Criadas sozinhas em cativeiro, cobras pítons-reais são muito sociais; entenda

Segundo réptil de estimação mais popular do mundo, a cobra píton-bola, também conhecida como píton-real, sempre é vista como um animal solitário, tanto pelos seus tutores, como por especialistas.

Por não considerá-las sociais, as pessoas “tendem a mantê-las sozinhas ou isoladas”, disse Morgan Skinner, pesquisador da Universidade Wilfrid Laurier, no Canadá, ao The New York Times.

Para surpresa de muita gente (e alegria das pítons), no entanto, em um estudo publicado recentemente na revista Behavioral Ecology and Sociobiology, Skinner e seus colegas mostraram que essas pítons (Python regius) são bem mais gregárias do que se pensava.

A ideia da pesquisa surgiu quando Skinner, então doutorando da Laurier, trabalhava no laboratório de Noam Miller, coautor do artigo e um entusiasta de estudos do comportamento social das cobras.

Enquanto Miller falava em estudos recentes sobre cobras-liga e cascavéis, que têm filhotes vivos e se amontoam durante o inverno, Skinner começou a se questionar como as cobras supostamente não sociais interagiam entre si.

Como são ovíparas e, portanto, não dão à luz filhotes já formados e nem hibernam no inverno, as pítons-bola foram escolhidas como candidatas ideais para um estudo.

Como foi feito o estudo para testar a sociabilidade das pítons?


Pítons-reais socializando durante experimento • Noam Miller e Morgan Skinner/Universidade Wilfrid Laurier

O estudo para investigar se pítons-reais podem ter colegas e formar (literalmente) laços entre si começou em março de 2020, quando Skinner e sua colega Tamara Kumpan, colocaram seis pítons em um espaço amplo por dez dias.

Constituída por machos e fêmeas, a população foi dividida em abrigos de plástico individuais. Logo, a equipe se surpreendeu quando rapidamente as cobras se juntaram em um único abrigo, passando 60% do tempo juntas.

Para eliminar a hipótese de que o tal abrigo tivesse alguma característica atraente para toda a população, os pesquisadores o retiraram. Mas, após uma breve confusão, as cobras escolheram outro “ninho” para se enroscar.

Realizado por mais quatro anos, o experimento repetiu o padrão, mesmo com a troca das pítons. Cinco grupos diferentes de jovens espécimes foram testados com a mesma rotina.

Skinner sempre as perturbava, ora separando-as, colocando-as no meio do espaço de confinamento ou tirando algumas pítons do abrigo comum e colocando-as em outro. Mas elas sempre voltavam a se unir.

Mesmo quando saíam para explorar os arredores, as pítons serpenteavam juntas. Os machos se mostraram mais frequentes em seus passeios ondulatórios do que as fêmeas, mas sempre retornavam.

Importância da avaliação do comportamento social das pítons-bola


Pítons-bola juvenis se enroscando • Noam Miller e Morgan Skinner/Universidade Wilfrid Laurier

Embora o comportamento das P. regius tenha surpreendido Skinner (“não esperava isso de uma cobra que eu não achava que era social”, disse), Miller destaca que todas as espécies que ele já estudou “são muito sociais”.

No entanto, o psicólogo experimental afirma que as pítons se mostraram bem mais sociais do que as cobras-liga, consideradas clichês, pois logo formaram companhias claras para passar o tempo juntas.

Já as pítons-bola jovens não queriam nem saber com quem elas estavam se enrolando. “Elas só queriam ficar juntas o tempo todo em um abrigo”, concluiu Skinner.

Elogiando o experimento, o especialista em comportamento social de répteis na Universidade do Tennessee, Vladimir Dinets, que não participou do estudo, ponderou ao NY Times que o comportamento animal em cativeiro é sempre diferente do natural.

Mas, mesmo reconhecendo que a sociabilidade das pítons seja uma consequência do cativeiro, a equipe argumenta que, como esses répteis fazem refeições substanciais, podem deixar suas tocas comunitárias e voltar quando saciadas.

Dessa forma, alerta Skinner, as pítons-bola criadas como pets podem estar sendo privadas de interações sociais importantes, algo que poderia ser significativo para seu comportamento natural. “Elas gostam de fazer isso”, diz.

“E elas preferem ser sociais quando têm a opção”, complementa Miller.

Este conteúdo foi originalmente publicado em Criadas sozinhas em cativeiro, cobras pítons-reais são muito sociais; entenda no site CNN Brasil.

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