Kamala Harris – a preferida de Lula na disputa.
O reconhecimento, feito logo após as agências norte-americanas cravarem a vitória de Trump, marca, de acordo com um aliado do petista, uma diferença entre a postura de Lula e a do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Em 2020, Bolsonaro demorou mais de um mês, 38 dias, para cumprimentar o democrata Joe Biden pelo resultado eleitoral.
Apesar da agilidade na mensagem de parabéns a Trump, no Palácio do Planalto, a vitória do republicano é vista com pessimismo.
Para o entorno de Lula, a volta de Trump ao poder pode gerar uma nova onda da extrema-direita no mundo.
Relação deve ser pragmática, avaliam fontes
Na semana passada, durante entrevista a um veículo de comunicação francês, Lula fez manifestações favoráveis à candidatura da democrata, inclusive com menções à invasão do Capitólio em 2021 – o que foi considerado um erro por integrantes do governo e diplomatas.
Fontes do Itamaraty leram a declaração de apoio como uma espécie de tentativa de interferência de Lula na eleição de outro país.
Por isso, diplomatas e integrantes do governo afirmam que o pragmatismo deve basear a postura brasileira nas relações com o governo eleito dos EUA.
Para interlocutores de Lula, o pragmatismo também deve ser a postura adotada por Trump, uma vez que um distanciamento dos Estados Unidos do Brasil tende a fortalecer a relação brasileira com a China, o que não interessa aos norte-americanos.
Na economia, protecionismo e dólar preocupam
Do ponto da vista da economia, para o entorno de Lula, o protecionismo pregado por Trump pode trazer problemas para o Brasil, especialmente no que se refere a exportações de commodities.
Outro fonte de preocupação é a valorização do dólar frente ao real, uma vez que isso pode pressionar a inflação.
Para integrantes do governo, essas condições reforçam a necessidade de a equipe econômica tomar uma série de medidas de ajuste fiscal e corte de despesas.
Relevância da pauta ambiental pode diminuir
Outro ponto que gera receio no governo Lula é a questão da pauta ambiental, que não é uma agenda prioritária de Trump.
A percepção é de que o Brasil, como superpotência ambiental, acaba perdendo protagonismo no tema. No próximo ano, haverá a COP 30 em Belém, no Pará, e o governo Lula quer que o evento tenha grande visibilidade internacional.
E, com um ator da grandeza dos Estados Unidos com um presidente que não prioriza o tema, a projeção é de que as discussões sobre o tema perdem um pouco de relevância.
Bolsonaro celebra vitória de Trump
Já no núcleo do ex-presidente Jair Bolsonaro a vitória do republicano foi bastante comemorada. O próprio Bolsonaro se manifestou nesse sentido, ainda na madrugada desta quarta.
Para os bolsonaristas, a vitória de Trump ajuda o movimento da extrema-direita. Eles entendem que a vitória de Bolsonaro em 2018 foi também uma consequência da eleição do republicano em 2016.
No seu governo, Jair Bolsonaro se alinhou à política de Trump em diversas frentes, por exemplo, nas hostilidades contra a China e a resistência à implantação da tecnologia 5G no Brasil.
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