Maria Quitéria, Joana Angélica, Maria Felipa, João das Botas: conheça os heróis da Independência do Brasil na Bahia

Data magna do povo baiano é celebrada neste 2 de Julho. Conheça homens e mulheres que participaram da luta pela independência da Bahia. Cabloco e Cabloca – especial 2 de Julho
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As guerras pela Independência do Brasil na Bahia foram marcadas por intensa participação popular. Negros libertos e escravizados, profissionais liberais, senhores de engenho, ganhadeiras, professores e outros grupos se uniram em prol de um único objetivo: expulsar os portugueses do país e acabar de vez com a exploração lusitana.
Inspirados pelos ideais dos iluministas franceses, que pregavam “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”, eles se articularam para guerrear contra os portugueses. Para historiadores, o movimento representa um momento de transição, quando pessoas comuns começam a participar da vida política de forma mais ampla, o que antes era restrito às classes mais favorecidas.
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Globo Repórter passeia pelos cenários da Independência do Brasil na Bahia
Os combates mobilizaram milhares de moradores de cidades como Cachoeira e São Félix, além da capital baiana. Alguns deles se destacaram e entraram para a história como heróis e heroínas da independência. O g1 reuniu alguns desses nomes – alguns deles, inscritos no livro de aço do Panteão da Pátria, em Brasília, memorial cívico nacional que reúne personalidades que ajudaram a construir a nação brasileira. Confira abaixo.
Joana Angélica
No convento de Nossa Senhora da Conceição da Lapa, onde atualmente fica o bairro de Nazaré, em Salvador, ocorreu uma das mais emblemáticas mortes na luta pela Independência do Brasil na Bahia. Em fevereiro de 1822, a madre superiora do espaço religioso, Joana Angélica, se colocou à frente do templo para impedir a invasão por portugueses e foi morta com um golpe de baioneta. O episódio inflamou ainda mais o povo contra os colonizadores e aumentou o clima de tensão, que culminou com batalhas que viriam a seguir. O nome da Abadessa consta no Panteão da Pátria.
Maria Quitéria
Maria Quitéria foi a primeira mulher a integrar o Exército Brasileiro. Ela fugiu de casa e se fingiu de homem para se alistar e guerrear no recôncavo, sob a alcunha de soldado Medeiros. Não demorou para a farsa ser descoberta, no entanto, ela foi mantida porque era uma das melhores atiradoras da tropa. Por causa dela, a saia foi incorporada ao uniforme oficial e, com água na altura da cintura, comandou um grupo de mulheres na luta contra os portugueses na Barra do Paraguaçu, entre outros confrontos. Além de ter o nome reconhecido no Panteão da Pátria, ela é homenageada com uma estátua no Largo da Soledade, no bairro da Lapinha, em Salvador. O distrito de São José das Itapororocas, em Feira de Santana, mudou de nome para homenagear sua filha ilustre Maria Quitéria.
Maria Felipa
No antigo Arraial da Ponta das baleias, atual município de Itaparica, nasceu Maria Felipa, uma das heroínas das lutas da Independência. Praticamente não há documentos e registros oficiais que comprovem a existência dela, entretanto, Maria Felipa está imortalizada a partir das memórias do povo e teve o nome gravado no Panteão da Pátria. Escravizada liberta, pescadora e marisqueira, comandou dezenas de mulheres, indígenas, negros livres, escravizados e até portugueses que eram a favor do movimento libertário. Junto com o grupo, ela construiu trincheiras, vigiou praias, queimou embarcações e participou de combates contra as tropas lusitanas.
João das Botas
João Francisco de Oliveira, conhecido como João das Botas, também viveu em Itaparica e foi um dos fundadores da Marinha Brasileira. Segundo tenente da Tropa Imperial, João abandonou a armada portuguesa para lutar contra os compatriotas. Experiente, organizou grupos que atuaram nos combates nas águas da baía de Todos-os-Santos. Entre os destaques, estão a batalha do Canal do Funil, quando, em pequenas embarcações, ele atingiu navios portugueses. João também liderou uma tropa que impediu o desembarque de rivais que queriam tomar a Ilha de Itaparica. O reconhecimento por esses feitos está no mar, já que a regata mais famosa de Salvador leva o nome do tenente, e no Panteão da Pátria.
Frei Brayner e os Encourados de Pedrão
Da cidade de Pedrão, no sertão baiano, saiu um dos movimentos populares mais destemidos das lutas da Independência. No final de 1822, 39 soldados voluntários deixaram as famílias para se juntar ao exército libertador. Todos foram recrutados pelo Frei Maria do Sacramento Brayner, religioso que ficou preso em Salvador durante quatro anos por ter participado da revolução pernambucana, e que resolveu permanecer na Bahia para participar das batalhas. Eles foram para o combate vestidos de vaqueiros e ficaram conhecidos como os “Encourados de Pedrão”. Sem treinamento militar, avançaram em cavalaria para a capital e ajudaram a impedir a chegada de armas e alimentos para as tropas portuguesas.
Corneteiro Lopes
O cabo Luiz Lopes era português, mas aderiu às lutas locais e enfrentou os compatriotas. Na decisiva batalha de Pirajá, em Salvador, quando a guerra parecia perdida, o comandante brasileiro Barros Falcão ordenou o recuo das forças nacionais. Era grande a diferença numérica das tropas, mas uma atitude ousada do cabo fez com que o jogo virasse. Em vez de acatar o pedido de recuo, Luiz Lopes soou a corneta para os oficiais avançarem com a cavalaria e degolarem os inimigos. Os invasores pensaram que as tropas brasileiras tivessem ganhado reforço e partiram em retirada, sendo perseguidos pelo exército libertador.
Tambor Soledade
Em Cachoeira, no recôncavo baiano, o soldado Manoel Soledade usava o tambor para alertar as tropas locais sobre a chegada dos inimigos durante as lutas da Independência, por isso, ele ficou conhecido como “Tambor Soledade”. Sem documentos oficiais de nascimento e de morte, diversas versões sobre a vida do soldado são contadas por pesquisadores. Uma delas prevaleceu nas memórias popular: a de que morreu na Praça da Aclamação, atingido por um tiro de canhão disparado de uma embarcação portuguesa. A morte dele inflamou ainda mais as lutas, que se intensificaram de Cachoeira a Salvador, e tiveram fim em 2 de julho de 1823. Homem negro, do povo, Tambor Soledade morreu sem presenciar o triunfo contra as tropas lusitanas.
Cacique Bartolomeu Jacaré
A Casa da Torre Garcia D’ Ávila, em Mata de São João, na Região Metropolitana de Salvador, foi uma importante base de operações das lutas. Além da posição estratégica, o lugar fazia parte do maior latifúndio do país e reunia mais de três mil pessoas, entre negros livres e escravizadas, que se juntaram nos combates contra os portugueses. Em novembro de 1822, um deles ganhou protagonismo por comandar uma tropa formada por indígenas Tapuias do litoral norte: o cacique Bartolomeu Jacaré. Sob a liderança dele, a tropa se destacou pela excelência no uso de arcos e flechas na icônica batalha de Pirajá.
Pedro Labatut
As lutas da Independência do Brasil na Bahia ganharam um novo rumo com a chegada do General Pedro Labatut. Conhecido como “pirata do caribe”, o militar francês integrou o exército de Napoleão Bonaparte e tinha vasta experiência nas guerras da América Espanhola. Ele foi chamado liderar os militares libertadores e trouxe o reforço de 250 soldados, além de 8 mil armas. O general foi decisivo na organização do batalhão de voluntários e comandou a tropa na famosa batalha de Pirajá. Em reconhecimento, foi construído na região dos confrontos um monumento que abriga um busto e também os restos mortais do militar.
Lima e Silva
A principal rua do bairro da Liberdade, em Salvador, recebe o nome de um dos heróis da Independência do Brasil na Bahia. O militar carioca José Joaquim de Lima e Silva assumiu a chefia das tropas seis semanas antes do fim das batalhas, substituindo, o General Labatut, deposto e preso após denúncias de arbitrariedades e consequente revolta de oficiais brasileiros. Lima e Silva reorganizou as tropas e fechou o cerco contra os rivais. Sem ter como receber itens de primeira necessidade, os portugueses se viram obrigados a recuar.
Lord Cochrane
Na baía de Todos-os-Santos, um oficial escocês se destacou como um dos protagonistas das lutas da independência. Com fama de “lobo do mar”, o experiente Lord Crochrane foi contratado para ser o Primeiro Almirante da Marinha Nacional. Ele fez bloqueios marítimos para impedir a chegada de suprimentos para as tropas portuguesas, já cercadas por terra pelo exército libertador, capturou embarcações e fez lusitanos prisioneiros.
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