Viúva cobra resposta da polícia para assassinato de político no Crato: ‘crime contra Erasmo e também contra o nosso filho’


Carmem Morais conversou com jornalistas pela primeira vez depois que o marido foi fuzilado em frente à casa em que moravam, no bairro Mirandão, no Crato. Vereador em exercício é morto com tiros de fuzil no Crato, na região Cariri do Ceará.
Há exatos 6 meses, ele chegava de carro com o filho, que tinha ido buscar na escola. Descia do veículo quando uma caminhonete encostou atrás. Dois homens encapuzados surgem e disparam 47 vezes. A vítima só conseguiu desviar do primeiro tiro.
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O garoto, de 12 anos, é autista, tem hipersensibilidade auditiva e medo de estranhos. Quando viu os bandidos, fechou a porta do carro e ficou no banco de trás.
“Ele não esquece a cena. Usa os bonecos de brinquedo e repete o que aconteceu com o pai. Quem matou meu marido sabia que era horário da volta da escola. Eles cometeram um crime contra Erasmo e também contra o nosso filho”, afirma Carmem.
As terapias e a medicação do garoto foram intensificadas. O comportamento do menino ficou agressivo. Por causa do trauma, há risco de que o autismo torne-se mais severo.
Viúva após um casamento de 28 anos, Carmem diz que lida com vários sentimentos ao mesmo tempo: o luto, a preocupação com a saúde do filho e a revolta pela falta de resposta da Polícia.
“Fui à delegacia duas vezes para ser ouvida. Só dizem que as investigações estão sendo feitas. Mas estamos no escuro. Eu acredito que foi um crime político. A não ser que me provem outra questão.”
Erasmo Morais era filiado ao PL e já havia lançado pré-campanha para vereador do Crato, cargo que ocupou no ano passado durante alguns meses, em substituição a um parlamentar que estava afastado.
Foi pouco tempo na Câmara, mas com atuação considerada polêmica, de oposição à gestão do prefeito Zé Ailton Brasil (PT). Antes de ser assassinado, chegou a gravar um vídeo afirmando que “mexia com gente grande”.
Carmem diz que ele nunca falou ter recebido ameaça, mas que, na igreja evangélica que frequentavam, havia pedido orações.
“Pedi para que ele saísse da política. Ele me peguntou se eu não acreditava em Deus.”
Seis meses de um crime sem solução
Vereador é assassinado com tiro de fuzil na cidade do Crato, interior do Ceará
Edson Freitas/TV Verdes Mares
Apesar da repercussão e da suspeita de motivação política, a investigação parece ter perdido força com o passar do tempo.
Nos primeiros dias após o crime, investigadores encontraram o carro supostamente usado no assassinato. Era uma caminhonete, estava toda queimada e fora abandonada na zona rural do Crato. Porém, sequer foi revelado tratar-se ou não do veículo dos executores e se havia nele impressões digitais.
Investigadores também cumpriram busca e apreensão num galpão no bairro Triângulo, em Juazeiro do Norte. Nele, teriam encontrado um aparelho, uma espécie de gravador. Também nunca foi revelado de que forma o objeto ajudaria na investigação e a quem pertencia o imóvel.
Questionada, a Secretaria Estadual da Segurança Pública mandou nota, que reproduzimos abaixo. Coincidentemente, é um texto quase idêntico ao distribuído à imprensa há 6 meses.
“A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) informa que a Polícia Civil do Estado do Ceará (PCCE) segue investigando o homicídio de um homem, de 53 anos, ocorrido em 7 de maio de 2024, na cidade do Crato – Área Integrada de Segurança 19 (AIS 19) do Estado. Diligências e oitivas estão em andamento, visando elucidar o caso. O inquérito, que está sob sigilo, é de responsabilidade da Delegacia Regional do Crato. Outros detalhes são preservados para não comprometer a investigação.
A SSPDS lembra que o homem foi excluído dos quadros da Polícia Militar do Ceará (PMCE), em 1995, por crimes de extorsão e associação criminosa, sendo recolhido posteriormente ao Presídio Militar. A expulsão e o recolhimento constam em edições do Boletim do Comando Geral da PMCE.
Denúncias
A população pode contribuir com as investigações repassando informações que auxiliem os trabalhos policiais. As denúncias podem ser feitas para o número 181, o Disque-Denúncia da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), ou para o (85) 3101-0181, que é o número de WhatsApp, por onde podem ser feitas denúncias via mensagem, áudio, vídeo e fotografia.
As informações também podem ser encaminhadas para o telefone (88) 3102-1285, da Delegacia Regional do Crato. O sigilo e o anonimato são garantidos.”
Na nota, chama atenção a informação de que Erasmo tinha sido policial militar e expulso da corporação após responder a crimes de extorsão e associação criminosa. Parece conter ali uma outra linha de investigação quanto à motivação: em vezes de crime político, poderia ter sido um acerto de contas.
À época do homicídio, autoridades fizeram questão de dizer que estavam empenhadas na investigação. Meio ano depois, ainda não foi apresentada uma resposta clara do que os indícios apontam até agora. Quando questionada, a SSPDS enfatiza o sigilo das investigações.
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