Investigações revelam como quadrilhas estão usando o roubo de veículos para lucrar e trocar por armas e drogas

Uma força-tarefa passou a monitorar como as quadrilhas agem. Estruturas foram montadas dentro das favelas, com oficinas de clonagem e bandidos dedicados a encomendar os furtos e roubos, preparar o transporte e negociar com receptadores. Investigações revelam como quadrilhas estão usando o roubo de veículos para lucrar e trocar por armas e drogas
Jornal Nacional / Reprodução
A polícia do Rio encontrou 20 carros roubados em uma única favela. Investigações revelam como quadrilhas estão usando o roubo de veículos para lucrar e trocar por armas e drogas.
Conjunto de favelas da Maré, Zona Norte do Rio. A polícia diz que foi até lá porque quadrilhas usam a região onde vivem 140 mil pessoas como um dos principais esconderijos de carros roubados .
Nesta terça-feira (4), sete bandidos foram presos e 27 veículos recuperados. Pelo menos cinco já clonados. Mas este não é o único lugar, nem o único grupo criminoso envolvido num crime que assombra cada vez mais moradores da cidade.
As investigações mostram que traficantes de facções diferentes e milicianos de várias favelas estão fazendo do roubo de carros mais um negócio lucrativo ou moeda de troca para receber armas e drogas de outras quadrilhas.
Uma força-tarefa passou a monitorar como as quadrilhas pra saber como elas agem. Em outubro de 2022, por exemplo, criminosos roubaram o carro de um casal em uma rua em Ipanema, na Zona Sul do Rio. A reportagem em vídeo mostra como os bandidos fizeram o carro chegar a 2.700 quilômetros dali.
A polícia descobriu que, de Ipanema, o carro foi levado para o morro dos Prazeres, no Centro, onde ficou 7 meses. Nesse período o carro foi clonado.
Os bandidos adulteram o número do chassi na carroceria, nos vidros e no motor. As placas também foram adulteradas. No dia 5 de junho, a quadrilha vendeu o carro para receptadores. O veículo foi para o pátio de uma transportadora.
Dois dias depois, foi colocado em um caminhão cegonha e seguiu viagem. Atravessou 7 estados até chegar na cidade cearense de Sobral, onde desembarcou. Os receptadores levavam o carro até Guaraciaba do Norte – a 2.700 quilômetros do Rio – quando foram presos pela polícia do Ceará, que apoiou a polícia do Rio.
As investigações já identificaram que as quadrilhas montaram estruturas dentro das favelas, com oficinas de clonagem e bandidos dedicados a encomendar os furtos e roubos, preparar o transporte e negociar com receptadores.
Na rede criminosa que se formou, carros são anunciados na internet. Além do Ceará, a investigação descobriu a venda de carros clonados do Rio para a Bahia, Minas Gerais e Goiás. E carros brasileiros também estão atravessando a fronteira em direção ao Paraguai.
“Essas organizações, além de lucrarem recebendo dinheiro por isso, fornecem o próprio veículo pros traficantes que usam ele como moeda de troca por troca de armas, drogas, que vêm muitas vezes de outros estados e de fora do país”, explica o delegado Álvaro de Oliveira Gomes.
Estatísticas mostram que o roubo e veículos no Rio voltou a crescer nos últimos 3 anos. Imagens de um posto de gasolina na Barra da Tijuca, no Rio, mostram a negociação de integrantes de uma quadrilha com receptadores de Minas Gerais que iam levar dois carros de locadoras. Mas os quatro foram presos.
“Esses carros quando são roubados, muitas vezes não é apenas um crime de roubo, mas até de latrocínio. Que a pessoa pode vir a óbito. Então é muito importante que a pessoa cheque de todas a possibilidades pra verificar a real procedência daquele veículo que ele está comercializando ”, explica o delegado.
Teve tiroteio durante a operação para combater o roubo de carros no Rio. Vinte e duas escolas não puderam funcionar, quase 8 mil alunos ficaram sem aulas. Duas clínicas da família tiveram que suspender o atendimento.
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