Cores, proteção e devoção: conheça os caboclos e vaqueiros de fitas, personagens do bumba meu boi do MA

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Com suas indumentárias coloridas, bordadas e cheias de significado, os caboclos ou vaqueiros de fita são personagens importantes no auto do bumba meu boi. Caboclos de fita em apresentação no Maranhão
Divulgação/Prefeitura de São Luís
O auto do Bumba meu boi é repleto de personagens que ajudam a contar essa história singular e a traduzir a simbologia da festa que é uma das mais importantes do Maranhão. Em meio as cores e ritmos dos grupos folclóricos, se destacam os caboclos de fita ou vaqueiros de fita, que com suas indumentárias coloridas e cheias de significado, atuam como protetores do boi.
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Os personagens também podem ser conhecidos como “rajados”, tem um significado além das cores marcantes em suas indumentárias e do seu bailado característico, que conta com passos marcados e bem ensaiados. Eles também são essenciais em garantir a proteção ao boi.
Ao g1, Marla Silveira, pesquisadora no programa de pós-graduação em história da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), explica que, nas apresentações, os caboclos de fita estão posicionados sempre nas laterais e ao redor do boi, garantindo a proteção do animal. Eles simbolizam a ‘“cerca” que protege o gado nas fazendas.
“O Bumba meu boi é uma manifestação extremamente complexa, por envolver diferentes elementos e linguagens artísticas. Os vaqueiros ou caboclos de fita, também conhecidos como ‘rajados’, simbolizam a proteção ao boi e ao gado da fazenda”, explica a pesquisadora.
Conheça o caboclo de fita do Bumba meu boi do Maranhão
Chapéu de fita e seus significados
As indumentárias é um dos itens que chamam mais nos caboclos de fitas. Isso porque parte da vestimenta é produzida com grandes bordados feitos à mão, com pedrarias coloridas e que contam com bordados que representam o enredo e personagens da fauna e da flora.
Os personagens ainda contam com grandes chapéus com fitas coloridas, que podem chegar a mais de um metro de comprimento. Ao dançarem no tablado em arraiais e terreiros espalhados pelo Maranhão, a mistura de cores encanta e dá um toque especial ao enredo.
Entretanto, as fitas possuem um significado além de somente levar cores e alegria para quem assiste as apresentações. Os itens representam também os gravetos e pedaços de madeira usados para construir as cercas onde ficam o gado nas fazendas, sendo símbolo de proteção durante o auto.
“No contexto geral do auto, os caboclos de fita ou rajados, simbolizam a cerca que protege o boi e o gado da fazenda. Por isso as fitas, representando gravetos formando a roda, o círculo ao redor do boi, e demais personagens. Dando esse sentido de cercar, diferente de cercar como objeto, estrutura de proteção feita de gravetos e proteção de pau”, reforça a pesquisadora Marla Silveira, ao g1.
Caboclo de fita em apresentação em São Luís
Prefeitura de São Luís
Em média, os chapéus dos caboclos tem mais de 400 fitas, por isso são objetos muito pesados. Os personagens possuem uma vestimenta semelhante aos dos vaqueiros, com indumentárias que contém calça, camisas de manga comprida, ambas de tecidos de cetim com golas e saiotes de veludo.
Marla Silveira explica que há algumas diferenças na figura do caboclo de fita em relação aos sotaques do Bumba meu boi. O formato dos chapéus é um elemento estético que também diferencia cada personagem.
“Enquanto os vaqueiros dançam mais próximo do boi, em alguns sotaques por exemplo como o de zabumba, o de Guimarães e de matraca ou da ilha, os vaqueiros bailam com o miolo do boi, dando vida e coreografando o bailado do boi, em uma encenação que simboliza o tocar o gado, conduzir, proteger como uma ação”, explica.
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O amor pela cultura em meio às fitas
Jornalista Matheus Freitas, que representa o vaqueiro de fita, em apresentação no Boi de Nina Rodrigues
Arquivo pessoal
O ritmo das toadas do Bumba meu boi pulsa forte o peito de quem é apaixonado pela cultura popular maranhense. E esse sentimento é ainda maior em quem dedica parte da sua rotina e participa, todos os anos, como brincante e tem a missão de traduzir, por meio da dança, a história de um povo.
Há seis anos, o jornalista Matheus Freitas, de 25 anos, concilia a rotina puxada de redator com as apresentações em arraiais de todo o Maranhão. À noite, a vestimenta mais despojada usada por ele durante o dia, dá lugar a indumentária colorida do vaqueiro de fitas, personagem que ele representa no Boi de Nina Rodrigues, um dos grupos mais tradicionais do sotaque de Orquestra do Estado.
Ao g1, Matheus Freitas conta que antes de dançar no Nina Rodrigues, chegou a participou, por alguns anos como brincante do Boi de Icatu, cidade natal da família. Ele explica que, alguns anos depois, um trabalho de faculdade focado na rotina dos brincantes de grupos de Bumba meu boi, em especial, do Nina Rodrigues, mudou sua vida e o levou de volta para os arraiais do Maranhão.
“Tínhamos um trabalho de faculdade e a ideia era mostrar, por meio de um reality show, a rotina de quem participa do São João do Maranhão. Eu topei o desafio e participei da temporada junina do Nina Rodrigues em 2018. Era bem puxado, corrido, mas o amor foi tanto pelo vaqueiro de fita que desde então, eu nunca mais deixei o grupo”, conta.
Jornalista dança desde 2018 pelo Boi de Nina Rodrigues
Arquivo pessoal
E mesmo com a rotina puxada entre trabalho e apresentações, o que não faltam são motivos para agradecer. Para Matheus Freitas, a maior recompensa é ter a oportunidade de servir como expoente para a cultura maranhense e inspirar as novas gerações para continuarem a levar as tradições do Maranhão para o mundo.
“É muito gratificante ver os olhares de admiração das pessoas para gente quando a gente chega nos arraiais. Por conta das fitas, muitas pessoas pegam, puxam, mas é uma forma de tentar sentir um pouco dessa energia incrível. Não há nada mais importante do que a gente continuar passando essa cultura de geração para geração e a gente consegue sentir isso com os olhares de encantamento, principalmente das crianças. E só assim, nós vamos conseguir fazer com quem essas tradições continuem com o tempo”, disse.
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