Galípolo pode assumir BC enviando carta ao Congresso sobre estouro da meta de inflação em 2024

O novo presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, pode assumir o cargo no início do ano que vem mandando uma carta ao Congresso explicando por que não foi possível cumprir a meta de inflação em 2024, ainda na gestão de Roberto Campos Neto, cujo mandato termina no fim deste ano.
No comunicado divulgado nesta quarta-feira (6) sobre a decisão de subir a taxa Selic em 0,50 ponto percentual para 11,25%, o Banco Central divulgou também uma tabela com o cenário de referência indicando que o IPCA, índice oficial da inflação, pode fechar o ano em 4,6% neste ano. Se isso ocorrer, a meta de inflação não será cumprida.
A meta de inflação deste ano é de 3%, com uma banda de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Se os limites são estourados, o Banco Central é obrigado a enviar uma carta ao Congresso explicando o descumprimento da meta. Como o teto da meta é de 4,5%, se o IPCA fechar em 4,6% ficará acima do permitido.
Ou seja, Galípolo assumiria tendo de mandar a carta ao Congresso sobre a meta da inflação do último ano do mandato de Roberto Campos Neto. Em 2024, o BC já contava com quatro diretores indicados pelo presidente Lula. A partir do ano que vem, o presidente terá sete diretores do BC escolhidos por ele.
Campos Neto começou o ano confiante de que a inflação ficaria dentro da meta e que o Banco Central poderia reduzir a taxa Selic até quase o final do ano, encerrando 2024 com uma taxa bem abaixo de 10%. Só que o cenário econômico mundial piorou e as crises climáticas foram mais severas, gerando mais inflação no Brasil e um dólar mais alto, obrigando inclusive o BC voltar a subir a taxa.
A Selic estava em 13,75% ao ano em julho do ano passado. Depois, o Banco Central deu início a um ciclo de cortes. Em junho de 2024, o Copom passou a decidir pela estabilidade da taxa, em 10,5% ao ano. Mas, em setembro, o Banco Central anunciou o primeiro aumento de juros neste mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Portanto, a alta desta quarta-feira é a segunda consecutiva, elevando a Selic para 11,25%.
Sem citar o nome de Donald Trump, mas o dos Estados Unidos, o Copom alertou em seu comunicado, após subir a taxa Selic em 0,50 ponto percentual, que o cenário externo permaneceu desafiador diante da conjuntura incerta nos EUA. A nota do BC, depois de sua decisão unânime, diz que “o ambiente externo permanece desafiador, em função, principalmente, da conjuntura econômica incerta nos Estados Unidos, o que suscita maiores dúvidas sobre os ritmos da desaceleração, da desinflação e, consequentemente, sobre a postura do Fed [Banco Central americano]”.
Além disso, também fez alertas para o cenário interno, sobre dúvidas em relação às medidas fiscais que o governo adotará. “O comitê reafirma que uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida, com a apresentação e execução de medidas estruturais para o orçamento fiscal, contribuirá para a ancoragem das expectativas da inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária”.
Ou seja, os próximos passos do Copom vão depender do cenário externo nos Estados Unidos com a eleição de Trump e do cenário interno sobre o pacote fiscal que o governo Lula vai divulgar. Mas com certeza haverá um novo aumento na reunião de dezembro.
– Esta reportagem está em atualização
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