Por que a fusão entre Embraer e Boeing não deu certo?

A fusão entre Boeing e Embraer seria um dos maiores negócios da história da aviação, mas teve que ser cancelado por vários motivos; entenda o que aconteceu

No ano de 2018, a Boeing e a Embraer divulgaram um plano de fusão que visava unir duas das principais fabricantes de aeronaves do mundo. Esse acordo, estimado em US$ 5,2 bilhões (equivalente a R$ 25,2 bilhões na cotação atual), resultaria na formação de uma nova empresa no setor de aviação comercial, denominada Boeing-Brasil Commercial, sendo que os norte-americanos deteriam 80% do controle e os brasileiros, os 20% restantes.

No entanto, após o período da pandemia de covid-19, a Boeing recuou e cancelou o acordo, alegando inicialmente que a Embraer não havia cumprido completamente as obrigações estabelecidas no contrato. A empresa brasileira, surpreendida com essa decisão, afirmou que tudo estava conforme o combinado e iniciou uma batalha para recuperar parte dos recursos investidos nessa transição, sendo uma grande parte destinada à criação de uma joint-venture no setor de aviação militar, totalizando mais de R$ 450 milhões.

Passados alguns anos, ainda existem vários pontos em discussão que podem explicar esse repentino rompimento por parte da Boeing.

Afinal, por que a fusão entre a Boeing e a Embraer não deu certo?

Oficialmente, a Boeing alegou que o fim do negócio se deu devido a desentendimentos com a Embraer. Em 2020, a gigante norte-americana afirmou que a fabricante brasileira não havia cumprido alguns termos do acordo, o que a levou a cancelar tanto a fusão quanto o Contrato de Transações Mestre (Master Transaction Agreement – MTA). No entanto, as coisas não parecem ser tão simples assim.

Como sabemos, a pandemia de covid-19 impactou significativamente o mercado de aviação comercial, com o cancelamento de muitos pedidos por parte das companhias aéreas junto às fabricantes, além dos prejuízos decorrentes da paralisação de milhares de aeronaves dessas empresas.

A queda abrupta na receita na época pode ter sido o principal fator desse desfecho, o que seria mais compreensível. No entanto, a Boeing enfrentou uma outra crise exclusivamente em seu âmbito durante o mesmo período: a crise do 737 MAX.

Em 2018 e 2019, dois acidentes fatais envolvendo a aeronave de corredor único da Boeing, o 737 MAX, ocorreram. O voo 610, operado pela Lion Air, caiu no mar de Java, no Sul do Oceano Pacífico, logo após a decolagem de Jacarta, na Indonésia, em 29 de outubro de 2018. Um acidente semelhante ocorreu na Etiópia, envolvendo também o 737 MAX 8, resultando na morte de 154 pessoas.

A causa desses acidentes foi atribuída ao sistema MCAS (Maneuvering Characteristics Augmentation System), que tinha como objetivo tornar o Boeing 737 MAX mais estável, mas apresentava falhas de funcionamento. No entanto, em ambas as companhias aéreas, não foi realizado o treinamento adequado para os pilotos, o que resultou nesses acidentes e gerou uma enorme crise para a Boeing, já que as entregas adicionais da aeronave foram interrompidas, resultando em prejuízos bilionários.

No final de 2020, a Boeing registrou um prejuízo líquido de US$ 11,873 bilhões (equivalente a R$ 57 bilhões), enquanto a Embraer, no mesmo período, teve perdas de US$ 1,5 bilhão (R$ 7,2 bilhões).

Considerando o tamanho do prejuízo enfrentado por ambas as empresas, levando em conta a covid-19 e a crise do 737 MAX como pano de fundo, é muito mais plausível que a fusão entre a Boeing e a Embraer não tenha dado certo devido a fatores externos às próprias empresas, em vez de erros de conduta.

Devido à crise, o valor de mercado de ambas as empresas também sofreu alterações, principalmente no caso da Embraer, que é menor. Isso, naturalmente, afetaria o plano inicial de fusão, que havia sido estabelecido em um cenário global diferente.

Especialistas, no entanto, acreditam que a Embraer pode recuperar parte dos recursos investidos por meio de um processo contra a Boeing, podendo chegar a valores de até US$ 100 milhões.

Fonte: Terra

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